Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

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Despeito de ateu

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 13 de outubro de 1946, N. 740, pag. 2 

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O último recenseamento nacional acusou 95% de católicos na população do Brasil. O que quer dizer que o Brasil pode ser considerado, graças a Deus, um país maciçamente católico. Naturalmente, este fato não podia agradar à ínfima minoria de ímpios, ateus, etc., que, por muito fazer barulho, queriam aumentar a sua importância real. E, contra os fatos, vieram com argumentos.

Assim, por exemplo, um correspondente carioca do “Estado de S. Paulo” entrou em raivas anticlericais, e não pôde deixar de instilar a sua acrimônia nos últimos “bilhetes” que escreveu. Nietsche disse que amava os homens que escreviam com o próprio sangue. Este correspondente certamente não escreve com sangue, mas com a própria bílis. E, esquecendo-se de suas convicções democráticas — tanto pode a paixão! — começou a esbravejar contra 95% de brasileiros, chamando-os nada mais, nada menos, do que Tartufos. Só porque não pensam pela cabeça dele. Os manes de Hitler, Mussolini e Torquemada! Por acaso não será este correspondente algum último remanescente da 5a. coluna? Mesmo porque, se não nos engana a memória, foi este mesmo correspondente que, em 1934, apoiou, em letra de fôrma, a eleição dos sr. Getúlio Vargas para a presidência da República. Se, mais tarde, este sicambro queimou o que tinha adorado, quem nos pode afiançar a sinceridade da sua conversão? “Caveant consules!”

Pois, como íamos dizendo, para o correspondente em questão, 39 milhões e pico de brasileiros são tartufos porque se declararam católicos. E o arrojado jornalista procura demonstrar a sua tese. A grande massa dos que se declararam católicos, diz ele, são apenas católicos de superfície, católicos de tradição, portanto não são verdadeiros católicos, e não foram sinceros quando se declararam tais, no recenseamento. Não é verdade. Em primeiro lugar, a pujança e o fervor do catolicismo no Brasil são fatos que só os sectários não enxergarão. Depois, é verdade que há muitos católicos tíbios, relaxados e, mesmo, indignos. Porém, será que eles são insinceros, tartufos e hipócritas quando se declaram católicos? Isto é ignorar o sentido das palavras. Tartufo ou hipócrita é aquele que ostenta uma falsa aparência de virtude, para mais facilmente dar satisfação a seus vícios, ou promover seus interesses. Assim, será Tartufo e hipócrita o político que faz alarde de convicções católicas, que não possui, com o fim de granjear eleitores. Mas aquele que, desinteressadamente, em ato público e oficial, se declara católico, é católico, embora possa ser um mau católico. E, muitas vezes, o catolicismo é só o que lhe resta ainda de bom.

Reconheça, pois, o correspondente, que se deixou cegar pelo despeito.


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