São
Paulo, 4 de julho de 1991
Dr.
Ruy Mesquita
Diretor
Responsável do "Jornal da Tarde"
Prezado
senhor
Tendo em vista a notícia "Revista católica
denuncia ação da TFP", publicada sexta-feira, 28 de junho p.p., pelo JT,
envio-lhe junto um nota contendo as retificações e esclarecimentos adequados.
Além de os redigir, necessitávamos de várias informações
da TFP francesa e de "Avenir de la Culture", que só agora
nos foi possível obter. De onde um pequeno atraso no envio da presente.
Como tantas vezes acontece, a defesa cabal das
entidades concernidas pela notícia do JT ocupa um espaço maior do que
estritamente o desta última. Mas está na contingência das coisas que, sem certa
elasticidade em matéria de espaço jornalístico, o direito de resposta seria irrisório
em certos casos. É preciso ter sempre em vista que tal direito é
"sagrado", segundo o lúcido e interessante "Manual de redação e
estilo" editado por "O Estado de S. Paulo".
Antecipando, pois, a V. S. meus agradecimentos pela
publicação integral da carta junto, subscrevo-me
cordialmente
Paulo
Corrêa de Brito Filho
Diretor
de Imprensa
________________________________________________
São
Paulo, 4 de julho de 1991
Sr.
Editor do "Jornal da Tarde"
Em resposta à notícia desse vespertino (28-6-91) intitulada
"Revista católica denuncia ação da TFP", peço a publicação do texto
abaixo.
1. "La Vie",
semanário de forte colorido progressista e de conseqüente matiz esquerdista, é
fonte das mais suspeitas no que se relacione à TFP francesa e ao "Avenir de la Culture",
pois teve incidentes publicitários com uma e outra dessas entidades
respectivamente nos anos de 1989 e 1990. Um desses incidentes deu origem a um
processo ganho por "Avenir de la Culture" em primeira
instância, da qual apelou "La Vie" à
instância superior. O processo ainda pende de solução.
2. Nem "Avenir de la Culture", nem a TFP
francesa tem o menor interesse em ─ segundo assevera "La Vie"
─ se esconder uma atrás da
outra. E nem o fazem. É o mesmo semanário (27-6-91) que o reconhece quando
afirma que os órgãos das respectivas associações "de bom grado se citam
mutuamente, cada qual elogiando junto aos respectivos leitores
os méritos da associação-irmã". O que é
precisamente o contrário de esconder seu mútuo inter-relacionamento.
Há mais. Segundo o JT, a TFP francesa e "Avenir de la Culture"
ter-se-iam dirigido simultaneamente à população, alertando-a contra um programa
imoral passado na TV estatal FR3, e pedindo-lhe uma contribuição financeira
para os gastos da campanha (é o sistema mundialmente conhecido do "mass mailing"). Ora, a
participação conjunta e ostensiva em tal campanha seria mais um outro
desmentido ao alegado jogo de esconde-esconde das duas associações. E nisto o
JT se contradiz.
Mas, além da contradição, faz-se ver aqui uma informação
errada, pois esta campanha, em concreto, está sendo conduzida por "Avenir de la Culture"
e não pela TFP francesa.
3. Outra retificação indispensável: as TFPs francesa e
brasileira são entidades perfeitamente autônomas uma em relação à outra, com
estatutos próprios, registrados na forma das leis dos respectivos paises. A TFP brasileira nada tem que ver, pois, com a
referida campanha de "mass mailing"
da TFP francesa.
4. O JT afirma que "diante das denúncias
recebidas, técnicos do Ministério de Finanças da França estão examinando
minuciosamente a contabilidade da TFP, a origem e destinação de seus
fundos". Tal não pode deixar de causar estranheza ao leitor: por que esses
técnicos assestaram como alvo para minucioso exame exclusivamente a
contabilidade da TFP, e não a de "Avenir de la Culture", diretamente
envolvida no "mailing"? Dir-se-ia que o JT
preferiu não contar a seus leitores que ao longo de oito meses, em 1989, já o
mesmo Ministério fizera o dito "minucioso exame" da contabilidade de
"Avenir de la Culture", a qual encontrou em exímias condições.
