Plinio Corrêa de Oliveira
Nova et
Vetera
Legionário, 13 de abril de 1947, N. 766, pag. 5 |
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Dentre os fariseus de todos os tempos uma vez ou outra costuma surgir um Nicodemos. Assim é que certo “prelado” cismático atualmente residente na América do Norte fez há poucos dias interessantes declarações à imprensa, pelas quais procurou desmascarar o embuste da atual proteção dispensada pelo governo soviético a uma facção da igreja cismática em troca do apoio por ela emprestado à propaganda bolchevista. Segundo tais declarações, essa aliança entre comunistas e cismáticos foi feita, conforme sempre afirmamos, para mais rápida e eficazmente se proceder ao envenenamento do sentimento religioso, abrindo ao materialismo soviético, por intermédio desses celerados, portas que de outro modo lhes estariam fechadas, sem nos referirmos à impressão falsa, dada por tal aliança, de que o comunismo não mais seria inimigo da religião. A verdade é que as prisões e os campos de concentração da Rússia soviética ainda continuam apinhados de cristãos que o são por convicção e não por conveniência, como afirma o mesmo cismático radicado na América do Norte. * * * Houvesse na Rússia soviética esta mudança em relação à religião, tão apregoada pelos “camelôs” comunistas, e estariam abertas, não apenas alguns templos cismáticos, mas também as igrejas católicas. Em contraste, porém, com esta proteção a alguns judas cismáticos, o que acontece com a hierarquia católica na Rússia? O LEGIONÁRIO há tempos se ocupou do assunto, publicando dados referentes à Igreja Católica na Rússia segundo informações contidas no Anuário Pontifício de 1943. Depois das perseguições sangrentas que resultaram, segundo dados oficiais soviéticos, no assassinato de 28 arcebispos e bispos e de 1.215 sacerdotes até setembro de 1920 (Resanof no livro “Ideologia do Comunismo”, Paris, 1923), a Santa Sé, no ano de 1926 tentou reconstituir a hierarquia católica na Rússia, sendo, porém, frustrado seu intento, por continuarem as perseguições, as prisões e o exílio dos levitas católicos. A terça parte socialista do mundo ainda é um deserto no que diz respeito à ação oficial da Santa Igreja. Provemos como a situação ali permaneceu absolutamente hostil ao catolicismo, valendo-nos agora do Anuário Pontifício para o ano 1946: Em todo imenso território russo há atualmente uma única Província eclesiástica: a de Mohilev, da qual são sufragâneos os bispos de Kamienice, Minsk, Tiraspol e Zyotomir. Também figura nos dados estatísticos da hierarquia católica da Rússia a Administração Apostólica para os Armênios. Vejamos pormenorizadamente, segundo o Anuário Pontifício de 1946, qual a situação dessa mesma hierarquia no território soviético. Arquidiocese de Mohilev: Sede vacante. Administrador Apostólico em Mohilev: Sua Excia. Revma. Mons. Boleslau Sloskans, Bispo Titular de Cittio, Administrador Apostólico de Minsk, nomeado a 13 de agosto de 1926 (no cárcere pela Fé a partir de 10 de agosto de 1927, depois mandado para a Sibéria e agora exilado). Administrador Apostólico em Moscou: Sua Excia. Revma. Mons. Pio Eugenio Neveu, Bispo Titular de Citro (encontra-se atualmente em Paris). Administrador Apostólico em Leningrado: Vago. Auxiliar do Administrador Apostólico: Vago. Administrador Apostólico em Kharkov: Revmo. D. Vincenzo Ilgin, nomeado a 15 de agosto de 1926 (no cárcere pala Fé, depois exilado). Administrador Apostólico em Kazan, Samara e Simbirsk: Rev. D. Miguel Juodokas, nomeado a 1º de setembro de 1926 (no cárcere pela Fé em abril de 1929, depois exilado). Vigário Geral ou Exarca para os católicos de rito bizantino em Moscou: Vago. Diocese de Kamienice: Sede vacante. Administrador Apostólico: Revmo. João Swiderski (no cárcere pela Fé em janeiro de 1930, exilado em setembro de 1932). Vigário do Administrador Apostólico: Revmo. Alexandre Wierzbicki (no cárcere pela Fé desde junho de 1932). Diocese de Minsk: Sede vacante. Administrador Apostólico: - Sua Excia. Revma. Mons. Boleslao Sieskans, Bispo titular de Cilio, nomeado a 13 de agosto de 1926 (no cárcere pela Fé a partir de 10 de agosto de 1927 e agora exilado). Diocese de Tiraspol: Sede vacante. Administrador Apostólico de Odessa para a parte meridional a diocese: Vago. Administrador Apostólico do Volga: Mons. Agostinho Baumtrog, nomeado a 28 de maio de 1926 (no cárcere pela Fé a partir de agosto de 1930) Administrador Apostólico do Cáucaso: Mons. João Roth, nomeado a 28 de maio de 1926 (no cárcere pela Fé a partir de agosto de 1930). Administrador Apostólico de Tiflis e Georgia: Vigário ad interim: Revmo. D. Estevão Demurol. Administrador Apostólico para os Armênios católicos de toda a Rússia: Vago. Diocese de Zytomir: Sede vacante. Administrador Apostólico: Mons. Teófilo Skalski, nomeado a 1º de maio de 1926 (no cárcere pela Fé a partir de 20 de julho de 1926 e exilado em setembro de 1932). Vice Administrador Apostólico: Mons. Casimiro Naskrecky (no cárcere pela Fé a partir de 20 de junho de 1929, exilado em setembro de 1932). Todas estas Dioceses dependem agora da Comissão Pontifícia para a Rússia, criada pelo Santo Padre Pio XI a 6 de abril de 1930, e com sede em Roma, à qual se acham atualmente sujeitos o clero e os fiéis católicos russos de rito latino. Quanto aos católicos russos de rito oriental, se acham sob a jurisdição da Sagrada Congregação para a Igreja Oriental, também sediada em Roma. * * * Completamos porém a transcrição dos dados do Anuário Pontifício: Vicariato Apostólico da Sibéria: Vago Administrador Apostólico da Sibéria Cisbaikalica: Vago. Administrador Apostólico da Sibéria Transbaikalika: Vago. * * * Como se vê, a hierarquia católica na Rússia se acha representada por uma série de sedes vacantes e de prelados presos ou exilados. A esta lúgubre lista podíamos acrescentar a hierarquia da Igreja Católica rutena, que atualmente está sendo perseguida e esfacelada pelo comissário do povo encarregado da coordenação dos cultos... Mas estes dados do Anuário Pontifício são suficientes para demonstrar a proverbial má fé com que é conduzida a propaganda comunista em um país de maioria católica como o Brasil. É irrisório confundir Simão Mago com São Pedro. |