Plinio Corrêa de Oliveira

 

Comentando...
 
A Carta das Nações Unidas

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 15 de julho de 1945, N. 675, pag. 2

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São interessantes os depoimentos prestados perante o Senado Americano, a respeito da Carta das Nações Unidas. Muitos representantes de vários grupos de opinião levantaram suas vozes, às vezes com veemência, contra a ratificação daquele documento, ao passo que outros se limitavam a propor certas emendas, como condição indispensável rara a ratificação. De um modo geral, a Carta foi acusada de duas coisas: de ser um “complot” do imperialismo das três maiores potências e de ser um instrumento de propagação universal do comunismo. Daí resulta a negação da utilidade primordial da Carta, que é a salvaguarda da paz no mundo. Todos os oposicionistas salientaram a urgência com que é pedida ao Senado a referida ratificação, apontando-a como um sintoma alarmante, e até mesmo qualificando-a de “sinistra”. Contudo, espera-se que, logo após os debates, a Carta seja ratificada pelo Senado.

Não foi apenas no Senado Americano que a Carta sofreu objeções, mas, um pouco por toda a parte, não é difícil ler ou ouvir críticas. Assim, por exemplo, há os que, minando o funcionamento do mecanismo destinado a garantir a paz e o comportamento de sua peça fundamental, que é o direito de voto, achem que tal mecanismo oferece todas as vantagens para os membros do Conselho de Segurança, mas, ao contrário, todas as desvantagens para as demais nações. Para estes que assim pensam, a Carta nada mais é do que um trunfo na mão das grandes potências, que deixa à sua mercê os outros povos. Por outro lado, há também os que vêm na Carta um defeito diferente: uma tal ou qual imprecisão no definir os direitos básicos do homem de modo a deixá-los no vago.

Queremos crer que haja muito de exagero e pessimismo nestas considerações. Entretanto, é evidente que não seria razoável supor que todas estas objeções de fundamentos e proveniências tão variados, sendo que algumas até se chegaram a ouvir num lugar conspícuo como o Senado Americano, sejam inteiramente desprovidas de valor. Aliás, certo importante representante à Conferência de São Francisco declarou que o organismo de segurança internacional tinha “chances” de dar bom resultado, se houvesse boa vontade.

Parece-nos que este diplomata tocou no ponto importante. A paz é, antes de mais nada, um fato espiritual que, por via de consequência, se estende também às situações materiais. Uma paz puramente externa não passa de uma ordem aparente, superficial e precária, não é verdadeira paz. Tratados, acordos, códigos internacionais, polícias, organismos de segurança são coisas excelentes sem nenhuma dúvida, mas, só por si, não podem promover a paz, se não houver paz nos espíritos. Mas, acontece que a paz interior, a paz de espírito, a verdadeira paz, só a Igreja tem o seu segredo. E, infelizmente, apesar de todas as advertências de Pio XII, disto não se tratou em São Francisco.


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