Plinio Corrêa de Oliveira

 

Carta para Alceu Amoroso Lima,

8 de Janeiro de 1935

 

 

 

 

 

 

 

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São Paulo, 8 de Janeiro de 1935

 

Meu caro Dr. Alceu

Aí vai meu primeiro artigo para a “coluna do Centro”. Procurei fazê-lo dentro das dimensões pedidas. Penso que versa sobre assunto atual.

O Sr. já deve ter tido conhecimento de um projeto de lei apresentado pelo Villasboas, no sentido de ser restaurado nosso intercâmbio com a Rússia.

O que a experiência de todos os países da Europa prova é que o restabelecimento de relações, quer diplomáticas quer simplesmente comerciais com a Rússia é sempre pretexto para se encherem as legações ou consulados russos de propagandistas soviéticos. A Inglaterra chegou a ver-se forçada, certa vez, a romper até as relações com o governo russo por este motivo, só as restabelecendo muito mais tarde. Nos países europeus de regime liberal-democrático, é sempre o elemento socialista que, chegado ao poder, reata as relações com a Rússia, a despeito do invariável e veemente protesto dos elementos que nos são próximos. Nos países de regime ditatorial, as relações são reatadas por motivos comerciais, mas o regime ditatorial permite um policiamento rigoroso de todas as embaixadas, e o emprego de meios particularmente eficientes para a repressão ao comunismo. Por este motivo, nos regimes de força são muito menores os inconvenientes do reatamento.

Quanto ao Brasil, o Sr. bem pode imaginar o resultado do reatamento, em nosso regime hiper liberal, que já permitiu que o Ministério do Trabalho e a Diretoria da Instrução se transformem em reduto inexpugnável de comunistas, por simples moleza ou relaxamento, por imprevidência.

Enfim, o que se passou no Largo da Sé quando do tiroteio contra os integralistas, mostra bem do que são capazes os comunistas, e também do que pode em matéria de ineficiência e estupidez, nossa polícia, que bateu um verdadeiro recorde de incompetência.

Lembro-lhe, ainda, que o nosso reatamento com a Rússia seria um exemplo funesto para todas as republiquetas sul-americanas, e para a própria Argentina. Que poderá advir do reconhecimento do governo russo por uma Bolívia ou um Equador (...)? Se nós encontraríamos dificuldades em resistir, o que dizer de tais países, em que tudo é rudimentar?

Enfim, é absolutamente conveniente que o Sr. procure o José Carlos. Ele, que condecorou o Presidente do México, repare agora a falta, chamando ao seu gabinete o Horácio Lafer (incumbido de dar parecer na Comissão de Relações Exteriores, sobre o projeto) que é do P.C., como ele, e lhe faça ver a imperiosa necessidade de liquidar o projeto Villasboas.

Se o Sr. julgar necessária minha ida ao Rio, mande dizê-lo.

Passando agora a outro tema: já escolheu o título de suas conferências? Queremos ir fazendo barulho quanto antes, para dar à sua vinda a São Paulo as maiores proporções possíveis. Será talvez um suplício para sua modéstia. Mas é preciso que saibamos nos fazer vaiar ou aplaudir, indiferentemente, para a causa da Igreja.

Por outro lado, sua vinda faria refletir melhor todos os voltairezinhos ou leninezinhos do Rio. É um desagravo indispensável.

Recebeu meu telegrama de bom ano novo? Repito agora todos os meus votos de felicidade para si e para os seus, e abraço-o com fraternal amizade

em Nossa Senhora

Plinio

Meu novo endereço: Rua Itacolomy 55. Aí vão também os decretos que o Sr. me pediu.


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