Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

Nova et Vetera
 
Quem manobra os cordões dos fantoches socialistas?

 

 

 

 

 

Legionário, 22 de julho de 1945, N. 676, pag. 5

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As medidas socialistas que vem surgindo na legislação moderna e as ameaças de novas conquistas revolucionárias serão fruto exclusivo da evolução da sociedade ou serão orientadas e dirigidas mediante um programa pré-estabelecido que se adapta e é corrigido conforme as reações que sua aplicação produz no corpo social?

Partidários da primeira hipótese são os que acham que no mundo o sr. Luiz Carlos Prestes é um homem sincero, admirável “profeta” que vê com largo descortino essa marcha irresistível do mundo para o socialismo e se vale dessa torrente em favor de seu ideal comunista, do mesmo modo que um engenheiro se aproveitaria do potencial hidráulico das quedas do Iguaçu para gerar energia elétrica. O interessante é que os seguidores dessa corrente, mesmo no caso de se dizerem católicos, são ferozes adversários dos que convencionaram chamar de “reacionários”, isto é, aqueles que se opõem hoje em dia ao socialismo, como no século passado os “ultramontanos” se opuseram ao liberalismo.

Que pensar dos partidários da segunda hipótese, dos que lutam contra todas as formas de socialismo, vendo nelas um movimento artificial que obedece a uma vasta conspiração tendente a implantar no mundo o Estado totalitário com que sonham as forças secretas?

Apresentamos aos nossos leitores alguns fatos que facilitarão a formação de um juízo sobre o assunto.

Já fizemos o estudo sumário das atividades da Sociedade dos Fabianos na Inglaterra. Vimos como aquela seita maçônica e socialista prepara essa “evolução” para a esquerda.

Hoje veremos o exemplo da França, que vem sendo minada por essas mesmas forças secretas, que ali preparam o terreno que conduzirá a terra de São Luís às garras do totalitarismo socialista, por essa “evolução” forjada e “à la carte”, ou mesmo pela revolução, se o ambiente se mostra favorável ao golpe.

* * *

Em 1926, a Grande Loja de França exigia: “a abolição do direito de herança e de doação”.

Mas se o Estado suprime a herança e a propriedade e lança um plano geral de seguros, nos moldes do plano Beveridge, para sustentar tal ônus, ele precisa do trabalho e da produção dos súditos.

Em 1923 a Grande Loja de França exigia “o trabalho social obrigatório”, o que equivale a trabalho forçado.

Mas se o Estado faz trabalhar os seus súditos, isto é, se ele é o pan-empregador, torna-se necessário a divisão das tarefas, torna-se necessário que ele forme, oriente, idortize (?) a mão de obra. Em 1922 o Grande Oriente de França não esquece esse pormenor, ao declarar que “a estreita dependência entre a ideia da obrigação do trabalho e a da supressão da herança com a orientação profissional”.

A orientação profissional, ou “seleção dos indivíduos”, pressupõe por sua vez o monopólio do ensino nas mãos do Estado: em 1923 a Grande Loja de França declara: “Uma organização racional do trabalho supõe a Escola Única”. É este o último elo da cadeia que as forças secretas desejam passar no pescoço da humanidade.

O Estado pan-segurador, pan-proprietário, pan-empregador, realiza assim a escravidão dos bens, a escravidão do teor de vida, a escravidão dos corpos, a escravidão dos espíritos.

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Como já vimos em um de nossos últimos rodapés, (houve) em 1935 uma luta surda entre as lojas alemãs, que se dividiam entre as que sustentavam a forma clássica do universalismo maçônico e as que pugnavam pelo nacional-socialismo. E enquanto Hitler começava a se apossar das escolas e dos meios de produção da Grande Alemanha, para impor aos seus súditos o socialismo de cunho nacionalista (não menos expansionista, porém, que o socialismo soviético), de 21 a 26 de setembro de 1936 se realizava uma convenção do Grande Oriente francês em Paris, à rua Cadet 16.

É sabido que por meio dessas convenções se faz a assembleia geral anual composta por delegados eleitos pelas várias lojas filiadas. É a convenção que regula toda a atividade das lojas e exerce o poder supremo. Não se tenha, porém, a ingenuidade de acreditar que as várias questões apresentadas são realmente discutidas por essas assembleias. Discutidas para despistar, são apenas algumas questões adjetivas, de importância secundária. As “sugestões” fundamentais promanam das “arrière loges” e é claro que não podem ser rejeitadas pelas “comissões especiais” encarregadas de examinar as variadas moções e relatórios... sob pena de introduzir nessas associações secretas um perigoso germe democrático em flagrante antagonismo com a rígida disciplina hierárquica que é o segredo máximo da uniformidade de ação das lojas.

Pois bem. Nessa convenção de setembro de 1936, entre outros problemas, foi estudado o da “Socialização dos meios de produção e de distribuição”, sendo votada a resolução de que a seguir nos ocuparemos, baseados no texto publicado no tomo 36, colunas 745 a 747 de “La Documentation Catholique” de 31 de outubro de 1936.

Essa resolução é precedida por uma série de “consideranda”, entre os quais destacamos o seguinte:

“7º. Que não podendo ninguém prever, dado o ritmo atual dos acontecimentos, se essa transformação (a substituição da economia de trocas pela economia distributiva) se fará por etapas e por via de evolução ou se ela se produzirá bruscamente por via de revolução, de modo que nem uma nem outra dessas hipóteses pode a priori ser descartada”.

