Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

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O sincretismo anticatólico

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 25 de novembro de 1945, N. 694, pag. 2

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No meio da maré política que se avoluma à proporção que se aproximam as eleições de 2 de dezembro, surgiu um pequeno molusco, que a muitos terá passado desapercebido, mas que nós queremos assinalar antes que se perca. Não que de si mesmo mereça alguma atenção, mas vale como índice dos tempos. O estranho fato é o seguinte: o Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo reconheceu o diretório estadual de uma Aliança Social Democrática que, segundo tudo indica, nada tem que ver com o Partido homônimo. Esta aliança congrega em seu seio uma fauna mirífica, a saber: espíritas, protestantes, teósofos, esoteristas, racionalistas cristãos e, para que nada seja omitido, membros de todas as outras correntes espiritualistas. Esta Aliança escolherá em breve o candidato, entre os quatro inscritos, em que os seus adeptos deverão descarregar os votos; será esta a sua única atividade política em vista das eleições de dezembro. Mas ela se reserva para os pleitos estaduais, quando promete apresentar chapas completas.

Eis aí formada uma frentinha-única anticatólica. Com muito esforço, talvez consiga eleger, como outrora, algum Campos Vergal, cuja política nebulosa irá atrapalhar-se com todos os corpos astrais que encontrar pelo caminho. O que é interessante, porém, é a falta de consistência ideológica desta gente disparatada, onde há desde racionalistas até esoteristas e, que, no entanto, conseguiu encontrar um terreno comum onde edificar uma aliança. Parece que, entre pessoas de responsabilidade, ponderadas, coerentes, são os princípios que determinam a formação de grupos. É verdade que às vezes podem surgir agregações esporádicas para a realização de tarefas ocasionais; mas, mesmo então, poder-se-á encontrar um substrato ideológico comum, ainda que transitório. Porém, uma aliança que tem por base as mais opostas e contraditórias convicções religiosas, em que fundamento assenta?

É verdade que os seus membros poderão responder-nos, e até vangloriando-se disso, que eles não são dogmáticos, que as suas convicções não cabem na bitola das proposições lógicas que pretendem fixar a verdade; mas, que todos eles admitem um fundo comum para as experiências religiosas íntimas de cada qual, respeitando o aspecto particular de que estas experiências se revestem em cada um. Porém, nós sabemos muito bem qual é este fundo comum. Não é mais do que a aversão comum à Verdade, que é uma só e não muda, e se manifesta dogmaticamente, em proposições lógicas, através da Santa Igreja.


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