Plinio Corrêa de Oliveira
Comentando...
Legionário, 8 de julho de 1945, N. 674, pag. 2 |
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“E nem sequer se nomeie entre vós qualquer impureza”. Esta advertência nos dá São Paulo, na sua epístola aos Efésios, para significar o cuidado com que devemos guardar-nos de tudo o que ofende a castidade. Nem devemos nomear, devemos evitar quanto possível falar ou aplaudir a respeito de desonestidades. Ora, acontece que o conhecido escritor francês Roger Martin du Gard escreveu há já bastante tempo, uma peça teatral, que tem por tema central o pecado infame, que fez cair a maldição sobre Sodoma e Gomorra. Esta peça não obteve bons resultados. Na sua inauguração, levada a efeito por Louis Jouvet que há pouco tempo esteve entre nós quando representou “L’annonce fait à Marie” de Claudel, verificaram-se protestos do público, que se foram tornando mais vivos nos dias subsequentes, segundo nos dá conta as Memorias de Gide. Ao que parece, o maior mérito da obra está no escândalo, que a celebrizou. Agora esta peça acaba de ser traduzida para o português. Não acreditamos que venha a ser representada entre nós, a não ser que disso se incumba algum destes Teatros de Experiência, que periodicamente florescem e fenecem, sem provocar outras tempestades, além dos limites do seu próprio copo d’água. Contudo, a divulgação se fará por simples leitura, e se estenderá precisamente pelas camadas de nossa sociedade cada vez menos preocupadas com a Moral objetiva (que é a única Moral propriamente dita), e onde mais frequente se está tornando o assunto dessa peça. Sobre este ponto não podemos, nem adianta, fechar os olhos. O descrédito dos chamados “preconceitos” está entregando a nossa sociedade a todos os desregramentos dos instintos. Sob um verniz tênue de cultura, há toda uma barbárie que vem subindo. E um dos “preconceitos” que perde força todos os dias é o que estigmatiza o crime nefando. Não nos iludamos: estas coisas estão deixando de ser desonrosas. E, como nos tempos do “Quatrocento” italiano [século XV, n.d.c.], os novos Bernardinos de Siena precisarão, em breve, pregar sermões inteiros sobre o assunto. A prova é que a crítica já começou a fazer a propaganda da tradução da peça mencionada. E, para prevenir os espíritos, vai dizendo que não há nada de estranhável, porquanto os homens se dirigem pelos instintos, e estas coisas acontecem mesmo, e são mais frequentes do que se pensa. Com este argumento do “acontece mesmo” vai-se até o fim de toda civilização, e não há nada que possa ficar de pé. Jamais se inventaria o pára-raios, se tivesse prevalecido o “acontece mesmo”. O “acontece mesmo” leva necessariamente a cisma do caboclo à porta da choupana. Este é o resultado bem digno de todas as traições, de todos os abusos da inteligência, de toda a soberba dos homens contemporâneos. “Por isso, Deus entregou-os às paixões da ignomínia”. |