Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

Nova et Vetera
 
A serpente sai da toca

 

 

 

 

 

Legionário, 24 de março de 1946, N. 711, pag. 5

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TRABALHAM as sociedades secretas pela substituição da ordem sobrenatural, em que vivemos, pela ordem natural, nas idéias e nos costumes, nas pessoas e nas instituições. O maçonismo é essa substituição gradativa nas almas e na sociedade. E nessa luta ele costuma empregar dois gêneros de associações: as que visam diretamente o fim supremo dos sectários, que são as sociedades secretas propriamente ditas, e as que colaboram de modo indireto, as sociedades intermediarias do tipo da Internacional proletária, da Liga pró Ensino Leigo, Rotary Clubes, empresas editoras, etc.

Vejamos alguns episódios ilustrativos da difusão do socialismo através desse segundo grupo de associações secretas.

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O alvo visado pelas setas envenenadas dos enciclopedistas não era a Revolução Francesa. Esta, com todos os seus horrores, foi apenas uma etapa intermediaria. O desfecho lógico daqueles erros doutrinários, sobretudo da teoria do Contrato Social (... de) Jean Jacques Rousseau, seria o estado totalitário socialista. Mas para chegar até ele, sem receio de um insucesso, melhor seria desagregar em primeiro lugar a sociedade em seus quadros tradicionais, mediante o liberalismo.

François Noël Babeuf (1760-1793), também conhecido como Gracchus Babeuf

Houve, porém, um balão de ensaio já nos dias da Revolução Francesa, e podemos dizer que o socialismo hodierno começa com Babeuf. Tanto Babeuf, quanto seu aliado Sylvain Maréchal, são frutos diretos da Enciclopédia e discípulos lógicos de Jean Jacques.

Unidos ao agitador Buonarroti, fundaram em Paris a sociedade secreta socialista, conhecida por “Sociedade dos Iguais”. Em seu primeiro manifesto diziam estes precursores dos Prestes e Kalinins de hoje: “A natureza deu a cada homem um direito igual ao gozo de todos os bens”. E Gracchus Babeuf, chefe do clube maçônico dos “Iguais”, lutava pela distribuição de todas as terras e de todas as riquezas aos cidadãos pobres, como uma consequência natural dos princípios revolucionários e de suas aplicações práticas.

Desejamos a igualdade real ou a morte”, dizia ainda o manifesto. “Pereçam todas as artes, se for necessário, desde que nos reste a igualdade real! Nada de propriedade individual das terras; a terra não é de ninguém. Reclamamos, queremos o gozo comum dos frutos da terra; os frutos são de todo o mundo”. Eis uma aplicação textual e direta das doutrinas de Rousseau. Na sociedade sonhada pelas forças secretas apenas existirão duas unidades: o indivíduo e o Estado totalitário e onipotente, este dono de tudo e aquele nada possuindo, mas tudo recebendo das mãos dos “comissários do povo” aliados de César...

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A verdade, porém, é que Gracchus Babeuf foi um pouco afoito e pôs o rabo revolucionário de fora um tanto prematuramente. E as forças secretas o trataram como costumam tratar os que não decoram convenientemente o recado ou ameaçam pôr a perder os planos da seita. O Diretório desencadeou contra o “Clube dos Iguais” uma repressão de incrível brutalidade. Sob a acusação de “conspiração contra a segurança da República”, os membros da tal sociedade foram perseguidos e condenados. Babeuf e outro conjurado suicidaram-se na prisão, e Buonarroti acabou exilado.

Mas os germes socialistas apenas entraram em período de hibernação, e embora com exceção de (Pierre-Joseph) Proudhon (1809-1865), os seus subsequentes cultivadores fossem puros teóricos sem influência política imediata, suas idéias, difundidas no seio das massas, foram criando um ambiento propício à futura eclosão do totalitarismo socialista, coadjuvadas pelos males do liberalismo.

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Em 1819 surge na Alemanha uma sociedade secreta denominada “União dos Judeus pela Civilização e pela Ciência”. Eram seus principais elementos o professor Leopoldo Zunz, de Berlim, e o célebre Moisés Moser. A ela aderiram vários outros israelitas, entre os quais se achava Karl Marx.

Em seu trabalho “O Socialismo, exército visível das seitas”, eis como Pierre Loyer se refere a esta fase da “evolução” totalitário-socialista: “Imaginai todo esse grupo de judeus apaixonados pela grandeza de Israel, e construindo com uma febril agitação o novo sistema político social e religioso de que iria sair o internacionalismo, o coletivismo, o sionismo”.

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Alguns anos mais tarde Karl Marx se transfere da Alemanha para a França, onde passa a dirigir os “Anais Franco-Alemães” sempre na mesma diretriz. Esta revista, em que expôs pela primeira vez sua teoria da luta de classes, era o porta-voz de uma sociedade secreta filiada à “Jovem Europa” de Mazzini, e fora fundada por Arnold Ruge, a quem Marx ficou conhecendo por intermédio de Henri Heine outro sócio da “União dos Judeus pela Civilização e pela Ciência”.

O clima, em França, não era, porém, muito favorável a essas atividades socialistas durante a Restauração e Marx se refugiou na Inglaterra, país que começou a servir de trampolim para suas conspirações no Continente europeu.

E aos poucos os sectários começaram a passar da ação secreta à ação visível, até que afinal Marx funda sua Primeira Internacional.

No mês de novembro de 1847 os socialistas alemães se reúnem em conferência em Londres e resolvem convocar um congresso internacional em Bruxelas no ano de 1848. Mas a derrota sofrida pela revolução de 1848 em França impediu a realização desse congresso.

Em 1850 várias cidades da Alemanha já possuíam associações proletárias conhecidas pelo nome significativo de “comunas”. Os chefes dessa conspiração eram Engels e Marx. Data desta época o “slogan”: “Proletários de todos os países, uni-vos!”

Além dessa “Internacional” proletária, surgiu pela altura de 1850, entre outras associações do mesmo gênero, a “Aliança internacional da democracia socialista” organizada pelo famoso niilista Bakunin. O fim desta sociedade, paralelo ao da Internacional de Marx e Engels, era o nivelamento completo de todos os homens.

Usando da mesma hipocrisia dos Stalins de hoje, diziam esses “democratas” socialistas no artigo 4º. de seu programa:

“Inimiga de todo despotismo, não reconhecendo outra forma política a não ser a republicana, ela (a “Aliança democrata socialista”) rejeita absolutamente toda aliança reacionária” (por “reacionário”, já naqueles tempos, se entendia “transação com as antigas e tradicionais formas de governo”...).

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A serpente pusera, portanto, a cabeça de fora. E aí está porque Leão XIII em 1878, no primeiro ano de seu longo pontificado, dizia na Encíclica “Quod apostolici”, depois de aludir a uma “peste mortal” que se introduzia “como serpente por entre as articulações mais íntimas dos membros da sociedade humana”:

“Vós compreendereis facilmente que Nos referimos a essa seita de homens que, sob nomes diversos e quase bárbaros, se chamam socialistas, comunistas ou niilistas, e que, espalhados sobre toda a superfície da terra, e estreitamente ligados entre si por um pacto de iniquidade, já não procuram um abrigo nas trevas dos conciliábulos secretos, mas caminham ousadamente à luz do dia, e se esforçam por levar a cabo o desígnio, que têm formado de há muito, de destruir os alicerces da sociedade civil”.

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Continuaremos.