Quanto ao "minucioso exame" na contabilidade da TFP, iniciou-se em
março do corrente ano e nela nada se encontrou de irregular.
5. Quanto ao primeiro "mailing"
de "Avenir de la Culture", TV-Plebiscite,
"La Vie", baseando-se nas próprias palavras
da dita entidade, afirma que "138 mil pessoas responderam" à
circular. E que, destas, "um terço das respostas chegou acompanhado de um
cheque".
Assim, fica uma lacuna na informação. Ou seja, dos 138
mil que responderam, quantos eram pró e quantos contra? E quantos ainda, nem
pró, nem contra?
As respostas a estas perguntas têm inegável
importância. Porém "La Vie" se eximiu de as
mencionar. Com o que poupou para si o dissabor de noticiar que dessas pessoas,
133 mil foram pró, cinco mil contra, e mais duas mil, enfim, neutras.
6. "La Vie" cita o
livro do jornalista brasileiro José Antonio Pedriali,
"Guerreiros da Virgem": é pena que em seu resumo o "Jornal da
Tarde" tenha se esquecido de dizer que esse livro foi por sua vez refutado
pela TFP brasileira através de outro livro que deixa a nu, além de outras
faltas, o caráter fundamentalmente freudiano da obra do sr. Pedriali.
Esse livro se intitula "Guerreiros
da Virgem ─ A Réplica da Autenticidade ─ A TFP sem segredos" (Editora Vera Cruz, 1985, 349 pp.)
7. Afirma o JT, reproduzindo "La Vie", que "cerca de 20 pessoas vivem nessa casa
de campo (na localidade de Reuilly), mas não mantêm
nenhum contato com os habitantes do vilarejo": este pormenor, em si mesmo
irrelevante, carece inteiramente de veracidade. Entre esta sede da TFP francesa
e a aldeia de Reuilly há um vaivém assíduo: um
empregado da casa de campo da TFP reside em Reuilly e
mais dois em outra aldeia próxima, para onde os três trabalhadores voltam todos
os dias depois de terem concluído sua faina. O jornaleiro vem de Reuilly entregar diariamente os quotidianos de Paris. E a
todo propósito acorrem à mesma casa de campo pessoas da vizinhança para prestar
outros serviços como reformas do prédio, manutenção de máquinas etc.
Reciprocamente, a todo instante pessoas residentes na sede da TFP se dirigem a Reuilly para compras, corte de cabelo etc.
Os múltiplos pormenores noticiados pelo "Jornal
da Tarde" parecem próprios a provocar no leitor uma impressão de que uma
atmosfera de mistério cerca a casa de campo. É oportuno esclarecer, portanto,
que esta é um patrimônio de família de três sócios da TFP francesa. Sua "cour" comunica com o exterior por um largo portão de
metal vazado, que noite e dia fica aberto de par em par. Outro portão menor
costuma também estar aberto durante o dia. E sua altura é tal que qualquer
homem de estatura normal é mais alto do que ele, o que lhe permite ver noite e
dia o que se passa na dita "cour".
8. Diz o JT: "A revista católica francesa conta
que nos meios eclesiásticos, oficiais ou tradicionalistas, a TFP é considerada
uma seita. Esta é a opinião, por exemplo, do abade tradicionalista Jacques Berrou..."
Note-se que a única fonte direta mencionada pelo JT é
"La Vie", cuja suspeição
em relação à TFP Francesa e ao "Avenir de la Culture" foi atrás
apontada (cfr. tópico 1).
Quanto a fontes oficiais, o próprio secretário-geral da Conferência Episcopal Francesa, Mons. René Wasselynck, salientou que
esta última, em sua nota sobre a TFP, não utilizou a palavra "seita".
