Plinio Corrêa de Oliveira

 

Carta para Alceu Amoroso Lima,

 17 de Maio de 1933

 

 

 

 

 

 

 

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[Os negritos são deste site; as maiúsculas são do original]

São Paulo, 17 de Maio de 1933

Meu querido Dr. Alceu

Deu-me muito prazer seu livro, não só pelo presente, como por ver enriquecida nossa literatura católica jurídica com um trabalho de primeira categoria, abordando o problema de mais atualidade, entre nós, atualmente.

Por aqui, as coisas vão correndo bem. A minha votação tem sido muito grande. Nosso Senhor, porém, escreve direito por linhas tortas. Esta votação é tão grande, que coloca minha candidatura num como que anonimato, pois que é claro que eu, pessoalmente, não disponho de elementos para obter tal votação. Ela mostra que o eleitorado escolheu, não ao pobre Plinio, mas ao CATÓLICO, em abstrato, pelo que dou graças a Deus de todo o meu coração.

Como minha eleição parece assegurada, preocupa-me agora uma coisa: minha residência no Rio. Bem pesadas as coisas, acho de toda a conveniência que eu me hospede em um convento ou casa religiosa. Assim, além de ter um ambiente de moralidade excelente, penso que poderei despender uma quantia menor. Para que eu me sinta à vontade, é claro que é indispensável que eu pague alguma coisa. Além disto, do ponto de vista espiritual, aproveitarei muitíssimo, porque o ar que se respira em conventos é tonificante para o espírito. Será uma espécie de “Campos do Jordão” [cidade no Estado de São Paulo, muito recomendada para se respirar bons ares, n.d.c.] para minha alma. Haverá no Rio um lugar assim? Pensei no São Bento. Pedi a Dona Umbillina que indague qualquer coisa a este respeito. Se o Senhor souber de alguma coisa, seria favor prevenir-me.

Um convento apresenta um inconveniente: a hora de entrada de noite. Claro está que não posso estar em casa, sistematicamente, às 9 horas, porque só as nossas reuniões do [Centro] Dom Vital terminam mais tarde, além de outros lugares a que possa ir. Ora também há certa desvantagem em ter eu uma chave, para entrar habitualmente fora de hora, porque não faltarão pessoas maldosas, que suponham ser eu algum monge passeador, que se recolhe a altas horas (para um Monge, 11 horas é muito tarde), em trajes leigos... Enfim, quem sabe se há meio de se contornar a dificuldade, talvez arranjando-se uma casa religiosa de natureza especial, ou de qualquer outra forma. Em todo caso, uma coisa é certíssima: quero um ambiente pronunciadamente católico. Se tivéssemos no Brasil uma Ordem dos Paulinos, como os da Obra do Cardeal Ferrari, é que seria o ideal.

Sei que “nosso amigo” M. está furioso comigo, acusando-me de ter absorvido em meu benefício todo o eleitorado da Liga [Eleitoral Católica]. A mim não me importa o que ele possa dizer, porque agi bem, e tenho a plena aprovação do Sr. Arcebispo, em todos os atos que fiz, e dos quais ele tem pleno conhecimento.

Em todo caso, se ele for encher os ouvidos de S. Em. [Dom Sebastião Leme, Arcebispo do Rio de Janeiro, n.d.c.], será bom que o Sr. mo diga, para que eu me justifique, porquanto não posso permitir que uma difamação qualquer possa me colocar em má posição perante o homem a quem mais respeito no Brasil.

Para mim, são duros os tempos que correm. O Sr. não imagina o dilúvio de provações que, de 1932 para cá, me tem assediado constantemente. Tenho, porém, a impressão de que estão chegando a seu termo. Estou num esgotamento (...) colossal; tenho a impressão de que, espiritualmente, estou como um osso partido, que se cansa e dói com o menor esforço ou o menor movimento. Consola-me porém a convicção profunda de que, para nós, católicos, todos os sofrimentos vem da Mão de Nosso Senhor, e que sua ação em nossa alma é como a do cinzel do escultor que, para modelar o mármore informe, o fere duramente.

Enfim, meu caro Dr. Alceu, são coisas muito longas que só pessoalmente poderei explicar bem. Por enquanto, (...) abraçá-lo afetuosamente, e de todo o coração.

Do todo seu em Nossa Senhora

Plinio

N.B. 1) Quanto ao negócio da Revista dos Tribunais, fui informado de que a impressão já está concluída, mas que a entrega ainda não se efetuou, porque a empresa de Catanazes ainda não deu a quantia total, devendo entrar ainda com cerca de 1:000$000. Quer que eu providencie sobre o pagamento? 2) A Cruzada Artística me informa que o Centro Dom Vital não pagou o autógrafo, cujo preço é de 70$000. 3) Pelo Paulo de Ulhoa Cintra e pelo meu Chefe, soube da orientação que as coisas estão tomando aí. A despeito de certas aparências desconcertantes, mantenho meu ponto de vista primitivo, sobre o rumo de nossa política interna e externa. Está vendo o que está sucedendo nas Repúblicas vizinhas? Lembra-se do que lhe predisse há meses, e da providência que recomendei? Queira Deus que eu esteja enganado.


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