Folha da Manhã, 13 de setembro de 1945
AMPLA ARTICULAÇÃO NACIONAL EM DEFESA DOS PRINCÍPIOS CATÓLICOS
Declarações feitas à "Folha da Manhã" pelo Sr. Plinio Corrêa de Oliveira, ex-Presidente da Ação Católica
Vários telegramas distribuídos pelas diversas agências telegráficas nacionais têm informado sobre uma posição de combate ofensivo que as organizações católicas estariam assumindo contra o comunismo.
A propósito, o Sr. Plinio Corrêa de Oliveira, ex-presidente da Ação Católica em São Paulo, fez as seguintes declarações à "Folha da Manhã":
Antiga, a articulação
"Devo dizer antes de tudo que tal articulação é velha. Com efeito, o comunismo, visceralmente oposto ao catolicismo em seus princípios fundamentais, foi combatido ininterruptamente pela Igreja, desde Karl Marx até nossos dias. A Santa Sé e os bispos de todos os países católicos têm esclarecido constantemente a opinião pública contra os erros comunistas com uma vigilância e um desassombro em que ninguém os superou. Mesmo quando certos governos pareciam descurar o problema, absorvidos pelas lutas políticas de alcance mais imediato, a Igreja teve sempre os olhos fitos no perigo, e não cessou de o denunciar. E quando a pregação anticomunista exigiu muitas vezes o risco da própria vida, os membros da hierarquia não recuaram diante de nenhuma ameaça, para esclarecer os fiéis sobre tão grave assunto. É o que se tem visto de Pio IX até nossos dias."
Não é uma luta negativa
"A luta dos católicos contra o comunismo nunca foi meramente negativa. Temos a refazer toda a civilização cristã, abalada em seus mais profundos alicerces, pela impiedade contemporânea. A civilização cristã é uma decorrência dos princípios evangélicos. Ela brota, pois, da própria doutrinação da Igreja e é a realização, na ordem dos fatos, dos princípios que Jesus Cristo ensinou. Essa obra positiva é o nosso grande ideal. Somos anticomunistas, nitidamente anticomunistas, irredutivelmente anticomunistas, porque o comunismo é uma doutrina que procura realizar uma ordem de coisas diametralmente oposta à nossa. É importante fixar este ponto, para que se compreenda que nossa razão de ser não é puramente negativa, não é apenas o anticomunismo, mas a realização de uma grande tarefa positiva, para cuja execução o comunismo é um óbice gravíssimo que cumpre remover.
"Um dos aspectos mais salientes da civilização cristã, é a justa cooperação do capital e do trabalho, de acordo com os princípios traçados pela Santa Sé. A Igreja tem desenvolvido, nos últimos séculos, um grande esforço para resolver os problemas sociais e é prova disto a infinidade de obras e estabelecimentos de toda a ordem, que no mundo inteiro se erguem sob sua autoridade ou sua inspiração em favor dos desprotegidos. É evidente que, sendo embora o fim próprio e direto dessas obras a realização do bem que lhes é próprio, elas constituem acidentalmente um poderoso meio de combate ao comunismo, difundindo os princípios cristãos, aplacando o ódio entre as classes sociais, e resolvendo dentro do limite de suas possibilidades, os problemas econômicos.
"No momento presente, sem prejuízo dessa ação que é e continua a ser sempre a mais importante, a que se deve desenvolver cada vez mais, é essencial que se neutralize a propaganda comunista por meio de uma publicidade moderna, ágil, eficaz. É preciso mostrar ao povo o que é verdadeiramente o comunismo, despertar nele todos os sentimentos e tradições que o preservam da propaganda vermelha, mostrar enfim ao Brasil cristão que o comunismo é a própria realização de tudo quanto a doutrina católica nega e condena.
"É o que em boa hora fez em São Paulo o Exmo. e Revmo. Sr. Arcebispo Metropolitano, como é do domínio público. Seu exemplo vai frutificando por todo o Brasil, e à ação positiva e construtiva se soma hoje um combate eficaz e denodado ao comunismo, que é preciso intensificar.
"Conta a Escritura que os hebreus que trabalhavam na reconstrução de Jerusalém, com uma das mãos edificavam os muros e com a outra mantinham a espada para se defender contra os inimigos que perturbavam a obra. É assim que devem lutar os católicos, na realização da civilização cristã."
União das Forças vivas da nacionalidade
"Os católicos - poderíamos dizer simplesmente os brasileiros - se distribuem através das classes conservadoras, intelectuais, operárias, do magistério, da magistratura, das forças armadas, do jornalismo, de mil outros ramos da vida social.
"Estou informado de que os católicos aceitam de bom grado, pedem e estimulam à cooperação de todos estes elementos na luta contra o comunismo. É mister que as forças vivas da nacionalidade, unidas sem discrepância em torno deste grande ideal, saibam preservar o Brasil do grande risco a que, com a propaganda vermelha, está exposto presentemente" - terminou o Sr. Plinio Corrêa de Oliveira.