Plinio Corrêa de Oliveira

 

Carta para Alceu Amoroso Lima

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Bookmark and Share

Alceu Amoroso Lima (Rio de Janeiro, 11 de dezembro de 1893 – Petrópolis, 14 de agosto de 1983) foi um crítico literário, professor, escritor e destacada figura do mundo católico brasileiro. Foi conde, pela Santa Sé. Adotou o pseudônimo de Tristão de Ataíde.

Em 2013, foi publicado o livro "Cartas do Pai", que reúne 11 anos de correspondência ativa do escritor carioca Alceu Amoroso Lima (1893-1983), endereçada à sua terceira filha, Lia, monja no Mosteiro Beneditino de Santa Maria, em São Paulo, no ano de 1951, sob o nome de Maria Teresa. Em 1943, com a publicação da primeira obra do Prof. Plinio, "Em Defesa da Ação Católica", Alceu rompeu com o líder católico e futuro fundador da TFP brasileira.

São Paulo, 16 de Abril de 1930

Ilmo. Sr. Dr. Amoroso Lima

Achando-se definitivamente constituído o Conselho Executivo da Ação Universitária Católica, da qual sou membro, venho comunicar a V.S. que pretendemos entrar em franca atividade, na vida acadêmica, em meados de Maio.

Vendo em V.S. o dedicado orientador da Ação Universitária Católica, no Rio de Janeiro, e, ao mesmo tempo, o brilhante líder católico, que todos nós admiramos, julgamos ser oportuno fazer-lhe a exposição das principais iniciativas, que pretendemos, com o auxílio de Deus, efetuar no corrente ano. Estas iniciativas já foram, também, comunicadas ao Sr. Amaro Simoni, em carta que lhe dirigimos, aos cuidados da Livraria Católica.

Pretendemos, primeiramente, encomendar livros científicos e católicos europeus, versando principalmente sobre Direito e Medicina.

Pensamos eliminar assim uma das maiores deficiências de nossa organização católica, geralmente falando: os estudantes católicos não têm tratados científicos de orientação católica, onde se segue que, ou os estudantes católicos se deixam influenciar por leituras anti-religiosas, ou, embora conservando sua Fé, são forçados a defender os princípios da Igreja com grande falta de base científica. Encontramo-nos, assim, em um estado em que nosso espírito católico está em verdadeira asfixia de cultura, com grande prejuízo para a mocidade. Importar tais livros, de acordo com alguma livraria notável em São Paulo, é, pois, uma iniciativa que nos parece inadiável.

Desejamos, também, promover uma série de conferências, possivelmente no Teatro Municipal, sobre assuntos científicos, de interesse religioso. Faremos três conferências sobre Direito, e três sobre Medicina, que se alternarão, umas às outras. Completará a série uma conferência sobre filosofia. Sendo mensais as conferências, teremos, se Deus quiser, uma primeira conferência em Junho, sobre assunto médico, por exemplo, outra jurídica em Julho, e assim por diante.

Ora, é precisamente para a realização deste importantíssimo ponto de nosso programa, que muito desejaríamos contar com a colaboração preciosíssima de V.S. Tomamos a liberdade de lhe pedir que se incumba, pois, de uma conferência sobre assunto sociológico, como por exemplo, o comunismo, assustadoramente propagado em nossa Faculdade de Direito. Como tratamos com um católico de comprovada dedicação, não duvidamos que nosso convite seja aceito. Já convidamos o Professor de Direito Administrativo, Dr. Mario Masagão, que acedeu gentilmente a nosso convite, bem como o Dr. Francisco Morato, professor de Direito Judiciário Civil, de quem ainda não pudemos receber resposta, pois que regressará de Caxambu somente daqui a uma semana. Assim, pois, a parte jurídica das conferências ficará a cargo de V.S., e dos Drs. Morato e Masagão, caso V.S. tenha a gentileza, com que contamos, de aceder a nosso convite.

Esperamos receber de V.S. uma resposta favorável, pois que temos plena certeza de que não hesitará em contribuir com seus preciosos esforços, em prol da causa católica em São Paulo, combatendo à nossa testa, como tem combatido, com nossos denodados colegas do Rio.

Sabemos não ser praxe indicar ao conferencista a matéria de sua conferência. Todavia, resolvemos pedir a V.S. que aceitasse o comunismo por tema. Poderosas razões nos levaram a isto: tínhamos que combater o comunismo, e não poderíamos deixar de nos lembrar do nome de V.S., cujo artigo sobre o “Momento Decisivo” tão fundamente impressionou a classe acadêmica. Resolvemos, portanto, agir francamente, certos de que a grande boa vontade com que V.S. encara todos os sadios movimentos universitários, não deixará de nos servir de escusa.

Contando com uma favorável resposta de V.S., pela qual desde já lhe apresentamos nossos mais efusivos agradecimentos, envio-lhe os protestos de alta consideração e os atenciosos cumprimentos de

(a) Plinio Corrêa de Oliveira

ENDEREÇO: Plinio Corrêa de Oliveira

Alameda Barão de Limeira 111

(Esquina da Alameda Glette)

São Paulo.

N.B.: Para manter toda a unidade de vistas com os acadêmicos católicos do Rio, pedimos a V.S. que nos envie, se possível com toda a urgência, os estatutos da A.U.C. Por mais este obséquio, reiteramos nossos agradecimentos.


Bookmark and Share