Plinio Corrêa de Oliveira

Legionário, 24 de fevereiro de 1946, N. 707, pag. 5

O LEGIONÁRIO vem exuberantemente demonstrando que os totalitarismos da direita agem de parceria com a esquerda. É indispensável aos fascismos a “luta contra o comunismo”, do mesmo modo que o comunismo não pode viver sem a demagogia da “luta contra o nazi-fascismo”.

Tal parceria não se cifra, porém, a essa pseudo-antítese. Por mais que os comparsas dissimulem o jogo, deixam, de onde em onde, entrever que apesar de se combaterem mutuamente, na realidade procuram realizar o mesmo programa. Toda a camuflagem e toda a diversidade de métodos usados não conseguem ocultar o fato fundamental que ambos são totalitários e que ambos procuram implantar o socialismo.

O indispensável, para o prosseguimento dessa manobra, é que não se permita a existência de um movimento sinceramente anticomunista ou de uma campanha organizada sinceramente antinazifascista. Quem se opõe ao comunismo será necessariamente fascista, do mesmo modo que o combate aos totalitarismos da direita será sempre desvirtuado como se esquivasse a uma adesão às esquerdas. E neste sentido não somente se formulam acusações como as que era vezeiro em veicular o Departamento de Imprensa e Propaganda de Goebbels e ainda hoje aparecem nos órgãos de publicidade do Kremlin, mas também se procura realizar um trabalho de infiltração dentro dessa reação contra ambas as espécies de servidão socialista. Ninguém pode ficar fora desses dois barcos, a não ser que mesmo de fora lhes favoreça a travessia.

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Há ainda mais. Há a provocação que certas medidas realizadas por um dos grupos totalitários, quando no poder, despertam no seio da massa inconsciente e apaixonada preparando-a para cair nos braços da facção pseudo-oposta, tão logo os acontecimentos políticos e sociais provoquem a queda da situação reinante. Foi o que aconteceu e está acontecendo na Itália, na Alemanha e em outros países até há pouco sujeitos a regimes ditatoriais do tipo nacional-socialista.

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Como táticas paralelas e não menos úteis à implantação do Estado totalitário-socialista, temos a adoção de certas medidas de emergência em países não declaradamente pertencentes a qualquer um dos grupos pseudo-degladiantes. Podemos citar o racionamento de várias utilidades, a requisição e ocupação de propriedades particulares, a formação de hábitos coletivistas na população, através de cantinas populares, de campos de concentração, habitações coletivas, afastamento de crianças do ambiente familiar e sua educação pelo Estado, etc. Todas essas medidas foram adotadas, por exemplo, num país como a Inglaterra, ao ponto de seu exagero provocar protestos de elementos altamente representativos da sociedade religiosa e civil das ilhas britânicas. Como contraprova da intenção (... - erro tipográfico no jornal impresso) levam avante tais “exa(... - erro tipográfico no jornal impresso) mos declarações de entusiastas de sua continuação mesmo com o advento da paz. Um deles, que não escondeu o caráter socialista dessas medidas drásticas, chegou a afirmar: “These things will stay for good” - estas coisas permanecerão para sempre.

Do mesmo modo poderíamos citar as tentativas de coordenação estatal feitas na América do Norte e em parte repelidas pelo bom senso de seus órgãos de opinião. Outro passo indireto no sentido do totalitarismo socialista vem sendo ali o seguinte: surge uma greve em determinada indústria de aviões, por exemplo. O governo não intervém e deixa que se estabeleça um impasse. Quando a greve ameaça tornar-se violenta as autoridades públicas se assenhoreiam da indústria, que passa para a órbita do Estado... E vão surgindo na liberal América do Norte os interventores nas indústrias, que não passam de verdadeiros “comissários do povo”...

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Entre nós infelizmente também podemos citar exemplos dessas medidas que favorecem a implantação do socialismo totalitário. Vejamos sumariamente algumas delas.

Constatado o abuso dos lucros extraordinários, tivemos uma lei que em vez de eliminar a existência desses lucros extorsivos em favor do público pagante, taxou-os em benefício do tesouro estatal... Resultado: para cobrir a quota do Estado que passou a ser sócio dos lucros extraordinários, estes tenderam a crescer, agravando o custo de vida, com consequente apelo para o aumento de salários, estabelecendo-se o círculo vicioso a que estamos assistindo, com o seu acompanhamento de greves e mal-estar social.

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Não nos faltou o racionamento que: 1) é uma excelente arma totalitária para quebrar a resistência do povo contra medidas despóticas coadjuvado pelo papel desfibrante das filas; 2) por mais contraditório que pareça, é também uma arma eficaz nas mãos de agitadores, para despertar a revolta popular que constitui o clima propício para a implantação do comunismo.

Ora, tratemos, por exemplo do racionamento do açúcar. Que razões militam para justificá-lo?

Simples intervenção do Estado na política da produção e de preços. E nisto foi ferido o próprio direito natural. Os pequenos produtores de São Paulo e de Minas não podem sequer fabricar açúcar e álcool para consumo próprio. Resultado: o câmbio negro do açúcar e do álcool, de todos conhecido, e que às sombras de uma absurda coordenação estatal faz a prosperidade de uma pequena clique de “profiteurs” (aproveitadores, n.d.c.) e a oneração do custo de vida da maioria da nação.

E como uma desgraça nunca vem só, poderíamos ainda neste exemplo do açúcar também tratar do problema do álcool como carburante, realidade tão palpável antes da guerra, que as próprias autoridades públicas chegaram a obrigar os proprietários de veículos a consumir uma certa quota de “gasolina rosada”.

Em plena guerra, porém, com o problema de transportes agravado, ao ponto de se recorrer ao gasogênio, milhares de pequenas usinas e engenhos, que faziam a fortuna de extensas zonas e o ganha-pão de numerosos brasileiros, foram proibidos de fabricar não somente o açúcar, mas também o álcool...

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Finalmente, para completar este esboço de medidas indiretas que preparam o advento do totalitarismo socialista, citemos o plano de Previdência Social preconizado pelo sr. João Carlos Vital que além de representar praticamente o monopólio de todas as modalidades de seguros pelo Estado, cria uma pã-cooperativa que será o começo do fim da iniciativa privada no Brasil. Num certo sentido este plano é até mais revolucionário que o do socialismo marxista. Pois que, enquanto este procura promover a socialização das fontes de produção, deixando em paz as do consumo, aquele socializa também o consumo, propondo-se fornecer gêneros alimentícios, vestuários, medicamentos, serviço hospitalar, habitação e educação para todos os brasileiros...

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Concluindo. Num mundo que a passos largos vai perdendo toda a capacidade de discernimento, saibamos reagir contra todos estes disfarces do mesmo manipanso totalitário e socialista: nazi-fascismo, comunismo e liberalismo “avançado”.