Plinio Corrêa de Oliveira

 

Comentando...
 
Candidatos e eleitores

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 2 de fevereiro de 1947, N. 756, pag. 2

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As atuais eleições estão dando margem a várias verificações interessantes. Pode-se mesmo afirmar que elas servem de termômetro para aferir o estado das massas populares. Nos estreitos limites deste comentário queremos apenas fazer referência a um fato sobremodo significativo que ocorreu no Rio de Janeiro.

Como se sabe, a 19(?) de janeiro, processaram-se na Capital da República as eleições para Vereadores municipais. Inscreveram-se nada menos de 600 candidatos, pelos muitos partidos que ora pululam no Brasil. Ora, destes 600 candidatos um era réu de crime de morte e há 15 anos a polícia lhe andava ao encalço, para cumprir o respectivo mandado de prisão. O que o perdeu foi a propaganda pela qual, querendo anunciar-se aos eleitores, denunciou-se aos perseguidores. Além deste, dois outros candidatos estavam sendo processados criminalmente: um por fraude, outro estelionato. Temos assim um criminoso, um estelionatário e um fraudulento pleiteando no Distrito Federal os favores da vontade popular. Naturalmente trata-se de casos extremos. Mas ninguém ignora que mesmo sem serem criminosos, e estarem sendo processados criminalmente, muitos dos candidatos que se apresentaram às eleições do Rio de Janeiro, não só no Rio, como nos [outros] Estados, eram pessoas absolutamente indignas de ocupar o menor posto na administração pública.

Isto é índice de um estado de espírito.

A desfaçatez, a falta de compostura e de decoro, o cinismo cresceram em tais proporções, que ninguém mais se julga inibido por nada a pleitear o que quer que seja. Mas isto ainda não é o pior. O mais grave é que semelhantes candidatos perceberam que o ambiente social se modificara tão sensivelmente que, apesar de desqualificados, a sua candidatura se tornou possível. O que era inacessível em outros tempos, é hoje, quando muito, uma atitude um tanto audaciosa, nada mais. Pois não é verdade que conhecido bandido dos morros cariocas obteve muitos votos, mesmo sem estar inscrito? E não é muito provável que esse bandido seria eleito vereador, caso fosse candidato? Pelo contrário, não é verdade que pelo menos de um modo geral, no Rio e em São Paulo, os nomes mais representativos pela cultura, pela tradição e pela dignidade estão sofrendo derrotas por vezes acachapantes?

O fato aí está na sua evidência indiscutível. E prova que o senso dos valores de nossas massas populares está inteiramente transtornado. Os predicados que as guardam e as conquistam são outros. E agora basta atribuir o fenômeno aos políticos e aos demagogos. Porque, para haver demagogia não basta o demagogo, é preciso o povo que ama o demagogo e vê nele a expressão dos seus sentimentos. É este fato que nós católicos devemos enxergar.


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