Plinio Corrêa de Oliveira
Em 1930, prevendo a II Guerra Mundial
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São Paulo, 1930 Meu caro José Pedro1 Foi com grande satisfação que recebi sua carta, portadora de interessantes informações a respeito do ambiente carioca. É efetivamente em D. Leme, que vejo o instrumento mais eficaz da Divina Providência, em todos estes sofrimentos que nos assoberbam. Cada vez mais se acentua em mim a impressão de que estamos no vestíbulo de uma época cheia de sofrimentos e lutas. Por toda a parte, o sofrimento da Igreja se torna mais intenso, e a luta se aproxima mais. Tenho a impressão de que as nuvens do horizonte político estão baixando. Não tarda a tempestade, que deverá ter uma guerra mundial como simples prefácio2. Mas esta guerra espalhará pelo mundo inteiro uma tal confusão, que revoluções surgirão em todos os cantos, e a putrefação do triste “século XX” atingirá seu auge. Aí, então, surgirão as forças do mal que, como os vermes, somente aparecem nos momentos em que a putrefação culmina. Todo o bas-fond [a parte mais baixa] da sociedade subirá à tona, e a Igreja será perseguida por toda a parte. Mas... Petrus, tu es petra et super hanc petram aedificabo Ecclesiam meam, ET PORTAE INFERI NON PRAEVALEBUNT ADVERSUS EAM [Mt 16, 18]. Como consequência, ou teremos un noveau Moyen Age [uma nova Idade Média], como preconizava Berdiaeff, ou teremos o fim do mundo. Que parte terá o Brasil nisto? Que parte teremos nós? Eis questões cuja solução pertence apenas à Divina Providência. No entanto, ao invés de imitarmos os Apóstolos que dormiam no Monte das Oliveiras, enquanto Jesus estava na iminência de ser preso, nós devemos “vigiar e orar”. Eis nossa principal tarefa. Prepararmo-nos para a luta, e preparar a Igreja, como o marinheiro que prepara o navio antes da tempestade. Mas do que valem os poucos católicos que temos, para tudo isto? Recurso ao sobrenatural, eis aí a única salvação. Bem sei que a civilidade impede que se mande uma tal carga de pessimismo a um colega que veraneia no Rio. Mas a História não obedece à civilidade. Por isto, devemos, no prever os acontecimentos, ser oportunos e inoportunos, indiferentemente. (1) José Pedro Galvão de Souza (1912-1992) foi um filósofo do direito e professor universitário brasileiro. Fundou a Faculdade Paulista do Direito, que mais tarde foi incorporada na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, da qual foi Vice-reitor. (2) Os negritos são deste site. Abaixo, fac símile integral dessa histórica missiva
[Segue abaixo missiva do Prof. Plinio agradecendo ao seu destinatário o envio da cópia do documento acima transcrito] São Paulo, 5 de novembro de 1982 Meu caro José Pedro Recebi, sensibilizado, o xerox da carta que lhe escrevi para o Rio, em 1930. A leitura deste texto fez-me recordar as nossas saudosas conversas na biblioteca da Congregação Mariana de Santa Cecília, as quais sempre tenho em mente, como marco inicial de uma ação apostólica que acaba não saindo menos carregada de sofrimentos, do que me parecia em 1930 que encontraríamos. Quanto ao futuro, ainda pende diante de nós... Nossa Senhora da Divina Providência velará pelo êxito da Causa dEla. Agradeço-lhe igualmente a referência à entrevista que dei recentemente à "Folha de S. Paulo”. Alegro-me que ela lhe tenha agradado. Proponho-me ler com interesse o trabalho que você apresentou à Semana francana. A princesa da Beira é uma figura que todos nós homenageamos como muitíssimo respeitável, e sobre a qual me agrada muito ter algum material de leitura. O seu deve ser muito bom. Recebi também o seu Catecismo expositivo “Para conhecer e viver as verdades da Fé” que constitui um belo repositório das principais verdades da nossa Fé, de acordo com as melhores formulações dos Catecismos tradicionais e que muito apreciei. Com cumprimentos à Da. Alexandra, abraça-o cordialmente Plinio |