Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

Nova et Vetera
 
Finanças comunistas

 

 

 

 

 

Legionário, 10 de fevereiro de 1946, N. 705, pag. 5

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Sempre insistimos em afirmar o caráter artificial da propaganda comunista entre nós. Explorando as injustiças sociais, verdadeiras ou forjadas, colocam-se à frente das “massas” os insufladores da luta de classes, os agitadores a soldo do partido comunista que, longe de desejarem defender as verdadeiras reivindicações das vítimas do egoísmo liberal e da prepotência dos racionamentos totalitários, apenas canalizam para a artificial vitória da “nova ordem” bolchevista toda essa caudal de “marginais” e de ingênuos descontentes.

Quem paga, porém, todo o custoso aparato dessa propaganda vermelha? De onde vem o dinheiro para os seus vistosos cartazes, faixas, folhetos, jornais, viagens e manutenção de todo um exército de agitadores que, logicamente, pela extensão de suas atividades devem viver sob um regime de trabalho “full-time”? Qual o partido que pode rivalizar com o comunista na intensidade de suas atividades e de sua propaganda? E é este, justamente, o partido dos “proletários”, dos menos favorecidos da fortuna, cujas minguadas contribuições e reduzido número de adeptos não podem explicar a origem das fabulosas somas que essa máquina publicitária e aliciadora está a exigir.

Como a propaganda comunista é uma só no mundo inteiro, vejamos o exemplo da França, numa tentativa de desvendar esse “mistério” baseados em informações publicadas por “La Documentation Catholique”, número de 3 de abril de 1937.

Maurice Laporte, fundador das Juventudes comunistas francesas, antigo membro do “comité diretor do partido” e delegado de Moscou, escrevia em 1928 em seu livro “Les mystères du Kremlin”, à página 69: “... posso escrever, entretanto, bem pesando minhas palavras, que os chefes do partido e das juventudes se venderam e venderam o movimento comunista francês, não à Terceira Internacional, mas ao próprio governo dos Sovietes...“

Demonstra o autor que sem as subvenções de Moscou o partido comunista francês seria incapaz de fazer face a todas as suas despesas: “O partido comunista, inclusive seus anexos, isto é, seus jornais, suas empresas editoras, o Socorro Vermelho, o “trabalho ilegal” das juventudes etc., “mantêm em números redondos de 130 a 140 funcionários permanentes, isto sem contar o pessoal dos comités, datilógrafos e empregados, aos quais vêm se juntar os 13 candidatos eleitos para a Câmara. A razão de uma média mínima de 1.700 francos por mês, teremos cerca de 3 milhões por ano.

“Se se acrescentam a essa importância as ajudas de custo de toda sorte: viagens, diárias, etc., chega-se a uma verba no capítulo “manutenção de pessoal”, de cerca de 4 milhões. Não posso deixar de mencionar as delegações enviadas ao estrangeiro. Elas são inúmeras no partido no curso de um ano. Para 1927, e somente de Paris a Moscou, foram efetuadas mais de 300 viagens que representam cerca de 175.000 francos”.

O ex-chefe comunista examina, a seguir outros aspectos do orçamento do partido: “... Em 1921 e 1922 calculava-se a verba “propaganda e agitação” em 750.000 francos por ano para toda a França. Esta verba se refere às despesas de propaganda geral do partido: pagamentos aos agitadores, cartazes, folhetos, brochuras, reuniões públicas. As campanhas eleitorais têm ainda sua verba particular... Todos esses algarismos mais do que quintuplicaram hoje e devem-se levar ao ativo da conta “propaganda e agitação” a importância de quatro milhões de francos”.

O autor avalia o déficit global da imprensa comunista em cerca de um milhão e duzentos mil francos. Acrescentando-se “500.000 francos de subvenções diversas ao Socorro Vermelho de despesas de escritório, de pagamento de juros de empréstimos efetuados pelo partido”, obtém-se o total de mais de nove milhões gastos anualmente e oficialmente pelo partido. Torna-se, porém, necessário arredondar essa importância para 10 ou 12 milhões para se aproximar da verdade.

Quais são, em contraposição, as receitas “normais” com que pode contar o partido?