Por esse “considerandum” vemos a estupidez dos não iniciados que vivem a falar em “evolução” dos fatos sociais, na “verdade incontestável que o socialismo é fruto natural da época em que vivemos”, que “o século vinte será o século do socialismo, como o século dezenove foi o século do liberalismo”, como se os fatos sociais e políticos obedecessem a forças cegas da natureza e aos imperativos irresistíveis de uma “evolução” produzida entre os homens pelo mesmo processo impessoal que se produz um tufão no Oceano Pacífico. Tal “evolução” no sentido totalitário-socialista é provocada, sugerida, instigada, chefiada, dirigida, pelas forças secretas, que também não excluem a hipótese de apressá-la pela “revolução”, se o ambiente se mostrar propício.

E à vista desses “consideranda” em torno de uma situação econômica e social em grande parte preparada pela ação dissolvente do liberalismo maçônico, conclui a Convenção do Grande Oriente francês “desse estado de fato que, para estar preparado para toda eventualidade, será necessário prever ao mesmo tempo medidas imediatas, cujo caráter de urgência salta a todos os olhos (aos olhos dos iniciados, é claro), aplicáveis no regime atual, e medidas ulteriores, que encerram reformas estruturais em vista de realizar o novo regime. Somente os fatos dirão em que momento e sob que forma convirá encarar a aplicação destas últimas”.

Como vemos, o Grande Oriente francês advogava a tática fabiana de preparar o terreno para a implantação do Estado totalitário socialista, mediante a doção de medidas imediatas. Citemos algumas delas:

“1º. Criação de organismos econômicos (Comitês consultivos ou assembleias legislativas) sobre o plano regional, o plano nacional e o plano internacional, tendo por objeto a organização da produção em função das necessidades de consumo (grandes obras, condições e duração do trabalho, salário mínimo, controle trabalhista etc.)

Por esta medida, percebe-se a ameaça velada do “planejamento” destinado a fazer caminhar a economia no sentido desejado pelas forças secretas. Outra medida semelhante é a seguinte:

“2º. Inventário dos recursos nacionais e das possibilidades técnicas da produção, recenseamento das necessidades normais dos indivíduos”.

Estas medidas imediatas devem preceder a seguinte, digna de figurar na Constituição Soviética que seria adotada a 5 de dezembro daquele mesmo ano de 1936:

“3º. Socialização das indústrias chaves do crédito, dos seguros, do Banco de França, e dos bancos de emissão coloniais, e da imprensa. Manutenção eventual, a título de administradores responsáveis, dos dirigentes técnicos das empresas socializadas”.

Vem depois a palavra de ordem que fez surgir em várias partes do mundo os planos de seguros estatais ou paraestatais de que é um exemplo o organizado pelo sr. Beveridge na Inglaterra:

“4º. Generalização dos seguros contra todos os riscos, instituição de aposentadorias para todos os homens e todas as mulheres de mais de sessenta anos”.

E depois de haverem os governos de inspiração maçônica preconizado a valorização artificial da produção mediante o processo de destruição dos produtos, hipocritamente esses mesmo agentes secretos se apresentam como “salvadores” da sociedade, propondo medidas como a seguinte, que se baseia nesse pretexto por eles próprios forjado para entregar ao Estado totalitário-socialista tal excesso de produção, cujo “quantum” fica ao arbítrio dos ditadores, como ficam ao arbítrio destes os próprios meios de produção:

“5º. Interdição legal a título de crime social, da destruição de todos os produtos consumíveis e todos os instrumentos de produção, salvo, para estes últimos, sua substituição por outros mais aperfeiçoados. Requisição, sem indenização, de todas as riquezas votadas à destruição e colocação ao dispor da coletividade, em vista de uma re-exploração eventual, das empresas abandonadas pelos seus proprietários”.

Esta resolução n° 5 é das que mais eloquentemente mostram como o liberalismo econômico age de parceria com as forças secretas, desempenhando o papel de verdadeiro agente provocador na implantação do socialismo.

Também merece nota a resolução que propõe o monopólio do comércio exterior:

“6º. Instituição de papel moeda ou títulos para o mercado interno, ficando o ouro reservado para as trocas internacionais. Monopólio do comércio exterior.”

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O Estado deve cuidar não somente da instrução (que no regime socialista-totalitário é ministrada através da escola leiga e única, abolidas as escolas particulares e confessionais), mas também do próprio modo como as crianças e os adultos descansam e se divertem. Daí: “7º. Prolongamento do regime escolar (possivelmente através de escolas profissionais) e organização do lazer para as crianças e os adultos”.

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Veremos oportunamente como as medidas ulteriores preconizadas pelo Grande Oriente francês carregam ainda mais as cores desse socialismo de Estado, usando de uma linguagem idêntica à da constituição soviética que entraria em vigor a 5 de dezembro daquele ano.

Com esta amostra de hoje podemos mais uma vez indicar de onde vêm os ventos que sopram o problema social no sentido da “evolução” para a esquerda, e ao mesmo tempo focalizamos a cegueira daqueles que vivem apregoando que o comunismo tem apenas de nocivo o fato de ser ateu, pois que, no fundo, sua solução para os males sociais é a mesma da Igreja... Ou será que o fim visado pelas forças secretas é o mesmo das Encíclicas?