Plinio Corrêa de Oliveira

 

Carta para Alceu Amoroso Lima,

24 de Dezembro de 1931

 

 

 

 

 

 

 

 

 

  Bookmark and Share

 

[Os negritos são deste site]

São Paulo, 24 de dezembro de 1931

Meu caro Dr. Alceu

Respondo com atraso a suas últimas duas cartas.

Antes de abordar outros assuntos, quero, porém, mandar ao meu caro amigo um afetuoso abraço, desejando-lhe boas festas, como a todos os seus.

Neste dia em que a Igreja se prepara para celebrar mais uma vez a vinda do Redentor ao mundo, peço a Nossa Senhora que lance abundantes bençãos sobre sua grande obra de apostolado, e que o ajude cada vez mais a fazer renascer Jesus nas almas, nos corações e nas instituições dos brasileiros.

Voltando ao caso do V., foi providencial não termos feito negócio com a referida firma. Recebi informações de pessoa que a conhece, de que há muito de irreal nas tão apregoadas excelências de seu sistema de publicidade.

A questão, porém, da publicidade a ser dada à “Ordem” não deixa de continuar de pé. Se me permite, volto a insistir sobre a necessidade de se fazer dela uma propaganda sistemática e, por assim dizer, técnica. Está aí, a meu ver, uma das bases de seu desenvolvimento.

Percebo perfeitamente que para fazer propaganda é necessário dispor de certos recursos, que, infelizmente, em épocas como esta, são quase impossíveis de serem obtidos.

No entanto, há aí uma espécie de círculo vicioso. Os recursos só aumentarão com uma saída maior da “Ordem”. Ora, a saída depende da propaganda. E a propaganda, por sua vez, depende de recursos.

Foi por isto que imaginei aquele primeiro meio de aplicação de um plano de grande publicidade, meio este cuja inviabilidade nos força a recorrer a outro expediente.

Deve haver no Rio, forçosamente, companhias de publicidade sérias, no gênero da “Eclectica” em São Paulo. Estas companhias dispõem de elementos especializados, que traçam sempre ótimos planos de propaganda.

Não seria o caso de o Senhor procurar por uma destas companhias (possivelmente onde possa dispor de algum amigo, parente, ou católico decidido) a quem o Senhor expusesse a necessidade em que está de fazer anunciar a “Ordem”, e pedisse um pequeno plano de publicidade, escrito, como eles costumam dar?

Seria então conveniente o Senhor expor claramente à Companhia a situação, dizendo-lhe que se trata de uma sociedade religiosa, dispondo de poucos recursos. A propaganda deveria ser feita, portanto, a princípio em pequena escala, para ver se, ao menos, os frutos da propaganda serviriam para cobrir as despesas da própria propaganda. Uma vez verificado isto, ir-se-ia aumentando gradualmente. Sei que isto é muito fácil de dizer, e muito difícil de executar. No entanto, não há mal em formular simplesmente a ideia.

Não pude colher aqui a informação que me pede sobre o nome do Dir. do Centro de Campinas. Porque não escreve ao “Sr. Diretor etc.” dirigindo a carta à Cúria de lá?

Magnífico o que me escreve sobre o programa vitalista. No entanto, ainda aí, se me for permitido, gostaria de ponderar alguns pontos. Maritain, no folheto que escreveu contra Maurras, queixava-se de que os católicos não eram unidos em questões fundamentais, nas quais a doutrina da Igreja não dá margem a discussões. Se fossem mais unidos, diz ele, não só esta união aumentaria muito sua força, mas criaria uma tal unidade de vistas, que excederia de muito o simples campo doutrinário, e transbordaria para questões práticas, ou mesmo em teorias deixadas pela Igreja à discussão dos fiéis. Estaria assim removido o maior obstáculo da ação católica: nossa desunião.

Penso que estas considerações de Maritain constituem um programa. Devemos procurar formar antes um programa só com pontos indiscutíveis (embora sejam alguns discutidos de fato, entre os católicos), cuja aceitação imporíamos. Seria uma tarefa consistente em estender o mais possível a disciplina católica a todas as questões. Uma vez bem cimentada esta larga base, poderíamos então fazer, daqui a alguns anos, um programa maior, e mais completo.

Somos poucos. Se abordarmos questões em que a discussão seja possível e permitida pela Igreja, nos dividiremos, ou melhor, nos “esfarelaremos”. Para dar um exemplo: o nosso caro Papaterra é anti-distributista, ao menos em relação a certas aplicações do distributismo. Também eu já o fui. Mudei.

Outros tenderão para o fascismo, outros para o liberalismo, outros para o socialismo e... até para o comunismo. Porque não firmar os alicerces de uma união séria, sobre a base já estabelecidas pelas Encíclicas? Poder-se-á depois caminhar mais. Seria, caso este meu alvitre seja adotado, conveniente elaborar simultaneamente um plano de estudos e um programa, sendo aquele como que um alicerce deste. E todos os Centros Dom Vital adotariam um e outro.

Proponho, apenas. Aguardo, porém, sua opinião, incomparavelmente mais segura. E desde já aceito qualquer outro alvitre que o Senhor adote.

Muito grato pelas informações do Pe. Franca. Estando com ele, abrace-o de minha parte.

Um bem afetuoso abraço ao Jesuitinha, por cuja vocação rezarei uma Ave-Maria especial, na Missa do galo. E para si toda a amizade de seu amigo em Nosso Senhor

Plinio

N.B. Muito e muito grato pela “Decadencia da Burguezia”. Lendo-a, acordam-se as boas recordações daquelas horas empolgantes do Municipal.


Bookmark and Share