Há a renda de “L’Humanité” (cerca de 650.000 francos), as cotizações, o produto da venda de brochuras, distintivos, etc. ou sejam cerca de 1.200.000.

“Resta explicar, acrescenta Laporte, como com um “crédito” de cerca de um milhão e duzentos mil francos nossos comunistas podem liquidar um “débito” de dez milhões”.

Mas há as subscrições dos trabalhadores, objetarão. Engano! As listas de subscrições publicadas por “L’Humanité” são falsas. O redator encarregado dessas listas esconde “uma boa parte do ouro de Moscou sob as aparências de subscrições públicas.”

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As revelações de Maurice Laporte foram confirmadas em 1935 pelas de Jacques Doriot, que publicou no jornal “L'Emancipation” uma série de artigos sensacionais sobre a ação financeira dos dirigentes de Moscou.

Jacques Doriot foi durante muito muito tempo um dos principais chefes do partido comunista francês. Membro do “bureau” das juventudes desde sua fundação, delegado do partido no terceiro congresso da Internacional comunista (1921); secretário geral das juventudes comunistas (1923); membro do “bureau” político do partido comunista francês desde 1924; delegado da Internacional comunista em Marrocos (1925); delegado da Internacional comunista na Indochina e no Extremo Oriente (1927), marinheiro honorário da esquadra vermelha do Báltico, capitão de um regimento da guarda de Tver, capitão do exército revolucionário nacionalista chinês, deputado eleito por Saint-Denis em 1924, reeleito em 1928, 1932, 1936. Pelo grande número de prisões que sofreu, era considerado como um verdadeiro “mártir vermelho” que poria num chinelo o sr. Luiz Carlos Prestes. Por querer estabelecer um comitê de vigilância contra o fascismo, em colaboração com os socialistas, Doriot foi expulso do partido comunista em 1934. São notórias suas posteriores atividades “colaboracionistas”, durante a ocupação nazista da França. O fato, porém, de ser um “renegado”, um “trotskysta”, um “colaboracionista”, não tira sua autoridade como homem entendido quanto ao mecanismo do partido comunista francês. Aliás, o “LEGIONÁRIO” não faz distinção entre fascistas, nazistas e comunistas. São todos, no fundo, conjurados da mesma trama de mistificações socialistas, embora agindo muitas vezes por processos antagônicos, de que resultam às vezes essas brigas de comadres, por meio das quais a verdade vem à tona...

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Como explica Doriot essa propaganda, esses milhões de folhetos, de brochuras, de cartazes, esses múltiplos jornais, esses agitadores, esses insufladores “desinteressados”, quem os paga, pois que afinal de contas é preciso viver?

“Sim de onde vem o dinheiro? Nós afirmamos mais uma vez que é Moscou que paga. É Stalin que subvenciona para seus fins de guerra a secção francesa da 3º. Internacional comunista. E se não nos acreditam, que se nomeie uma comissão de inquérito que se verifiquem os livros das agências editoras, a escrita dos jornais comunistas e a do partido. Que se interroguem os antigos membros do movimento: poderemos citar nomes, e o faremos sem dúvida proximamente, quando essa comissão de inquérito for nomeada. Exigiremos igualmente que deponham perante essa comissão Dutilleul e Dorval de “L’Humanité”; Moussinac do “bureau” de edições; Grenier, dos “Amigos da U.R.S.S.”; os técnicos do antimilitarismo, os dirigentes comunistas do Socorro Vermelho, os redatores dos hebdomadários, os guarda-livros de “L’Humanité”, os alunos das escolas de Moscou, todos aqueles que desempenharam papel de relevo no partido comunista no curso dos últimos dezesseis anos”.

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Os chefes comunistas não responderam a essas acusações de seu antigo camarada.

A 22 de março de 1937 Jacques Doriot anunciava à imprensa que levaria à Câmara uma proposta no sentido de se nomear uma comissão parlamentar de inquérito sobre os recursos dos partidos políticos franceses, em particular sobre os recursos do partido comunista. Esta proposta, como era de se esperar, foi rejeitada pela Câmara.

Não fosse a maioria de seus membros, dócil aos manejos do poder oculto que desencadeia sobre o mundo o flagelo do totalitarismo socialista...