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Instituto Plinio Corrêa de Oliveira

 

A Inocência Primeva e a Contemplação Sacral do Universo

no pensamento de

PLINIO CORRÊA DE OLIVEIRA

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INSTITUTO PLINIO CORRÊA DE OLIVEIRA

Dezembro de 2008

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Parte II

 

Capítulo 3

 

Os homens formam à sua

imagem os ambientes,

os costumes e as civilizações

 

( Para Textos Ilustrativos deste capítulo clicar aqui )

 

 

1. O verdadeiro pensador deve analisar acuradamente a realidade

‘Foi [no mensário] Catolicismo que criei e mantive, durante vários anos, a seção Ambientes, Costumes, Civilizações.

‘Essa seção constava da análise comparativa de aspectos do presente e do passado, tendo por objeto monumentos históricos, fisionomias características, obras de arte ou de artesanato, apresentados ao leitor através de fotos.

‘Tal análise, feita à luz dos princípios que explicitei em Revolução e Contra-Revolução, tinha por meta mostrar que a vida de todos os dias, em seus aspectos-ápices ou triviais, é suscetível de ser penetrada pelos mais altos princípios da Filosofia e da Religião. E não só penetrada, mas também utilizada como meio adequado para afirmar ou então negar — de modo implícito, é verdade, mas insinuante e atuante — tais princípios. De tal forma que, freqüentemente, as almas são modeladas muito mais pelos princípios vivos que pervadem e embebem os ambientes, os costumes e as civilizações, do que pelas teorias por vezes estereotipadas e até mumificadas, produzidas à revelia da realidade, em algum isolado gabinete de trabalho ou postas em letargo em alguma biblioteca empoeirada.

‘De onde a tese de Ambientes, Costumes, Civilizações consistir em que o verdadeiro pensador também deve ser normalmente um observador analista da realidade concreta e palpável de todos os dias.

‘Se católico, esse pensador tem ademais o dever de procurar modificar essa mesma realidade, nos pontos em que ela contradiga a doutrina católica’ ( Plinio Corrêa de Oliveira, Auto-retrato filosófico, Catolicismo, nº 550, outubro de 1996 ).[1]

 

2. Um contraste, um julgamento

Por isso a seção visava claramente a exaltação da civilização cristã e a execração da pseudo-civilização neopagã de nossos dias. De onde o caráter geralmente comparativo adotado entre elementos de uma e outra civilização manifestados nas fotos.

Na seção Ambientes, Costumes, Civilizações sempre existe, de alguma forma, um contraste, embora nem sempre explícito. Por vezes, trata-se de fotografias que são o oposto uma da outra. Mas por vezes, quando só há uma fotografia, ela representa o contrário do que um leitor desavisado pensa.

Depois do contraste, vem um julgamento. E, por fim, um princípio, em função do qual esse julgamento é proferido. E que evidentemente será sempre um princípio da doutrina católica.

O princípio que presidia os comentários era que ‘os homens formam para si ambientes à sua imagem e semelhança, ambientes em que se espelham seus costumes e sua civilização. Mas a recíproca também é verdadeira em larga medida: os ambientes formam à sua imagem e semelhança os homens, os costumes, as civilizações’.[2] *

* Ver três exemplos da seção Ambientes, Costumes, Civilizações no Apêndice II.

 

3. Explicitação das primeiras impressões do leitor

A finalidade da seção era, pois, ‘afiar a vista’ dos leitores ‘para verem bem o que estavam vendo’.[3] Isso significava examinar tudo com alto espírito de observação, analisando todos os pormenores relevantes e estabelecendo contrastes quanto coubessem.

— Como nasceu essa seção?

‘Eu tinha, talvez, uns 25 ou 30 anos, quando compreendi que o melhor de minha vida intelectual não consistia tanto em aprender coisas que não sabia, quanto em encontrar os conceitos para exprimir o que por mim mesmo tinha percebido’. Aliás, como é bem sabido, essa é a característica de todo verdadeiro pensador, como eu pretendia ser.

Assim, a referida seção ‘contém a explicitação das impressões confusas que uma pessoa pode ter diante de um quadro, ou diante de uma cena. Não era preciso ler nenhum livro para colocar o que estava posto ali’.[4] O redator devia ler dentro de si e colocar no papel o que encontrar dentro de si.

Diante das fotos apresentadas no mensário, o leitor tem uma primeira impressão, e depois vai ao texto, onde encontra uma descrição analítica daquilo que viu, de maneira que o ajude a explicitar as primeiras impressões que teve.

É com a explicitação que se completa a elaboração da idéia. De pouco adianta ser muito intuitivo quando se tem dificuldade em explicitar. A idéia que não é capaz de se traduzir bem em palavras ainda não nasceu, está em gestação.

Poder-se-ia imaginar que, para isso, o redator tivesse que fazer um exercício de forte adjetivação das imagens comentadas. Não! Era uma seção de descrições, feitas — quanto o redator soubesse fazê-lo — com charme e leveza, mas nas quais se sentisse, de maneira viva, o real. O leitor deveria encontrar naquela página ‘uma descrição imediatamente colada na realidade, mas a tal ponto colada na realidade que seria impossível negar que o comentário fosse verdadeiro’.

No comentário, as palavras deviam ser bem escolhidas e as frases bem torneadas. ‘As palavras que não são tão claras que os outros entendam, não viram a luz do sol. Um pensamento só nasceu completamente quando ele é tão claro que, apresentado a outra pessoa, ela o entende, e entende bem’.[5]

 

4. A busca insaciável da semelhança com Deus

— Como adquirir o espírito que daí se recolhe?

Em primeiro lugar, pelo desenvolvimento do espírito de observação. Como foi dito, é preciso ‘afiar nossa vista’ para que, o que estamos vendo, seja bem visto. E — convém acrescentar — ver também o que geralmente não se vê... Por exemplo, o que é para o comum dos homens uma carrocinha com um catador de papéis? Mas, para quem saiba ver, poderia ter um sentido digno de nota.

Diante de um catador de papéis, algum observador poderia dizer: «Estou com o espírito posto em grandes galerias de arte, em belos álbuns de fotografias. Um catador de lixo não é um objeto digno de minha atenção».

Entretanto, se alguém se dispuser a transcender o quotidiano para chegar a realidades mais altas, não desprezará nada que, sendo lícito, caia sob suas vistas.

‘Quantas coisas há assim que dão gosto e interesse à vida, e que nos aproximam de Deus, porque Deus é o autor da elegância de alma’[6] que pode haver num catador de papéis.*

* Ver O catador de papéis no Apêndice VI.

Diz Santo Tomás que «nada tem a natureza de bom e de desejável senão enquanto participa da semelhança de Deus». O espírito da seção Ambientes, Costumes, Civilizações representa a busca insaciável dessa semelhança.

* Suma Teológica 1, q. 44, a. 4, ad 3.

 

Fontes de referência: