Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

Nova et Vetera
 
Colaboracionismo libero-nazi-comunista

 

 

 

 

 

Legionário, 7 de abril de 1946, N. 713, pag. 5

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Para a realização do plano de iniquidade que visa impor ao mundo o totalitarismo socialista, pela “omnipotência do Estado, omnipresença do governo, abolição da iniciativa local e privada, supressão da associação voluntária e livre, dispersão gradual dos pequenos grupos espontâneos, interdição preventiva das grandes obras hereditárias, extinção dos sentimentos pelos quais o homem vive além de si próprio, no passado e no futuro”, para a total reestruturação da sociedade sobre bases naturalistas que representem a mais completa extirpação dos princípios em que a civilização católica se fundamenta, os sectários lançam mãos de todos os meios ao seu alcance, aparecendo ora como lobos, ora como ovelhas e confundindo os incautos com suas aparentes incongruências e contradições.

Estamos em pleno domínio do fantástico e do vertiginoso. (...) A ingenuidade de muitos católicos impede que eles percebam a audácia de quem se vale dos próprios inimigos para realização, de seus planos e que o trabalho da seita se baseia num profundo conhecimento da psicologia dos povos.

Já o autor (Mons. Henri Delassus, n.d.c.) de “La Conjuration Antichrétienne” bem percebia esse senso de oportunidade da campanha em favor do socialismo, ao afirmar várias dezenas de anos antes do aparecimento do nacional-socialismo:

O socialismo é patriótico na Alemanha, com Bebel, internacionalista em França, com Jaures. Um e outro obedecem sem dúvida à impulsão de um único e mesmo motor, que deseja deprimir a estes, sobrexcitar aqueles, para tornar mais fácil e mais certa a vitória do que se deseja, no momento engrandecer e elevar”.

“Os alemães, diz Fustel de Coulanges, têm o culto da pátria e entendem a palavra pátria em seu verdadeiro sentido: é a “Vaterland”, a terra dos ancestrais. É o país tal como os antepassados o conceberam e o fizeram. Amam este passado e dele falam como de uma coisa santa”.

Ora, não há virtude que não seja passível de deturpação. Não escapa a esta regra o sentimento de patriotismo. E já em meados do século passado, nas instruções da Alta Venda italiana para corrupção do Clero, se achava a recomendação de torná-lo “patriota”. Foi o que com grande senso psicológico se fez para fazer vingar o socialismo totalitário na Alemanha valendo-se do grande pendor nacionalista do povo teuto e da cegueira que acompanha a psicose política.

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Eis o que parcialmente explica a cegueira de muitos católicos alemães que, magnetizados pela paixão patriótica em sua deturpação nacionalista, foram surdos à voz da Igreja e assim prepararam a ruina de sua pátria, entregando-a de mãos amarradas aos inimigos que julgavam combater, mas que na realidade, na alta direção do nazismo, canalizavam essas energias do povo alemão em benefício dos desígnios das forças do mal. E não foi em vão que Goebbels declarou estar assegurada a vitória do nazismo pela implantação do socialismo no mundo de após-guerra.

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O colaboracionismo dos católicos alemães não difere, porém, de outras espécies de colaboracionismo que vêm surgindo em diferentes quadrantes do globo e em diferentes épocas.

E é este o ponto que hoje pretendemos abordar. De nada valeriam os esforços despendidos pelos inimigos da Igreja através dos seus variados meios de ação, associações secretas, agências de publicidade, teatros, modas, jornais, Internacionais proletárias, governos liberais e maçonizados, seitas heréticas e cismáticas, juventudes hitleristas e fascistas e outros focos de neo-paganismo, se os católicos se abstivessem de colaborar em todos esses ramos de atividades anticristãs.

A verdade, porém, é que o prurido colaboracionista provoca verdadeiras devastações nas hostes católicas, fruto por vezes de um inexplicável complexo de inferioridade que faz muita gente deixar desconfiar na ação da Igreja e de sua doutrina para, pelo contrário, condicionar a salvação não somente do mundo, mas da própria Igreja, a esses conluios e a essas colaborações.

Estamos diante de um velho conhecido: tanto os que aceitaram a mão direita de Hitler, quanto os que agora empalmam sofregamente a esquerda de Stalin, ambos são a reencarnação viva do “católico-liberal” tão magistralmente caricaturado por Veuillot na figura grotesca de Ercole, o italiano irredentista que, como “patriota” era partidário de Garibaldi, e como católico desejava colocar a Igreja no ar, a fim de livrá-la do mundo, e o mundo por sua vez dEla ficasse livre...

