Plinio Correa de Oliveira

 

 

Partidos, Candidatos, Eleições

 

 

 

 

 

 

Legionário, N.º 694, 25 de novembro de 1945

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Tudo isto, partidos, candidatos, eleições, vem mantendo de sobreaviso a opinião pública. Ainda é cedo para analisarmos as reações da opinião católica diante das perspectivas eleitorais que ora se nos abrem. Mas há alguns avisos e alguns comentários que podemos fazer, certos de sermos úteis ao nosso público, e de interpretarmos fielmente a opinião de todos os nossos leitores.

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Antes de tudo é preciso recomendar a máxima fidelidade na execução das diretrizes da Liga Eleitoral Católica, que transcrevemos em nossa primeira página. Da coesão e da disciplina, hão de vir sempre para os católicos os melhores frutos. O momento exige que todos eles façam a renúncia de pontos de vista pessoais, abram mão de críticas e comentários, bem persuadidos de que, em momentos como este, as opiniões puramente individuais, ainda as mais sábias, acertadas, criteriosas, só prejudicam a causa comum, quando têm por efeito a desunião.

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A imprensa diária desta Capital publicou, há dias, a íntegra de um ofício do diretório nacional da UDN à Junta Nacional da Liga Eleitoral Católica. Neste ofício, a UDN se comprometia a defender 4 dos 10 itens que formam o programa da LEC. Assim, 6 dos itens do "decálogo" eleitoral dos católicos não foram objeto de qualquer compromisso da UDN. À vista disto, mais de um leitor nos pergunta como se explica que a LEC tenha incluído a UDN entre os partidos em que os católicos podem votar. Pois não recusou ela vários itens das reivindicações católicas?

Não estamos autorizados a dar sobre o assunto qualquer esclarecimento oficial ou oficioso. Parece-nos, entretanto, que a explicação deste fato se encontra em uma entrevista concedida à imprensa carioca pelo presidente da Junta Nacional da Liga Eleitoral Católica, embaixador Hildebrando Accioly. Tomamos conhecimento dessa entrevista através de um telegrama da "Agência Meridional" para esta Capital.

Declara o embaixador Accioly que a UDN não recusou de se pronunciar sobre todo o decálogo da LEC. A LEC é que só a consultou sobre quatro dos dez itens do referido decálogo. E a UDN se limitou a responder afirmativamente quanto aos pontos sobre os quais foi consultada.

Não houve, pois, recusa da UDN. Recusa teria havido se, consultada sobre todos os 10 itens, ela só se tivesse pronunciado favoravelmente a 4 deles.

E assim se explica que a LEC nada tenha objetado à resposta da UDN.

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Despertou muita surpresa a inclusão do pintor Cândido Portinari na chapa do Partido Comunista Brasileiro para a Câmara Federal. A nós porém, nenhum espanto causou o fato.

É princípio corriqueiro de crítica artística que, entre as concepções filosóficas, morais, sociais de um artista e a sua produção, há um nexo profundo. Com efeito, toda a obra artística é uma expressão da personalidade, em íntima e fundamental conexão com ela, faz parte o seu modo de considerar as questões religiosas, filosóficas, morais e sociais.

Assim é que podemos falar legitimamente em uma arte cristã. Desde que o artista seja genuinamente cristão, este cunho fundamental de sua personalidade marcará toda a sua obra. Não é artista cristão qualquer pintor ou escritor que tome algum tema cristão para a execução de um trabalho, e que produza Batistas que poderiam também ser Bacos, ou Madonnas que poderiam bem ser Minervas. O verdadeiro artista cristão é o que comunica à sua obra uma alma cristã. Basta citar Fra Angélico para demonstrar esta tese.

Ora - disse Pio XI - o comunismo é uma coisa bárbara e anti-cristã que projetará o mundo para um estado inferior ao em que se encontrava antes da Redenção. É o que se lê na Encíclica "Divini Redemptoris". Se há, pois, uma mentalidade anti-cristã, uma ordem anti-cristã, ela gerará por força uma arte anti-cristã, tão genuína e caracteristicamente anti-cristã, quanto é genuína e caracteristicamente cristã a arte cristã.

Disto, não há como escapar.

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E vamos agora ao caso do Sr. Portinari. Não negamos que ele possa pintar, de quando em vez, quadros que estejam fora de seu estilo predileto. A nosso ver, porém, este estilo, em si mesmo considerado, reflete uma mentalidade caracteristicamente socialista, e portanto anti-cristã. Se disséssemos isto há pouco tempo atrás, levantar-se-ia uma celeuma, pelo menos entre muitos leitores desavisados. Hoje, a dúvida não é mais possível.

E a surpresa pela atitude política do Sr. Portinari só toca aos que já não sentiram há mais tempo, que tendências contêm em seu bojo certas tendências ou estilos da arte moderna.

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Registramos ainda, como muitíssimo frisante, a presença de um pastor protestante, na chapa de deputados comunistas.

Leão XIII, na sua Encíclica "Parvenu à la Vingt-Cinquièmme Année", tão monumental quanto ignorada - uma das tais Encíclicas papais sepultadas sob cuidadoso silêncio como se fora uma bomba de dinamite - afirma que a imensa descristianização do mundo contemporâneo se deu em três etapas sucessivas: a pseudo-Reforma protestante, a Revolução Francesa e por fim a etapa em que nos debatemos, isto é a era do perigo comunista. A genealogia dos três erros está firmada: o protestantismo é o velho e robusto patriarca, que gerou essa "midinette" ácida e despudorada que foi a Revolução Francesa. E das entranhas da Revolução nasceu um filho turbulento e sanguinário: o comunismo.

Um pastor protestante está, pois, muito em seu lugar, na chapa comunista, ao lado do Sr. Portinari... de Luiz Carlos Prestes, e de uma boa turma de ateus que tais.


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