Plinio Corrêa de Oliveira
Nova
et Vetera
Legionário, 17 de março de 1946, N. 710, pag. 5 |
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Para que possamos compreender exatamente a natureza dos problemas políticos, econômicos e sociais do mundo moderno, será forçoso que renunciemos à tentação de apreciar os fatos ou acontecimentos e as lutas ideológicas tais quais se apresentam em seu aspecto puramente externo. Necessário se torna que perscrutemos por detrás dos bastidores, que travemos conhecimento dos truques usados na encenação, que conheçamos o “contra-regras” e que entrevistemos o “ponto”. Do contrário teremos uma impressão epidérmica dos acontecimentos e confundiremos a vida real dos atores com a comédia que representam. Aqui está justamente a diferença entre o espírito geométrico e o “esprit de finesse” (a sutileza de espírito, n.d.c.) a que aludia Pascal. Não nos detenhamos nas aparências externas das coisas, tanto no campo ideológico quanto na esfera das realizações práticas ou políticas, mas procuremos indagar suas segundas intenções, seu significado real e profundo, os desígnios ulteriores daqueles que as suscitam ou promovem. * * * A Igreja, inimiga de superficialidades e frivoleiras (futilidades, ninharias, n.d.c.), não podia deixar de encarar esse importante aspecto subterrâneo dos fatos políticos e sociais. E tudo que se disser em torno da “Rerum Novaru” e da “Quadragesimo Anno” não passará de pura declamação ou “falar de mais alto”, segundo o Padre Vieira, se não se levar em conta essa luta surda que as forças do mal desencadeiam contra a civilização católica. * * * Não é apenas pela consulta dos documentos pontifícios e dos autênticos representantes da Inteligência católica que tomamos conhecimento desse verdadeiro mundo subjacente. A verdade, diz o Evangelista, não fica para sempre escondida, mas acaba surgindo em praça pública e por sobre os telhados. E se o normal é que fora da Igreja esses fatos se tornem conhecidos de modo parcial e incompleto, não deixa, entretanto de ser interessante que eles sejam observados em quadrantes ideológicos tão diversos. Lemos assim, no “Figaro” parisiense de 23 de maio de 1930 as seguintes curiosas revelações: “Não se pode negar que certos seres, mesmo à grande distância, impõem sua vontade a outros seres mais fracos. Em Paris como em Berlim, em Londres, em Nova Iorque, uma multidão de pretensos magos exerce um temível império sobre variados rebanhos de gente crédula ou de vítimas. Ordinariamente eles se contentam em os despojar; outras vezes, arrastam-nos irresistivelmente a atos culpáveis. “Dever-se-á supor que um poder oculto e formidável exerce as mesmas influências sobre a coletividade humana em bloco? Quando vemos toda a espécie humana nas portas da demência, e os povos se precipitarem às cegas no abismo, será fora de propósito imaginar um envolvimento coletivo, cuja urdidura seria feita em antros tenebrosos? “Sem remontar a épocas afastadas, somos obrigados a convir que a história dos dois últimos séculos se torna ininteligível sem um conhecimento pelo menos aproximado das sociedades secretas, de seus laços mútuos, de sua afiliação, de sua atuação. “Os nomes de Mesmer e de Cagliostro são familiares ao público dos romances-folhetins, mas pouco se conhece de Weishaupt, do Doutor Falk, desencadeado sobre a Inglaterra em 1740, até aos Rudolph Steiner, Leadbeater, Aleister Crowley, Blavatsky, Krishnamurti, Freud e Raspoutin; do iluminismo e da Rosa Cruz à Ordem Universal, aos Iniciados do Tibet; das indiscrições de Disraeli às revelações de Walter Rathenau e às “Predicões” de Cheiro, a pista nunca se interrompeu. As idéias mestras, as diretrizes se mostram análogas e convergentes. “É lógico concluir que elas emanam da mesma fonte. “Já nos referimos, há tempos, a um singular romance publicado na Inglaterra sob o título “The Nameless Order” (A ordem sem nome); assinalamos hoje um estudo aparecido sob o título “Light-Bearers of Darkness” (Os porta-luzes das Trevas): seu autor anônimo conclui pela existência de uma conjuração contra a liberdade, contra a civilização, contra a alma dos novos, dirigida por esse poder terrível, cujo nome, como o de Javé, não deve ser pronunciado. “Contemplemos o aspecto do mundo neste início do século vinte, e decidamos se a hipótese é absurda”. * * * Ora, à vista da documentação existente sobre o modo de agir dos mentores ocultos da revolução social que se processa no mundo hodierno, como explicar a atitude de certos estudiosos, alguns dos quais estadeiam sua qualidade de católicos e que, no entanto, apresentam a chamada “nova ordem proletária” como simples fruto natural da luta desencadeada pelas massas proletárias contra as elites burguesas? Terão bastante candura para não perceber que por detrás dessa massa se acha uma elite de audaciosos, e que de dentro dessa “clique” de agitadores sairá o ditador que em geral coroa essas aventuras revolucionárias? Ou de fato são falsos defensores da liberdade e das reivindicações populares? De um modo ou de outro, tais analistas dos fatos políticos e sociais se identificam com aqueles cães mudos a que se refere o profeta Isaías. E aqui ocorre outra pergunta relacionada com as duas que vão acima: tal silêncio no que diz respeito ao aspecto subterrâneo da revolução social será ditado por simples prudência carnal ou completa impermeabilidade a estes fatos notórios e contundentes, ou antes será inspirado pelo receio de quem, por morar em casa de enforcado, não deseja falar em corda? Deixemos as respostas, em cada caso particular, confiadas à argúcia de nossos leitores e continuaremos, de nossa parte, a concorrer, na medida de nossas forças, para o preenchimento desse vácuo, mediante o estudo de certos aspectos desse trabalho que se desenvolve por detrás dos bastidores. * * * Neste sentido, iniciaremos oportunamente uma breve história do socialismo contemporâneo. Antes, porém, queremos frisar, mais uma vez, que fugiremos do esquema arqui-explorado pelas forças secretas de separar a história do socialismo da história da direita totalitária, que também é socialista, que também é revolucionária, que também acaba por conduzir as massas para a esquerda. * * * Já dizia Leão XIII que a finalidade constante da maçonaria, além do naturalismo e da indiferença religiosa, é a supremacia do Estado. E que é a supremacia do Estado senão o totalitarismo? Ora, se de acordo com o mesmo Soberano Pontífice o liberalismo, o socialismo, o comunismo, são armas usadas pelas seitas secretas nessa mesma luta contra a Cidade de Deus, não incorramos no erro de abrir fogo contra as peças de artilharia e contra as fortalezas sem visar as respectivas guarnições. Iniciando estas notas ligeiras sobre as origem ocultas do socialismo, reiteremos nosso propósito de pisar na cabeça da serpente e não no rabo, como costuma acontecer. |