Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

Nova et Vetera

A força do guarda-chuvas

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 8 de junho de 1947, N. 774, pag. 5

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Não resta dúvida que o guarda-chuvas é uma arma formidável e terrível para quem quer suicidar-se, pois aumenta na proporção de sua inocuidade, a força dos engenhos de guerra empenhados pelo adversário. Diante da agressividade e da malicia de nossos inimigos, não adianta que acenemos para eles com esse inofensivo objeto, quer como ameaça, quer como sinal de nossos bons propósitos. Há um limite para a ação suasória, e a própria Ordem Terceira Dominicana, no dizer do Santo Padre Bento XV, foi criada com o duplo objeto de defesa dos direitos da Igreja e de barrar energicamente o caminho às heresias (Encíclica “Fausto appetente”), Não foi outra a razão pela qual o Concílio de Latrão de 1179 ordenou aos fiéis que se opusessem corajosamente às selvagerias das seitas comunistas da época, defendendo os cristãos contra esses infelizes. Não foi outra reação cristã contra a ameaça muçulmana, que culminou na batalha de Lepanto.

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Isto, porém, no passado.

Hoje, diante do mal que tudo ameaça avassalar, há muitos cristãos para os quais a única arma que existe é o guarda-chuvas das concessões, de contemporizações, da mão estendida ao inimigo traiçoeiro, portador de doutrinas intrinsecamente perversas, tais como o nazismo e o comunismo.

É fato histórico recente que a força do totalitarismo nazista foi criada mais pelas concessões do grupo Chamberlain em Munique do que pela real belicosidade das tropas do Terceiro Reich. Houvesse uma reação violenta diante das primeiras anexações de territórios e teria sido quebrado o ímpeto expansionista do nazismo em seu nascedouro.

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Apesar de exemplo tão contundente, continua por toda a parte mesma tática ou falta de tática chamberlainesca, já agora em relação ao totalitarismo soviético com a mesma cegueira e falta de senso das realidades com que trataram a Alemanha nazista. Não querem ver os diplomatas dos países democráticos que a diplomacia soviética é uma simples arma usada para o expansionismo comunista da mesma categoria da igrejola cismática e de outros recursos de propaganda vermelha, armas idênticas, quanto à finalidade, aos recursos bélicos que serão empregados onde e quando julgado oportuno.

O LEGIONÁRIO por mais de uma vez tem se ocupado dessa colaboração aliada à causa da bolchevização universal.

Para demonstrar que este ponto de vista não é privilégio nosso mas resulta da sincera e objetiva análise dos fatos, vamos para aqui transcrever os comentários que no livro “The struggle for the World” recentemente aparecido e de autoria de James Burnham, são feitos a essa política das nações aliadas em relação à Rússia soviética, política que o autor considera errada na concepção, no método e no conteúdo, principalmente pelo fato de cada caso ser tratado por seus próprios méritos individuais em vez de serem julgados no complexo da vida internacional e das ulteriores intenções da Rússia, no seu conjunto.

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Como exemplo desta falta de descortino, cita o autor o caso do governo polonês do exílio. A uma simples promessa do governo polonês comunista de realizar eleições democráticas, os poloneses do governo de Londres são atirados à rua pela janela.

Há coisa pior ainda.

Na Iugoslávia os Estados Unidos com a Inglaterra podiam escolher entre Michailovich e Tito. Michailovich era um conhecido patriota iugoslavo apoiado pela imensa maioria da população. Tito era um agente comunista de fora do país, que havia colaborado com os nazistas durante o período do pacto nazi-soviético. Podia-se confiar em Mihailovich para combater os nazistas (como de fato combateu) e, igualmente, para resistir à dominação comunista de sua pátria e do resto dos Balcãs. A escolha de Tito era equivalente à entrega dos Balcãs aos comunistas.

A diplomacia americana, através de acordos secretos ainda não revelados completamente, cedeu aos comunistas no Extremo Oriente os Kurdos, a Sakalina do Sul, o controle das importantes fontes de água-quente de Dairen e Porto Artur, bem como a ocupação da Manchúria e da Coréia do Norte.

