Catolicismo,
N° 395, Novembro de 1983 (www.catolicismo.com.br)
Ocidente
deve negar cereais aos russos
"A PUBLICIDADE vai impondo cada vez mais a todos
os homens um slogan, segundo o qual é melhor ceder ao comunismo do que correr
os riscos de um bombardeio atômico: 'better red than dead'
(melhor vermelho do que morto). De onde se infere que o amor à Fé, à independência
pátria, à dignidade pessoal e à honra deve ser menor do que o amor à vida.
Seria a posição à maneira de Sancho Pança, descrita
por Cervantes, colocada em oposição ao caricato
lutador Dom Quixote" — afirmou o Prof. Plinio Corrêa
de Oliveira, Presidente do CN da TFP, ao ser entrevistado.
"Fala-se hoje tanto — ressaltou — em terceira
via, terceiro mundo, etc., e ninguém se lembra de uma opção diferente das que
são aí apresentadas, a qual evite a morte e sobretudo a capitulação diante do
avanço soviético".
Tese
"Nesse sentido, são muito oportunas as
conclusões a que chegou o Sr. Dermot Healey, em tese apresentada para doutoramento na Universidade
de Aberdeen, na Escócia, sob o título 'The grain weapon'
('O cereal como arma')" — assinalou o Presidente do Conselho Nacional da
TFP.
O entrevistado, a seguir, sintetizou a referida tese:
"Os dirigentes russos sempre se mostraram muito sensíveis à ameaça do embargo
do fornecimento de cereais, feita pelos EEUU. Pois a produção alimentar dos
soviéticos é insuficiente tanto para a população quanto para os animais. O
embargo, acarretando pauperismo, greves e agitações, determinaria a queda do
regime soviético, afastando assim o espectro do bombardeio atômico.
"Entretanto, o embargo encontra obstáculos nos
EEUU, onde grandes associações de produtores e exportadores pressionam o
governo, desejosos de obter mais lucros com suas vendas para a Rússia".
Estivadores
"Se a causa do insucesso do embargo — sustentou o
pensador católico — consiste na avidez de lucro de dinossáuricas
companhias capitalistas, é oportuno mencionar um fato realmente luminoso
referido por Dermot Healey:
a oposição de relevo à venda de cereais aos russos feita pelo sindicato de
estivadores norte-americanos, os quais, durante certo período, se negaram a
carregar grãos para os soviéticos.
E concluiu o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira:
"Esses trabalhadores mostraram mais bom senso,
melhor noção de seus deveres e de seus direitos, do que a 'saparia',
isto é, a burguesia endinheirada, nada hostil ao comunismo, porém muito hostil
ao anticomunismo".