Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

Nova et Vetera
 
Personificação permanente da Revolução

 

 

 

 

 

Legionário, 17 de fevereiro de 1946, N. 706, pag. 5

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Já tivemos ensejo, por mais de uma vez, de assinalar o papel das sociedades secretas na orientação e direção de um vasto plano de ação contra a Igreja e a Cristandade, através sobretudo da propaganda em favor de erros teológicos e de erros sociais, que preparariam as bases para a reestruturação da Cidade pagã e naturalista, fim último desses sectários do pai da mentira.

Proliferam, porém, entre nós, os estudos sociológicos e políticos, mesmo de autores católicos, que em sua análise da situação de descalabro em que se acha a humanidade, e na proposta dos meios adequados para a reconstrução do mundo, põem completamente de lado esse importante fator. Será justificável essa cegueira?

Frisemos de passagem um ponto interessante: pelo menos tais estudiosos e ensaístas serão culpados de uma leitura parcial dos documentos pontifícios, para apenas citar uma imprescindível fonte de ensinamentos para os católicos - sem contar toda uma enorme série de autoridades menos credenciadas, mas dignas de todo o nosso acatamento.

Ora, para apenas ficarmos em Leão XIII, veremos hoje, mais uma vez que esse grande pontífice da Ação Social não deixou de seriamente considerar esse importante aspecto da questão social, dedicando-lhe toda uma Encíclica, a “Humanum Genus”, sobre a maçonaria, e a “Quod Apostolici”, sobre as seitas socialistas.

E no fim de seu glorioso reinado ao fazer na Encíclica “Parvenu à la Vingt-cinquième Année” a recapitulação das “verdades já muitas vezes afirmadas” por lhe parecer “oportuno e útil considerar atentamente na sua origem, nas suas causas, nas suas formas múltiplas, a guerra implacável que se faz à Igreja” e indicar os remédios apropriados. Leão XIII não deixa de se referir à ação das forças secretas, da maçonaria, “personificação permanente da revolução” e que se liga “com outras seitas que ela faz mover por meio de fios escondidos”. Eis como o pontífice da “Rerum Novarum” reconhece que atrás dos erros teológicos e políticos, atrás das heresias e do espírito de rebelião, se acha o poder oculto que é a cabeça da serpente dos males modernos. E é interessante acentuar como Leão XIII já denunciava o aspecto de trama internacional desempenhado pela seita, hoje visível através das palavras de ordem que cega e uniformemente são executadas em todos os quadrantes do globo.

Vejamos, porém, as próprias palavras da Encíclica no trecho relativo ao tema de que ora nos ocupamos.

Depois de enumerar as principais calúnias assacadas contra a Igreja, diz Leão XIII:

“É, portanto, certamente com uma intenção perversa que se lançam contra a Igreja tais acusações. Obra perniciosa e desleal, no prosseguimento da qual vai, precedendo todas as outras, uma seita tenebrosa que a sociedade leva há longos anos no seu seio e que, como germe mortal, lhe contamina o bem estar, a fecundidade e a vida. Personificação permanente da revolução, ela constitui uma espécie de sociedade secreta cujo fim é exercer uma soberania oculta sobre a verdadeira sociedade e cuja razão de ser consiste inteiramente na guerra a fazer a Deus e à sua Igreja. Não é preciso nomeá-la, pois, por esses traços, todo o mundo reconheceu a Franco-Maçonaria, da qual falamos de um modo formal na Nossa Encíclica “Humanum Genus” de 20 de abril de 1884, denunciando suas tendências deletérias, suas doutrinas errôneas e sua obra nefasta.

“Enlaçando em suas imensas malhas a quase totalidade das nações e ligando-se com outras seitas que ela faz mover por melo de fios escondidos atraindo primeiro e retendo em seguida seus afiliados pela isca das vantagens que lhes oferece, curvando os governantes aos seus fins, ora por promessas, ora por ameaças, essa seita conseguiu infiltrar-se em todas as classes da sociedade. Ela forma como que um Estado invisível e irresponsável dentro do Estado legítimo. Cheia de espírito de Satanás que, no falar do Apóstolo, sabe na necessidade se transformar em anjo de luz (II Cor. XI, 14), ostenta um fim humanitário, mas na verdade sacrifica tudo a seus projetos sectários. Ela protesta não possuir nenhuma intenção política, mas exerce na realidade a ação a mais profunda na vida legislativa e administrativa dos Estados e, enquanto por palavras professa o respeito da autoridade e da própria religião, seu fim supremo (seus próprios estatutos o constatam) é a exterminação da soberania e do sacerdócio, nos quais ela vê inimigos da liberdade.

“Ora, torna-se dia para dia mais manifesto que é à inspiração e à cumplicidade desta seita que se devem atribuir em grande parte as contínuas vexações que oprimem a Igreja e a recrudescência dos ataques que lhe foram feitos recentemente. Pois a simultaneidade dos assaltos na perseguição que repentinamente rompeu nestes últimos tempos como uma tempestade num céu sereno, isto é, sem causa proporcionada ao efeito; a uniformidade dos meios postos em ação para preparar esta perseguição, campanha de imprensa, reuniões públicas, produções teatrais, o emprego em todos os países das mesmas armas, calúnias e levantamentos populares, tudo isso trai muito verdadeiramente a identidade dos desígnios e a palavra de ordem partida de um só e mesmo centro de direção. Simples episódio, aliás, que se liga a um plano premeditado, plano esse que se manifesta como atos de uma peça teatral cada vez mais desenvolvida, para multiplicar as ruínas que já enumeramos.

“Assim, procura-se sobretudo restringir primeiro, depois excluir completamente a instrução religiosa, fazendo gerações de incrédulos ou indiferentes, combater pela imprensa diária a moral da Igreja, ridicularizar, enfim, suas práticas e profanar suas festas sagradas.

“Nada mais natural, por conseguinte, que o sacerdócio católico, que tem precisamente por missão pregar a religião e administrar os sacramentos, seja atacado com um particular encarniçamento: tomando-o por ponto de mira, a seita quer diminuir aos olhos do povo seu prestígio e sua autoridade. Já sua audácia cresce de hora para hora em proporção da impunidade que ela crê assegurada para si, e ela interpreta maldosamente todos os atos do clero, torna-os suspeitos pelos menores indícios e os acumula com as mais baixas acusações”.