Plinio Corrêa de Oliveira
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Legionário, 17 de março de 1946, N. 710, pag. 2 |
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Afirmou, ainda não há muito, o líder hindu Ramauam Mudaliar, chefe da delegação de seu país na ONU, Presidente do Conselho Social e Econômico, que a Organização das Nações Unidas deve ter ampla jurisdição sobre as seguintes matérias: casamento, divórcio e sucessão, situação da mulher e outros assuntos essenciais. Lembre-se que, em princípio, a O.N.U. representa um tipo de associação internacional muito mais apertado do que a antiga Liga das Nações. Aliás a própria expressão “Nações Unidas” sugere a ideia de Unificação, de um governo único supranacional, para todo o universo. Mesmo porque, esta é uma ideia que está tomando corpo cada vez mais, e já há quem afirme que após a descoberta da bomba atômica, ou esta ideia se concretiza, ou o mundo não poderá sobreviver. É provável que muitos obstáculos se atravessem ainda no caminho deste plano. A condição prévia deste grande empreendimento é o perfeito acordo do “Big Tree”, e tal acordo se torne cada vez mais precário. Porém, uma vez solucionado o caso entre o totalitarismo vermelho e as democracias ocidentais (e esta solução virá de uma forma ou de outra, dentro de pouco tempo), aquele projeto se tornará realidade a prevalecerem os atuais rumos da humanidade. É em face destas premissas que deve ser considerada a reivindicação do líder hindu dos assuntos matrimoniais, educacionais e do ensino para a jurisdição da O.N.U. Trata-se de reconstruir o mundo, a civilização e a cultura sob a tutela de um governo supranacional universal. Ora, houve um momento na História em que também se pôs o problema de reconstruir um mundo pelos alicerces. Nesta ocasião foi também um poder universal e supranacional que levou a cabo a pesada tarefa: a Igreja Católica. E os principais instrumentos de que se serviu a Igreja neste colossal empreendimento foram precisamente a educação, o ensino e a família. Em outros assuntos, Ela se limitou a dar o primeiro impulso e a zelar pela observância des princípios; mas estes assuntos Ela os reservou para si, agindo direta e imediatamente. E isto é perfeitamente explicável. Por pouco que se reflita, ver-se-á que o casamento, a educação e o ensino são os pontos mais delicados e fundamentais para a formação de uma sociedade e de uma civilização. Quais forem eles, tal será o mundo que deles nascerá. Pretende-se agora atribuir a jurisdição sobre este ponto à Organização das Nações e, portanto, ao futuro governo universal, que é o corolário lógico desta Organização. A O.N.U. será assim investida de extenso poder espiritual outrora reconhecido à Igreja, e do qual Ela jamais abriu nem abrirá mão. Nota-se, assim, como já temos observado, que os homens perceberam perfeitamente que não bastam as fórmulas políticas para manter o equilíbrio do mundo, mas que se impõe antes de mais nada o trabalho interior sobre as consciências. Percebe-se claramente em nossos dias a necessidade dos valores espirituais e mesmo da Religião. Porém não se quer reconhecer na Igreja Católica, a Igreja de Cristo, a única verdadeira à cuja autoridade todos devem curvar-se. Em lugar dEla, procuram-se sucedâneos. Que virá daí? |