Instituto Plinio Corrêa de Oliveira
A Inocência Primeva e a Contemplação Sacral do Universo no pensamento de PLINIO CORRÊA DE OLIVEIRA |
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A via da transparência e da transcendência para chegar a Deus através das criaturas
1. Tentação dos bons: ficar parados no primeiro patamar da contemplação a que se chegouPlinio Corrêa de Oliveira: Imagine-se um homem que está construindo uma torre. Ele de vez em quando pára, numa espécie de patamar. Se ele pára a fim de contemplar o panorama de acordo com a elevação nova a que chegou, ele fica com mais vontade de levantar a torre. Mas se, pelo contrário, diz: «Agora posso ficar satisfeito, pois já levantei tudo isto», ele não constrói o segundo andar. Algumas pessoas ficam paradas para todo o sempre no primeiro andar: para todo o sempre! Esta é a tentação dos bons, e me corta a alma o fato de que geralmente não é o mau que é tentado para isso. É a tentação do bom. Ou ele tem a intuição contínua do plus ultra — de um plus ultra supremo que lhe é dado intuir já no primeiro momento — ou ele não é capaz de subir. É preciso que o plus ultra se torne para ele cada vez mais luminoso e mais verdadeiro. [...] O patamar é o grande perigo. Como fazer? Ou o patamar favorece um contínuo aprofundamento — uma contínua elevação das noções correntes — ou não há patamar: é um alçapão. Por exemplo, a pessoa chega a uma consideração altíssima e pensa: agora tenho que tratar das coisas concretas. Nessa hora, ele não pode pôr o plus ultra entre parênteses, caso contrário não vai construir uma torre, mas colocar pedras lado a lado. Vai somando pedras, mas não estará fazendo uma construção. Ou o indivíduo forma o propósito de um plus ultra contínuo, ou fatal, necessária e inevitavelmente surge uma sensação de frustração.* * Reunião de 28 de novembro de 1976.
2. A concepção do homem medieval era banhada pela idéia da transcendênciaPlinio Corrêa de Oliveira: Imaginemos crianças que estejam brincando com um trenzinho de ferro muito bonito. Horas se passam naquele divertimento. Surge outra criança, que diz conhecer um menino possuidor de um trenzinho igual, mas em que, ao mover-se a locomotiva, bate um sino. Imediatamente, o trenzinho, com que há pouco as crianças brincavam maravilhadas, fica sem graça. Há outro melhor, e daí aparece logo o desejo de possuí-lo. Da mesma forma, basta concebermos uma ordem de realidades mais alta do que aquela em que estamos, para se acender em nós um apetite por essa mesma ordem. Assim, existe no homem uma espécie de sede insaciável de algo ainda mais perfeito, mais alto, mais transcendente. Ele é capaz de vislumbrar pela inteligência outros mundos, outras realidades, outras perfeições, outros firmamentos, que normalmente não tem diante de si. [...] A Idade Média foi, em sentido lato, uma época eminentemente mística. Sobretudo do verdadeiro misticismo, que é o católico, mas também do misticismo diabólico. As explosões de satanismo, na época medieval, são muito freqüentes e palpáveis. Toda a concepção do homem medieval era como que banhada pela idéia de outra vida e de uma ordem de coisas superior à ordem natural, que dominava a sua existência inteira e a ordenava.* * Reunião sem data especificada.
3. O renascentista só compreendia aquilo que podia ver e sentir de modo naturalPlinio Corrêa de Oliveira: Pelo contrário, o que caracteriza propriamente a Renascença — sobretudo em confronto com a Idade Média — é a ausência quase completa de qualquer misticismo. Ao invés de procurar uma ordem transcendente, vendo todas as coisas à luz de um anelo para essa ordem, o homem renascentista apenas compreendia aquilo que podia ver e sentir de modo natural. A tendência do homem para o absoluto corta-se. Ele não quer mais saber de uma ordem transcendente, fica estritamente dentro do terreno da natureza. [...] As obras de arte do Renascimento nos falam apenas da vida presente. Ao representarem um fundo de quadro paisagístico, a cena é pura e simplesmente a descrição da natureza. Descrição por vezes muito fiel, porém pouco interpretada, em que nada nos fala de outras realidades. É apenas a natureza, e nada mais. Se analisarmos uma figura humana, como uma Madonna de Rafael, constataremos o mesmo fenômeno: ela personifica uma senhora muito amena, dotada de excelente gênio, de costumes muito puros, de trato agradável. Porém não se tem a impressão de algo celeste. A pintura nos mostra uma esplêndida pessoa desta Terra. No Moisés de Michelangelo, vamos encontrar o mesmo fenômeno. A escultura nos apresenta um possante italiano, inteligente e capaz, com um desdobramento enorme de personalidade. Mas nada nos faz sentir o Moisés da Bíblia, o homem que banhou seus olhos numa claridade sobrenatural, e que teve contato com uma ordem que transcende o homem. Ainda quando pintavam ou representavam cenas sobrenaturais, os renascentistas não espelhavam senão a natureza. Esta posição tem, necessariamente, um reflexo. Quando o homem se coloca nessa atmosfera — excluindo completamente o transcendente, os valores sobrenaturais e a vida eterna — de duas uma: ou a vida se torna para ele insuportavelmente penosa, ou ele se engolfa inteiramente nos prazeres. A idéia de um fim satisfaz por completo o homem, e o anima a fazer coisas desagradáveis. Deixando de crer nessa finalidade última, certamente descamba para a imoralidade. Se só a natureza que nos rodeia existe, chegamos forçosamente à conclusão de que os sentidos são a única coisa que ela apresenta de sólido, de agradável. Trata-se, portanto, de desfrutá-los ao máximo, já que inexiste outra ordem de realidades. [...] Para o renascentista, o saborear a vida supõe, antes de tudo, inteligência. Ele não conceberia gozá-la como se fosse um refrigerante. Por uma tradição medieval, ele ainda preza a inteligência. Mas esta já foi desligada de suas fontes (pois sem o espiritual não há inteligência). Vive ainda, mais ou menos como uma trepadeira, a qual, cortada a base, durante algum tempo continua a ter vida e até a desabrochar em alguns botões, antes de fenecer completamente.* * Reunião sem data especificada.
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