Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

Nova et Vetera
 
Bolchevistas e muçulmanos, ou

a ameaça do Oriente

 

 

 

 

 

Legionário, 7 de julho de 1946, N. 726, pag. 5

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O Sr. Albert Einstein voltou a escrever sobre o terror atômico e sobre o modo de faze-lo desaparecer mediante a entrega do controle da energia atômica a uma autoridade universal.

Depois de afirmar que “é mias fácil decompor o plutônio do que decompor a maldade que há no espírito dos homens” e de mostrar o perigo que tão tremenda arma pode oferecer na implantação de imperialismos, com a exacerbação dos sentimentos nacionalistas, termina por concluir que a solução do problema se acha menos em regulamentos e mecanismos oficiais do que na mudança das mentes e corações dos homens, com o que estamos plenamente de acordo.

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Outra história, porém, será concordarmos com a conclusão de que “temos que mostrar desejos ardentes de nos submetermos a uma autoridade coletiva, necessária para a segurança do mundo”, isto em virtude da própria dificuldade em “decompor a maldade que há no espírito dos homens”, pois esse supergoverno mundial não será um governo de fantasmas, de seres incorpóreos, mas de homens também sujeitos a essa mesma maldade, fruto do pecado original e aumentada pelo desprezo da graça.

E esses nossos receios não deixam de ter fortes fundamentos se levarmos em conta a importância e mesmo preponderância que o Sr. Albert Einstein procura dar à Rússia soviética no governo mundial que ditará normas para todos os povos.

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Ora, achar que esses homens, sectários seguidores de ideologias totalitárias e socialistas, dissolventes e anticristãs, porão de lado a causa que servem apenas porque passaram a fazer parte de um supergoverno mundial, que usará como sanção o tremendo poder da energia nuclear, é ingenuidade que não se admite nem em um colegial e que não pode ser perdoada em um cidadão de tão altos coturnos no mundo intelectual e científico.

A menos que...

E para verificarmos como de fato é infantil esse desejo de implantar a moralidade no mundo através de quem não tem nem lei nem moral próprias, basta que tenhamos olhos para observar a política expansionista e imperialista da União Soviética.

É a União Soviética, atualmente, politicamente, o maior perigo que paira sobre o mundo. E se atentarmos, sobretudo, para a crescente influência soviética sobre esse gigante adormecido que é o Oriente pagão, bem poderemos compreender qual o verdadeiro terror atômico que ameaça o Ocidente cristão.

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O LEGIONÁRIO por mais de uma vez já se ocupou deste problema, e ainda recentemente o fez ao tratar da ameaça que representa para a civilização católica o movimento muçulmano.

Eis porque procuraremos mais uma vez ilustrar nossa tese com os seguintes comentários publicados no semanário católico inglês “The Tablet”, de 2 de março do corrente ano, sobre o perigo muçulmano e sua exploração pela propaganda soviética:

“O Egito exerce, entre as nações muçulmanas, a liderança que a Turquia perdeu na I grande Guerra, e os jornais do Cairo estão ameaçando o Império britânico com uma “guerra santa”. Esta, em si, pouco significa; a ameaça já foi feita várias vezes. O Primeiro Ministro egípcio, Sldky Pasha, reafirma sua amizade para com a Inglaterra, posto que ao mesmo tempo insista pela pronta retirada das tropas britânicas; mas a situação está carregada de perigo. Nem se suponha que desafoga a situação britânica a possibilidade de um golpe russo contra a Turquia, que hoje é um Estado secular, posto que a grande massa do povo seja maometana. ´Não quero que a Turquia se converta em um Estado satélite`, declarou o Sr. Bevin em recente debate sobre política internacional; e damos nossas boas vindas a uma definição tão pública e autorizada da condição de Estado satélite da União Soviética. E existe agora perigo que essa condição, pela ausência de outra Conferência de Yalta, seja violentamente conferida à Turquia. As palavras do Sr. Bevin vieram muito a tempo; mas se de fato se consumar um tal golpe contra a Turquia, não se verificará que o Islã já se voltou para a União Soviética como a grande adversária do sistema imperial britânico. Nada nas notícias recentes foi mais importante neste sentido que as declarações dos líderes do Congresso Hindu, e em particular as do Sr. Patel, o líder do Congresso em Bombaim, pelas quais afirmou que os recentes distúrbios na Índia foram provocados pelo Partido Comunista.

