Plinio Corrêa de Oliveira
Carta para Alceu Amoroso Lima, 6 de Junho de 1933
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[Os negritos são deste site] São Paulo, 6 de Junho de 1933 Meu querido Dr. Alceu Felizmente que, agora, passado o período de ocupações eleitorais que, por força das circunstâncias, nos absorveram inteiramente, podemos voltar os olhos para a parte mais importante de nossa ação católica, e que é a formação da mocidade masculina. Li nos jornais que o Sr. vai ficar como Presidente interino da A.U.C. [Ação Universitária Católica], postos à margem, “por motivos de moléstia”, o Paulo Sá e o Rubens Porto. É o último termo do desenvolvimento da ação que o Sr. pretendia exercer sobre a A.U.C., e que me referiu em nossa viagem a Petrópolis. Acho brilhantíssima a ideia. No entanto, falta-lhe um complemento: é imprescindível que a A.U.C. seja transformada em “Ação Universitária Mariana”, compreendendo: 1) uma Congregação Mariana de acadêmicos; 2) membros aderentes, que não sejam Congregados. No Rio de Janeiro, parece-me que a falta maior é a de uma mocidade católica aguerrida e numerosa, capaz de secundar em todos os terrenos a ação dos chefes. De um lado, atribuo estas dificuldades ao ambiente nessa “babilônia bela demais”, como o Sr. disse do Rio. Mas é conveniente reconhecer que esta é apenas uma parte, e não a maior, da dificuldade. Outro obstáculo, a meu ver, está no Clero. Soube que, por ocasião do Congresso da Mocidade Católica, realizado em 1928 em São Paulo, o Cardeal Dom Leme, que estava em São Paulo, passou um telegrama ao Rio de Janeiro, ordenando que fossem transformadas em Congregações Marianas todas as associações católicas masculinas das diversas Paróquias da Arquidiocese do Rio. Os resultados estão diante de nossos olhos... Houve, talvez, um pequeno erro de psicologia. A meu ver, será inútil forçar a todos os Srs. Vigários a fundarem Congregações aí. Será necessário fundar uma Congregação exemplar. O exemplo é contagioso, e, aos poucos, espontaneamente, as Congregações irão aparecendo. Foi o que se deu em São Paulo, onde o movimento mariano se iniciou apenas com duas Congregações, a de São Gonçalo e a de Santa Ifigênia. E é necessário que o mesmo se dê no Rio. O Sr. objetará, provavelmente, que a Congregação de Nossa Senhora das Vitórias é florescente, e que seu exemplo a ninguém contagiou. Mas é preciso lembrar-se de que a Congregação de Nossa Senhora das Vitórias é uma coleção de medalhões. Qualquer Congregação em que haja medalhões é uma Congregação-arbusto, isto é, que pode medrar como um arbusto, mas que nunca chegará a ser uma árvore. Em suma, as Congregações Marianas precisam ter à sua testa um Dr. Alceu, mas precisam não ter Condes de C.A., juízes respeitáveis, venerandos magistrados et comitente caterva, que não passam de inúteis relíquias de um passado que não deixa saudades. É preciso que o Rio tenha ao menos uma Congregação de elementos exclusivamente moços, da verdadeira mocidade, que é a do espírito. É preciso que, nesta Congregação, haja um núcleo de espírito realmente eucarístico, de uma devoção real a Nossa Senhora, e de uma dedicação autêntica ao Santo Padre e à Autoridade Eclesiástica. Se se obtiver isto, quase me responsabilizaria pelo futuro do movimento mariano no Rio. Ora, parece-me que a A.U.C., tal qual existe, é incompleta, pois que seu feitio é muito mais de ação do que de piedade. Ela forma culturalmente. Não forma, em geral, espiritualmente. No entanto, ela dispõe de elementos ótimos, e que são matéria prima de ótima qualidade, para a formação de uma Congregação Mariana. Outro problema é o Diretor. Este deverá ser um Sacerdote com todas as disposições de espírito necessárias para formar moços. E o Presidente deveria ser o Sr. Desculpe-me a intromissão. A causa Mariana é a mesma, por toda a parte. Por este motivo, amo-a no Rio, como a amo em São Paulo, ou a amaria em Pequim. O Sr., portanto, não estranhará que venha entretê-lo sobre o que reputo a maior falta da ação católica no Rio... Uma coisa, porém, lhe peço: o Sr. sabe que tenho excelentes relações com o P.S. Tenho elementos para supor que ele não veria com bons olhos a transformação da A.U.C. em Ação Mariana Universitária. Não veria, também, com bons olhos, a transferência de alguns aucistas que pertencem a Nossa Senhora das Vitórias, para a nova Congregação. Ora, esta transferência, que é essencial (em São Paulo, é sempre por meio de uma emigração de uma pequena colônia mariana, que se fundam as Congregações novas), desfalcará certamente um pouco Nossa Senhora das Vitórias, e é, talvez, condição indispensável para a formação da nova Congregação. Por este motivo, peço-lhe que não diga qual a origem da ideia. Aceite um apertado e afetuoso abraço de todo seu em Nossa Senhora Plinio
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