Plinio Corrêa de Oliveira

 

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Moderação

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 20 de julho de 1947, N. 780, pag. 2

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O pior inimigo da virtude não é sempre o vício escancarado, mas a contrafação da virtude verdadeira. O vício aberto, cínico, extravia facilmente as almas depravadas. A virtude mal-entendida, ou mal praticada, pode iludir e desviar as próprias almas retas.

É o que se dá, por exemplo, com a confiança na misericórdia de Deus. Há virtude mais indispensável à salvação? Haverá coisa mais arriscada, do que exagerar esta virtude, transformando-a em presunção infundada de nos salvarmos?

Dá-se o mesmo com a moderação. A temperança é elemento indispensável para que toda a virtude seja genuína. Não devemos ser temperantes apenas no que diz respeito aos apetites dos sentidos, mas também às aspirações da alma. E, por vezes, chegamos à intemperança até nas coisas mais nobres e altas. Nosso próprio desejo de perfeição espiritual pode ser intemperante.

Sem dúvida, o amor intemperante do bem tem aspectos por onde pode ser admirado. Santa Tereza de Jesus, antes de atingir a santidade, sofreu deste defeito que, num certo sentido, é defeito de almas de escol. Por isto mesmo, a Igreja diz dela que foi admirável até em seus erros... mas não deixa de reconhecer que esses erros foram erros, e que ela não teria chegado à santidade se não os tivesse vencido.

A forma de intemperança a que podem chegar certas almas entusiasmadas pela perfeição consiste em não distinguir bem o que é conselho, do que é preceito. No entanto, esta distinção se impõe em todos os domínios da moral católica. Assim, por exemplo, um católico deve a seus mestres e às autoridades civis obediência, respeito e afeto. Dir-se-á, por isto, que ele é obrigado a ter verdadeiro entusiasmo por uns ou outros, a elogiá-los hiperbolicamente, em todas as ocasiões, afirmando que eles chegaram ao zênite da competência e da perfeição? Evidentemente não. São coisas que é louvável que um aluno ou um cidadão diga quando as sente. Mas, ainda que as sinta, não está obrigado a dizê-las a todo o momento, a todo o instante, nos termos mais calorosos, sob pena de ser tido como aluno insubordinado ou rebelde.

Isto, que se pode dizer de nossos mestres, pais, autoridades, pode-se afirmar, servatis servandis, do próprio Deus. Há um limite do amor de Deus, que é o limite da correção. Quem fica dentro dele, embora em grau mínimo, não é um mau filho de Deus. Quem está fora dele é um mau filho de Deus. Deve-se elogiar muito quem se eleva aos mais altos graus do amor de Deus. Nem por isto se deve acusar ou perseguir quem fica nos limites do cumprimento correto dos Mandamentos.

O mesmo se pode dizer também dos vários pontos da doutrina católica referentes às relações entre os cônjuges. Quanto à abstinência conjugal, por exemplo, há ocasiões em que constitui um dever grave. Na quaresma, nos grandes dias do calendário litúrgico, em outras ocasiões ainda, pode ela ser muito aconselhável: será contudo uma obrigação observá-la? Não.

A este respeito, toda a precisão de termos, conceitos e atitudes é essencial.

Combatamos animosamente o pecado e a tibieza. Mas não imponhamos a outrem, como dever, aquilo que a Igreja aprova, louva, porém não obriga.


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