Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

Nova et Vetera

 

"Plus ça change,

plus c’est la même chose"

(expressão muito corrente na França: mais isto muda, mais é a mesma coisa)

 

 

 

Legionário, 5 de maio de 1946, N. 717, pag. 5

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A época dos führers ainda não passou. Muito pelo contrário, poderíamos dizer que estamos em seu limiar. Com Hitler, Mussolini, Mustafá Kemal e outros caciques totalitários que os macaquearam no mundo inteiro, a série apenas teve início. E agora, não somente o mundo suporta a carga indesejável do führer vermelho que se chama Stalin, e de seus satélites suburbanos do tipo do “marechal” Tito ou do sr. Luiz Carlos Prestes, mas também sofre ameaça do ressurgimento de novos führers da ala totalitária da direita.

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Para tanto concorre a ingenuidade dos católicos que insistem na cegueira que os impede de vislumbrar a manobra das forças secretas no sentido de desviar a reação contra o totalitarismo da direita em favor do totalitarismo da esquerda, e a reação contra o totalitarismo esquerdista em favor do totalitarismo direitista.

É uma lei inexorável dessas forças do mal que, fora da agitação esquerdista ou da agitação direitista, apenas deve haver a confusão do democratismo liberal, que no final das contas, também deve terminar numa ditadura vermelha, preta ou furta-cornunca porém, de acordo com os desígnio da seita, na tranquilidade da ordem social emanada dos Evangelhos.

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Como também é uma norma agora uniformemente seguida por esses inimigos da ordem social cristã que a luta nessas três frentes - a liberal, a esquerdista e a direitista - não deve ser levada avante ostensivamente contra a Igreja, mas indiretamente, de modo encoberto, e até com a colaboração preciosa dos católicos dominados pela praga do adesionismo e do falso espírito de conciliação.

Com efeito, se estudarmos os progressos feitos pela campanha sectária nessas várias frentes, veremos que eles são devidos mais aos cavalos de Tróia colocados dentro da fortaleza católica, do que à belicosidade de nossos inimigos externos.

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Foi o caso da França no começo deste século, quando a fraqueza dos católicos constituiu o maior fator da vitória dos sectários em sua luta contra os direitos da Igreja. E esse submissionismo à “ordem social”, de que os Briands e Clemenceaus eram os gendarmes, é bem um espelho do que veremos na atitude de vários católicos nas lutas políticas que hoje se desenrolam em várias partes do globo.

Eis porque é oportuno lembrar o retrato que desse espírito adesionista fez Aventino em seu livro “Le Gouvernement de Pie X”:

Pio X, em várias circunstâncias, chamara a atenção dos fiéis para os inimigos de fora, os anticlericais, e os de dentro, os modernistas, que se empenham em destruir a religião e a civilização cristãs. Fê-lo, segundo o caso, com maior ou menor amargura ou veemência. A Encíclica, por ocasião do centenário de Santo Anselmo, primado da Inglaterra e doutor da Igreja, permitiu-lhe insistir sobre o tema ainda mais uma vez, e em termos que nos impressionam vivamente. Mas a nota original, que nos interessa no momento, é dada pela passagem em que Pio X estigmatiza o que ele chamava ‘a vil neutralidade’: ‘Ainda pior é o erro daqueles que alimentam a vã esperança de conseguir uma paz efêmera pela dissimulação dos direitos e dos interesses da Igreja, sacrificando-os aos interesses privados, diminuindo-os injustamente, pactuando com o mundo que se acha todo inteiro mergulhado no mal: tudo isto sob o pretexto de reconduzir à Igreja os fautores de novidade, como se fosse possível um acordo entre as trevas e a luz, entre Belial e Cristo. Sonhos de espíritos doentios, tudo isto; jamais tais quimeras deixaram de ser forjadas, e não se cessará de fazê-lo enquanto houver soldados covardes sempre prontos a fugir, jogando fora seus escudos, no momento em que devem enfrentar os inimigos; enquanto houver traidores sempre dispostos a pactuar com o inimigo, que neste caso é o inimigo irreconciliável de Deus e dos homens’.

“Façamos o censo dos efetivos que combatem pelo Mal e pelo Bem e analisemos as condições nas quais se desenrola a luta.

“Veremos que são pouco numerosos os defensores zelosos da religião, prontos a se sacrificar pelo triunfo de sua Fé; igualmente pouco numerosos são aqueles que combatem Deus e nossa civilização cristã, com todas as forças de seu ser e com a convicção, por errôneo que seja, de combater pela humanidade. Pode-se dizer que a luta se acha circunscrita entre as duas alas extremas do Bem e do Mal; isto é verdadeiro tanto em França quanto em outros lugares cristãos em que a luta se apresenta sob aspectos diversos, mas sempre tendendo para o mesmo alvo.

“Nessas condições, como explicar que uma luta, reduzida a tão diminutos efetivos, tenha podido acarretar tão terríveis consequências e abalar as bases seculares da civilização cristã, que, dando a todos os homens, qualquer que seja sua raça, o laço comum que os transforma em filhos do mesmo Deus e da mesma Fé, permitiu entretanto a todos os patriotismos que livremente evoluíssem e que se encontrasse na religião uma fonte sempre vivificante de grandeza das nações?

“É forçoso admitir que um outro fator entrou em jogo para assegurar o triunfo momentâneo de nossos inimigos. É o fator que Pio X denominou “neutralidade”, a ela acrescentando o epíteto de “vil”, quando essa neutralidade é aceita pelos bons, pelos católicos.

Se, desde a primeira hora, todos os católicos tivessem uma visão clara de seu dever, se eles tivessem reivindicado com bravura seu lugar ao sol e o respeito de seus direitos naturais ou de seus direitos adquiridos, a noção exata da justiça teria sido despertada entre os não-crentes e entre os indiferentes cuja massa vem formando a vanguarda da neutralidade benevolente para com nossos inimigos declarados. Em alguns desses inimigos, idêntica noção talvez se manifestasse, pelo menos o espírito político os impediria de ultrapassar os limites da prudência. As confissões do Sr. Briand aí estão para provar que, na falta de bons sentimentos, os homens da seita sabem obedecer ao medo”.

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Na história recente do fascismo, do nazismo e de outros governos congêneres que surgiram quando o totalitarismo da direita estava em voga, uma das maiores forças desses regimes ditatoriais e socialistas lhes vinha da neutralidade por parte dos católicos desprovidos da necessária perspicácia para perceber seus rumos ou que, pela impassibilidade, eram cúmplices deliberados do que se tramava, muitos dos quais permaneceram nessa cômoda atitude, apesar das reiteradas advertências e condenações da Santa Sé Apostólica. Isto sem falar no franco colaboracionismo tipo Von Papen.

Do comunismo e das várias correntes esquerdistas é escusado citar exemplos dessa atitude suicida, bem como exemplos da ala da francapolítica da mão estendida”. Estamos diante de fatos notórios e contundentes, cujas nefastas consequências só podem negar os cegos e surdos voluntários.

E enquanto tivermos pelas costas esses laxos (covardes, n.d.c.) e esses traidores da causa católica, estaremos na situação crítica de soldados que combatem entre dois fogos.