Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

Comentando...

Clero e a política

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 3 de março de 1946, N. 708, pag. 2

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A Assembleia Constituinte italiana aprovou, não há muito, a seguinte resolução: “Serão impostas penas de prisão de três meses e seis anos e multas de 3 mil a 20 mil liras aos ministros religiosos que, por discursos em locais públicos e em comícios de caráter religioso, ou por promessas ou ameaças espirituais, tentem induzir ou obrigar as pessoas a votar em certos candidatos, ou induzi-las a se absterem de votar”.

Eis aí a espécie de democracia que se está forjando na Itália. Direitos políticos dos mais elementares, que se reconhecem a todos, são subtraídos ao Clero italiano. Só os sacerdotes não se poderão pronunciar sobre assuntos permitidos a todos os demais. Por que? Será que a Assembleia Constituinte acha que os sacerdotes são de nível moral inferior a todo o resto da população italiana? Ou será que ela acha a atual política italiana tão imoral que não convém à santidade do Clero?

Não se objete que o que foi vedado aos sacerdotes foi apenas o aspecto pessoal da política, o seu lado mais nitidamente partidário, deixando ao Clero o direito de discutir livremente as teses teóricas da política. De vez em quando, notam-se, mesmo entre nós, uns pruridos de reduzir as lutas políticas a meros debates de ideias e de programas, pondo inteiramente de lado a discussão a respeito das pessoas. Evidentemente, a questão das ideias e dos programas deve ter a primazia; do contrário, tudo degenera em brigas de comadres, em altercações e insultos, como tantas vezes se verificaram aqui. Porém, não é nem um pouco evidente que não se devam considerar as pessoas envolvidas na política. Afinal de contas, de nada adianta arquitetar uma bela geometria de princípios políticos abstratos, que jamais devessem ser postos em prática. Toda especulação política tem necessariamente em mira alguma transformação ou aperfeiçoamento da realidade social concreta: do contrário, tal especulação seria pueril e sem razão de ser.

Ora, os princípios teóricos da política só se transformam em realidade social através dos homens que fazem a política, isto é, através dos políticos; simplesmente não há outro caminho. Sendo assim há uma dupla indagação a ser feita em relação à pessoa dos políticos: se tem idoneidade moral e se tem a necessária habilidade para governar. E, como vimos que os políticos são os instrumentos dos princípios abstratos, cabe ainda a importantíssima indagação geral sobre os princípios que eles incarnam e tornam eficientes. E aqui vemos o lado pessoal de toda política que não queira ser ociosa.

Ora, ninguém pode negar que, excluída a questão da habilidade de governar, que é assunto puramente temporal, a Igreja e, portanto, o Clero, não tenha alguma palavra a dizer sobre estas coisas. Se a Igreja pode e deve combater os programas políticos contrários à moral católica, também pode combater os políticos que querem realizar tais programas.

Mas além deste lado negativo, há outro positivo. A Igreja não quer apenas impedir que certos princípios deletérios sejam levados à prática, mas Ela também tem certos princípios que devem informar a comunidade política. Desde que, eventualmente, surjam políticos que certamente querem realizar estes princípios, a Igreja estará inteiramente no seu direito de recomendá-los ao sufrágio dos fiéis.

A Assembleia Constituinte italiana, desconhecendo estes direitos da Igreja, está positivamente num mau caminho.

Nota: Os negritos são deste site.