Plinio Corrêa de Oliveira

 

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O fascismo vermelho

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 26 de agosto de 1945, N. 681, pag. 2

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Um dos caraterísticos mais próprios dos regimes totalitários consiste no emprego do Estado para a realização de certos fins revolucionários. Ao contrário da concepção democrática, que vê no Estado apenas a mais completa colaboração temporal dos homens, no sentido de obterem o mais alto grau de bem estar e progresso moral e físico, os totalitários querem apoderar-se dos recursos quase onipotentes do Estado para manejarem as massas humanas a seu bel prazer, como se fossem manadas, impondo-lhes uma ideologia e um sistema de vida. Daí resulta uma visão puramente utilitária de todos os imensos recursos espirituais e materiais de que o Governo pode lançar mão. Não se trata de aproveitar moderadamente tais recursos para conseguir, da melhor forma possível, o bem comum. A ideia do bem comum é acidental, acessória, e, mesmo, algumas vezes importuna, para o totalitarismo. Os sistemas totalitários são, de sua própria natureza, demiúrgicos e tendem exclusivamente a “criar” um mundo novo. Esta vontade de “criação” é que importa em primeiro lugar; a ela tudo se deve sacrificar, inclusive o bem comum. Este é o sentido místico dos totalitarismos, que se reveste de colorações diversas, de acordo com o valor supremo a ser atingido: o sangue, para o nazismo; o Império Romano, para o fascismo; o esoterismo proletário para o comunismo.

Estas reflexões foram sugeridas pelo resumo de um artigo do “The American Mercury”, publicado recentemente na secção Revista das Revistas, do Estado de S. Paulo. Aí se vê que a Rússia transformou Cuba numa base de operações para a conquista da América Latina, o que, segundo o artigo mencionado, já está perturbando as relações dos Estados Unidos com seus vizinhos de Hemisfério. O que é muito importante observar é que tal fato teve origem no reatamento das relações diplomáticas entre a Rússia e Cuba sendo, pois, a representação diplomática soviética o centro da intensa propaganda comunista, que se nota naquela ilha. Nisto se patenteia o utilitarismo dos regimes totalitários. Em nosso mundo civilizado, as representações diplomáticas servem, habitualmente, para incrementar o intercâmbio entre as nações, de modo a melhorar as relações internacionais. Para a Rússia soviética não é assim; a sua diplomacia é apenas um instrumento, como outro qualquer, para a promoção do comunismo universal, sem qualquer atenção para o abuso que isto significa: os fins justificam os meios, eis tudo. Entretanto, outra coisa não se poderia esperar. A Alemanha nazista e a Itália fascista faziam absolutamente o mesmo, e a nossa Polícia pode dar exemplos edificantes do que acontecia entre nós. O mal é intrínseco aos regimes totalitários, é-lhes constitucional.

Esta é uma advertência salutar, nas vésperas do reatamento de nossas relações diplomáticas com a Rússia. Se antes mesmo disso acontecer os nossos comunistas já declaram gostosamente a sua filiação ao Kremlin, isto é, a sua submissão a um governo estrangeiro, que será depois?


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