Plinio Corrêa de Oliveira

 

Carta para Alceu Amoroso Lima,

25 de Agosto de 1934

 

 

 

 

 

 

 

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São Paulo, 25 de agosto de 1934

 

Meu querido Dr. Alceu

Respondo à sua carta logo depois de a ter recebido.

Causou-me satisfação verificar que o senhor aprova meu projeto.

No entanto, mais do que nunca, parece-me que nossa atitude será diferente da que posso prever para o momento, uma vez que só Deus sabe as surpresas que o Sampaio Doria saberá aninhar dentro da reforma de que é empresário, pois que ele é perito inexcedivelmente hábil na arte venenosa de confeccionar regulamentos-tocaia.

Data vênia, permito-me divergir de todo em todo da linha de conduta que foi traçada com referência à reforma eleitoral.

Em política, e principalmente na política brasileira, boa vontade é sinônimo de medo. O governo mostra boa vontade conosco porque nos teme. Se não nos temesse, para explicar sua boa vontade para conosco seria necessário supor nele um alto idealismo, que lhe fizesse dar braço forte à Igreja, resistindo e incompatibilizando-se com as inúmeras camarilhas protestantes, maçônicas etc., isto tudo com prejuízo para a estabilidade da situação atualmente dominante.

Isto estabelecido, é preciso concluir que o governo nos teme. E, se ele nos teme, é porque somos fortes.

Isto posto, não me parece prudente (tomada a palavra no sentido de dom do Espírito Santo), para conservar esta boa vontade que é apenas um fruto de nossa força, fingir ignorar a manobra com que se pretende arrancar-nos das mãos a arma que nos torna temíveis.

Não interessa saber qual o objetivo último da reforma a que oras precede. Ela nos prejudica, e a seus autores, técnicos inseparáveis das alquimias eleitorais, não há de ter passado desapercebido este aspecto ou esta consequência das alterações que eles querem fazer no Código Eleitoral.

Na melhor das hipóteses, pois, eles não quisera, esta consequência, mas não se importam de arcar com ela.

Isto posto, pois, acreditarão eles na sinceridade de nosso silêncio e de nossa moderação?

Pelo contrário, acho que devemos promover imediatamente um grande escândalo em torno da medida apresentando-a de acordo com o que realmente é, isto é a lei acelerada da república nova.

Penso, aliás, que, de acordo com o sistema já famoso, e que tão bons resultados surtiu, o fogo deveria ser desencadeado em todo o país pela pequena imprensa católica e pelas juntas de menor importância, bem como pelas associações religiosas em geral.

No Rio, a União, e as associações religiosas poderiam fazer o mesmo, enquanto a Junta Nacional se conservaria numa atitude de serena expectativa em relação à reforma. (...)

Isto feito, de duas uma: ou eles retrocederiam, e nós faríamos cerrar o “vacarme” [a barulheira, n.d.c.] ou eles teriam de antemão decidido a interferência diplomática e cortês da Junta Nacional, ou finalmente nada se faria retroceder, e o caminho estaria simples diante de nós.

O que acha disto?

Quanto à Constituição, a expressão “na forma determinada pela lei” não pode deixar de ser interpretada favoravelmente a nós. Efetivamente, está claro que, se a referência não fosse feita no Código, mas a lei em vigor à data da realização das eleições, estaríamos em presença de uma excrecência absurda, pois que é certo que as eleições, independentemente do preceito constitucional, não se poderiam realizar contra os termos da lei.

Outra questão: o que fazem o Barreto, o Sucupira e outros dos nossos, dando número para o prosseguimento da reforma?

Por que não lhes determinar que se ausentem? (...)

E o caso do Wagner? Mande-me dizer algo a respeito.

Enfim, meu caro Dr. Alceu, a carta já vai longe, e vejo-me forçado a encerrá-la, enviando-lhe um abraço muito afetuoso de seu muito amigo em Nosso Senhor.

Nota: Com receio da insegurança do correio, não assino a carta.


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