“A questão das relações entre a União Soviética e o Islã, em seus termos gerais, é de crescente urgência, e em particular a questão das relações da União Soviética com a Turquia tem um interesse imediato de que somente podem capacitar-se as pessoas informadas dos recentes incidentes nas fronteiras dos países, ou que estão a par da natureza e grandeza das celebrações soviéticas do vigésimo quinto aniversário da República Socialista Soviética da Geórgia, território já esquecido recentemente às expensas da S.F.S.R. russa, ou das exigências no sentido de que os armênios devem recuperar sua unidade nacional. Tanto a República Socialista Soviética Georgiana quanto a Armênia encontraram no “Pravda” uma acolhida simpática para a publicação de exigências de revisão de fronteiras à custa da Turquia. Essas exigências se acham, naturalmente, intimamente ligadas às atividades do Partido Tudeh no território persa adjacente do Azerbaijão. E todo o assunto é da mais direta e vital importância para o sistema de comunicações do qual depende o Commnonwealth britânico.

“É uma parte extremamente importante da política internacional soviética, posto que insuficientemente conhecida e confessada, essa procura de apoio e esse trabalho através do Islã. A grande massa da população nas Índias neerlandesas do Oriente é muçulmana e este fato se acha entre os elementos talvez não prontamente perceptíveis, que explicam a recente solicitude demonstrada em favor dos indonésios pelo governo da Ucrânia Soviética. A reocupação pelos interesses muçulmanos é também a chave da participação do Sr. Vyshinsky na discussão da questão levantina no Conselho de Segurança. O acordo anglo-francês que está sendo estudado em Paris para a retirada das tropas britânicas do Levante é visto com inquietação pelos turcos bem como pelos cristãos do Oriente Médio. Os chefes das comunidades cristãs do Levante, tanto o Patriarca Católico Maronita quanto o Metropolita cismático escreveram não há muito tempo ao Santo Padre Pio XII e ao Presidente Truman à procura de apoio para seu desejo de que o protetorado francês não seja extinto. São particularmente de se notar os termos em que o Metropolita cismático do Líbano, arcebispo Elie Karain, escreveu ao Papa a 5 de novembro de 1945 e que contrastam com as expressões usadas por outros metropolitas cismáticos em outros lugares. ‘Santíssimo Padre – diz o Metropolita do Líbano – os cristãos do mundo inteiro se acham acostumados, em todos os tempos e em todos os lugares, a dirigir seus olhares para Roma em seus momentos de infortúnio. Nós, de nossa parte, Santíssimo Padre, posto que um prelado Ortodoxo, aqui estamos a solicitar vosso auxílio no sentido de que possamos triunfar do perigo que hoje ameaça todos os cristãos do Oriente Próximo’.

Perigo, eis a palavra exata. O ponto focal da crise do mundo se deslocou nestes últimos tempos da Europa Central para a Ásia, abrangendo neste termo não somente a China e a Manchúria, a Índia e a Indonésia, mas também o Oriente Próximo e o Oriente Médio”.

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Pergunta-se: um governo mundial em que eventualmente o destino da humanidade esteja confiado a um Molotov qualquer, que assim desperta tão catastrófica tempestade pagã sobre a Ásia para tragar primeiro o Oriente cristão e em seguida o próprio Ocidente, um tal supergoverno de fato eliminaria o terror da face da terra, ou, pelo contrário, não estaríamos em sua presença face a face com o filho da iniquidade?