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O autor se manifesta informado de que essas concessões foram parte do preço da entrada da Rússia na guerra contra o Japão. Ao tempo em que esses acordos foram firmados, deve ter sido claro ao Estado Maior Americano que a guerra com o Japão poderia ser vencida sem qualquer ajuda da União Soviética sobretudo graças ao emprego da bomba atômica. O objetivo da política americana devia ter sido conservar os comunistas fora da guerra, não dentro apenas para tirar proveitos e vantagens sem esforço apreciável. Com esta política a América do Norte estava ativamente fazendo progredir o avanço do poderio comunista no sentido do domínio da Eurásia.

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Os aliados consideraram maduramente a conveniência de dirigir as principais pontas de lança da invasão da Europa através dos Balcãs. A União Soviética não desejava tropas anglo-americanas nos Balcãs, porque tinha seus próprios planos para os Balcãs. Os aliados fizeram a mesma escolha política que haviam feito quando abandonaram Mihailovich em favor de Tito. A expansão comunista na Europa foi não somente permitida, foi ativamente promovida pela política aliada.

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A política norte-americana na China tem sido dirigida no sentido de forçar a unificação por meio de um governo democrático de coalizão entre o Kuonmintang e os comunistas. Mas não poderá haver nunca uma genuína coalizão entre o Kuomintang e os comunistas. O objetivo dos comunistas não é fazer da China uma nação democrática unificada, mas transformá-la em uma província sob o jugo do totalitarismo comunista.

Era necessário, portanto, ajudar Chiang a estender a soberania do governo central sobre toda a China, o que somente poderia ser feito pela destruição da soberania do governo rebelde comunista e pela liquidação de seus atributos de poder independente, exércitos, polícia, administração política, sistema financeiro.

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No início da primavera de 1945 os exércitos americanos no continente europeu, com os exércitos inglês, canadense e francês, eram a mais poderosa força armada que jamais existiu em ação através da história. Do ponto de vista militar estava essa força armada em condições de ocupar toda a Áustria, parte da Jugoslávia, muito da Checoslováquia e da Alemanha Oriental e em particular Berlim antes do exército soviético. Tal não foi feito. Os exércitos aliados foram retidos em seu avanço. Todo mundo sabe que esta reticência foi exigida pelo acordo que havia sido firmado em Moscou.

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Aos comunistas foram entregues a Alemanha Oriental, as principais áreas agrícolas da Alemanha, a maior porção de Berlim e o importantíssimo triunfo simbólico de entrar em primeiro lugar em Berlim. De sua base germânica, com Berlim em seu ápice, eles agora procedem em seu plano destinado a estabelecer o controle soviético sobre toda a Alemanha. Fábricas, máquinas e aparelhamentos, são desmontados na Alemanha ocidental em benefício da zona comunista, mas nenhum alimento vem da zona russa para aliada. Vários partidos democráticos são suprimidos ou absorvidos pelos comunistas na zona oriental, mas os comunistas têm plena liberdade de ação na zona ocidental.

Nenhuma esperança é dada pelos aliados ao povo alemão, ao passo que na zona russa, lhes é oferecida a ilusória mas atraente promessa de um Volk (povo) unificado a ser admitido como parte do império soviético.

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Em seguida o autor estuda a pressão soviética sobre a Turquia, que está sendo invadida por verdadeiras ondas de agentes treinados na União Soviética. E assim, passo a passo, suavemente e quase sem luta a não ser os murros dos Gromykos, dos Molotovs sobre as mesas das conferências, vão sendo concedidos todos os pontos chaves e todas as regalias que preparam os caminhos para o bote final planejado pelo imperialismo soviético contra as potências ocidentais.

Se não for posto um veto a esta política, e que afinal as nações aliadas comecem a abandonar o guarda-chuvas para empunhar armas realmente eficazes contra as manobras moscovitas...

O certo é que os dias da soberania dos povos do Ocidente estarão contados, a menos que aconteça um milagre.

Será porém verdade que não se poderá combater a ameaça de um império mundial comunista em formação de outro (... – ilegível) sem que as nações de cunho cristão abdiquem de sua soberania em favor de uma nação (...) como quer o autor da (...) mundo?

É o que tentaremos estudar no nosso próximo número.


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