Plinio Corrêa de Oliveira
Carta para Alceu Amoroso Lima, 6 de Junho de 1932
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[Os negritos são deste site. Os sublinhados são do original] Santos, 6 de junho de 1932 Meu querido Dr. Alceu Sensibilizou-me muito a telefonada em que, com tão afetuosa insistência, me convidou a ir ao Rio. Infelizmente, e muito infelizmente, não posso, por enquanto, aceder ao convite. Permitiu Nossa Senhora que eu tivesse esta febrezinha que, sob o ponto de vista moral, tem sido fecunda em frutos favoráveis. Por uma disposição de espírito que não me é habitual, a recaída de gripe que tive, me incutiu um profundo temor de toda sorte de moléstias que supunha ter, desde a pneumonia dupla, até a tuberculose da laringe, passando pela diabete, por um tumor na garganta, por um tumor nos rins, e diversas moléstias gástricas. Realizei perfeitamente o tipo do “malade imaginaire” [o doente imaginário, nome de famosa peça teatral composta por Molière, n.d.c.]. No entanto, estes receios totalmente ridículos e imaginários (pela graça de Deus) se impunham por tal forma à minha imaginação que chegavam a constituir quase certezas absolutas. Pode imaginar com isto os momentos difíceis que atravessei. Permitiu Nossa Senhora, sempre super generosa, que este estado de espírito ridículo, doloroso e pouco próprio a um católico se dissipasse, cedendo a uma noção mais... razoável ou antes mais sadia e normal da realidade. No entanto, vi com estas peripécias espirituais estranhas, roçar por mim uma série de desgraças de que eu me julgava tão isento e livre. Todas as desgraças físicas (e não são estas as maiores!) que afligem a humanidade me pareciam ser feitas para uma outra pessoa qualquer, e nunca para mim, benjamim de Deus, sempre favorecido pela generosidade de Suas graças. (...) Nosso Senhor estaria no Seu pleno direito se me impusesse um sofrimento destes, se me quebrasse o futuro terreno, e me atirasse ao fundo de um leprosário ou de um hospital de tuberculosos qualquer. E ainda assim Sua misericórdia seria imensa se, ao cabo disto tudo, me desse o último lugar no Céu, com a inestimável graça da perseverança final. No entanto, que diferença! Em lugar de penas, recompensas. E, se passei por algumas duras provações, há alguns anos, a retribuição divina foi de mais do cêntuplo! (...) Feri-me todo, dos pés à cabeça. Mas foram as próprias mãos de Nossa Senhora que dispensaram o bálsamo que me curou. Veio depois a felicidade da paz interior, felicidade que excedia de muito a todos os meus desejos e ambições. A ela se juntaram as graças espirituais. Fui chamado ao apostolado, e o Rei Divino constituiu seu guarda e seu defensor àquele mesmo que O agredira e traíra. De escravo, que deveria ser, fui promovido a filho, e admitido – contra toda a indignidade de minha pessoa – à inestimável graça da Comunhão diária. Ainda não contente com isto, Nosso Senhor me deu a dádiva mais rica de Sua Misericórdia, dando-me a devoção à Sua Mãe Santíssima. E ensinou-me agora que todo o bem que eu possa fazer, toda a ação católica que eu venha a desenvolver, não é resultante da mesquinha estreiteza de minha alma, mas fruto rico e substancioso de Sua misericórdia, que permitiu que eu não recebesse castigos merecidos que me inutilizassem para a ação, mas sim graças que me pudessem, “non aestimator meriti, sed venia” [não em atenção aos méritos, mas por mercê], erigir à altura de Seu instrumento, e quase Seu colaborador. Quanta misericórdia! Que tremenda responsabilidade! Mas conto com a própria misericórdia para obter as graças necessárias para não desmerecer delas. * * * A carta me conduziu a expansões bem distantes do tema de que devo tratar. O meu Chefe quer que “O Século” publique no próximo Domingo os estatutos da Liga [Eleitoral Católica]. Há, para isto, graves razões (M.A.). Quer ele, porém, que a Junta Nacional diga previamente se vê nisto algum inconveniente. Poderia, com a máxima urgência, responder-me para a Rua Pero Correa 5, S. Vicente (Santos)? Afetuosos e saudosos abraços do todo seu em Nossa Senhora Plinio
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