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E assim como o “católico-liberal” dizia que “o Pontífice Romano pode e deve reconciliar-se e transigir com o progresso, o liberalismo e a civilização moderna” (proposição 80 do Syllabus), e gostosamente colaborou com os sectários na implantação da então nova ordem liberal e hedonista, do mesmo modo vemos os “católicos-nazistas” retirar seu apoio ao Partido do Centro ouvindo a voz de sereia dos renegados do tipo Von Papen que prometiam à Igreja uma “proteção” como nunca se vira igual na história do mundo...

Vemos na atitude dos católicos alemães que colaboraram com o nazismo mesmo falso espírito liberal de conciliação, o mesmo desprezo pela voz da Igreja, o mesmo enfraquecimento do espírito de Fé, a mesma indiferença diante do erro religioso, a mesma deturpação do conceito de caridade, que os fazia esquecer a bondade infinita de Deus e seus direitos imprescritíveis, os inalienáveis direitos de Sua Igreja, para apenas se ocuparem dos direitos do povo alemão, do mesmo modo que o liberal da velha guarda apenas se preocupava com os direitos do homem... A mesma prudência da carne que os fazia recuar diante de um movimento que parecia irresistível...

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E é esse colaboracionismo de fundo liberal que faz surgir agora os “católicos-socialistas” ou os “católicos-filo-comunistas”... Videntes uns, desorientados outros, todos vão, de cambulhada com os sectários e apóstatas, ajuntando lenha para a fogueira em que os verdadeiros fiéis serão imolados em holocausto aos modernos ídolos da nova ordem proletária.

Encontramos, neste tipo de colaboracionistas, a mesma falta de docilidade aos ensinamentos de Roma, que forjou o epíteto de ultramontanos para ferretear os que estão com o Papa, os que não são partidários da transformação do catolicismo em um protestantismo largo e acolhedor, no qual todos os homens poderão encontrar-se, quaisquer que sejam suas idéias sobre Deus, sobre Suas Revelações e sobre Seus Mandamentos.

Se a Igreja oficialmente declara, por exemplo, que não se pode sustentar “ser falso que a liberdade civil de todos os cultos e que o pleno poder deixado a todos de manifestar aberta, publicamente, todos seus pensamentos e opiniões, lancem mais facilmente os povos na corrupção de costumes e de espírito, e propaguem a peste do indiferentismo” (Proposição 79 do Syllabus); se o Código Social de Malines afirma que “o comunismo visa uma implacável luta de classes e o desaparecimento completo da propriedade privada” e que, “por causa da razão injusta e ímpia do comunismo, a autoridade pública deve reprimir sua propaganda”; se o Santo Padre Pio XI previne os fiéis contra os comunistas que, “sem renunciar um instante a seus perversos princípios, convidam os católicos a colaborar com eles no campo que denominam humanitário e caritativo” (Encíclica “Divini Redemptoris”), nem por isso o colaboracionista “católico” e filo-comunista se dá por achado. Bate-se pela plena liberdade de propaganda do credo vermelho, fazendo especiosas distinções entre comunistas e comunismo, como se a mentira e o mentiroso, o peculato e o peculatário, a traição e o traidor pudessem ser dissociados, como se a cadeia fosse para a chantagem e não para o chantagista... Colabora de bom grado com os comunistas no campo que denominam “humanitário e caritativo” como se faltassem instituições católicas em que tal zelo pudesse ser aproveitado. E diante do expansionismo visível do totalitarismo soviético, não têm uma palavra de condenação para essa nova onda de vandalismo.

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Alertemos a consciência católica contra esse colaboracionismo nefasto, seja qual for o erro que se procure conciliar com a verdade.

Para os de boa-fé, que valha a advertência. Para os outros, os lobos com pele de ovelha, fale São Paulo por nós: “Do mesmo modo que Janes e Jambres resistiram a Moisés, assim resistem eles à verdade, homens de espírito corrupto e mal seguros na Fé. Mas não irão longe, porque a sua insensatez se há de tornar manifesta a todos, a exemplo do que se deu com aqueles” (II Timóteo, 3-8 e 9).