"Foram iniciativas particulares que a empregaram posteriormente, o que
lamentamos vivamente". Esta afirmação consta de carta do referido
Monsenhor a um amigo da TFP francesa. Dela possuímos cópia que poderá ser vista
em nossas mãos.
9. Continua o JT sobre o mesmo assunto: "... mas
também das duas mais importantes associações católicas de informação sobre
seitas existentes na França. São elas a Associação de Defesa da Família e do
Indivíduo e o Centro de Documentação, da Educação e da Ação contra as Manipulações
Mentais..."
Inexato. Ambas as entidades são aconfessionais.
E isto a tal ponto que a ADFI (Associação de Defesa da Família e do Indivíduo)
em artigo sobre a Igreja e as seitas – como adiante se verá – tende a
considerar a própria Igreja Católica (até o Concílio Vaticano II) como uma
seita...
10. Conclui o JT: "... que condenam a TFP como
seita". A afirmação dá idéia de que ambas as organizações têm o direito de
"condenar", como se fossem algum Santo Ofício. São meras organizações
privadas, destituídas de qualquer autoridade doutrinária.
Ademais, a própria qualificação de um movimento como
"seita" carece de seriedade intelectual, já que até agora nenhum
pensador ou escritor do movimento anti-seitas
conseguiu dar uma definição consistente, e aprovada por todos os seus
congêneres, do que seja uma seita (cfr. Gustavo e Luis
Solimeo, "La Nouvelle Inquisition athée et psychiatrique: elle taxe de secte ceux qu'elle
veut détruire", Société Française pour la Défense
de la Tradition, Famille et Propriété, 1991, 201
pp.).
Assim, por exemplo, afirma Alain
Woodrow, um dos mais conhecidos líderes do movimento anti-seitas da Europa, presidente do CEDOS (Centro de
estudo e de documentação sobre as igrejas e as seitas): "A priori, não há nenhuma razão para se mostrar mais
indulgente em relação à Igreja do que com as seitas. (...) A igreja cristã ─ católica, ortodoxa e protestante ─ foi acusada dos mesmos excessos,
freqüentemente justificados, que se deploram a propósito das seitas". Ele
enumera em seguida os "excessos" que fariam recair sobre a Igreja as
mesmas impugnações que sobre as seitas. Porém observa com alívio que
"depois do último concílio (...) o clima mudou bastante: (...) o espírito
sectário da Contra-Reforma está bem morto" ("Les
églises sont-elles des sectes?", in BULLES, nº 10, 1986, p. 6 ─ apud G. e L. Solimeo, op. cit., p. 11). O que importa em afirmar que a
Contra-Reforma, o Concílio de Trento, Santo Inácio de Loyola, a Companhia de Jesus, Santa Teresa, São Pedro de
Alcântara e demais gigantes da Fé constituíram movimentos sectários dentro da
Igreja. Até lá chega o abuso a que se presta a resvaladia palavra
"seita".
É de notar que o boletim que publica essa opinião é o
órgão oficial da ADFI (Associação da Defesa da Família e do Indivíduo), citada
por "La Vie".
Cumpre observar que cinco Bispos franceses escreveram
a "Avenir de la Culture" significando sua aprovação à campanha moralizadora que tão prolixo furor despertou em "La Vie". Eles nada viram de sectário na associação que
desenvolve essa campanha, pois do contrário se teriam abstido de qualquer
pronunciamento.
11. Como nota final, ponderamos que "La Vie" não menciona nenhuma das refutações elaboradas,
seja por "Avenir de la
Culture" como pelas TFPs francesa e brasileira,
concernentes a anteriores fatos alegados pelo semanário. E assim dá mais uma
mostra da parcialidade com que investiu contra essas associações.
Cordialmente
Paulo Corrêa de Brito Filho
Diretor de Imprensa