Plinio Corrêa de Oliveira

 

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A Ordem de Suvurov

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 17 de junho de 1945, N. 671, pag. 2

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Recentemente, o General Zhukov, em nome do governo soviético, conferiu ao Marechal Montgomery e ao General Eisenhower, a mais alta condecoração da U.R.S.S., a Ordem de Suvurov.

Ora, na semana passada, grandes homenagens foram prestadas, na Inglaterra, ao General Eisenhower, quando o mesmo foi declarado cidadão londrino. Naturalmente, o homenageado compareceu a esta cerimônia com as suas condecorações, que não são poucas. Entretanto, alguém notou que faltava precisamente uma, a da Ordem de Suvurov. Interrogado, o General Eisenhower respondeu, pilheriando, que se ele a estivesse usando, seria necessário fazer-se acompanhar de um corpo de investigadores e por isso a deixara no seu Q.G. De fato, esta condecoração é uma joia de altíssimo valor, que ultrapassa de muito as mais valiosas.

Eis uma coisa que chama a atenção, pois, à primeira vista, parece o cúmulo do paradoxo: a condecoração mais preciosa, tão preciosa que é preciso guardá-la com cuidado e não andar com ela em público, não é outorgada por nenhum governo aristocrático, burguês ou capitalista mas, nada mais nada menos, que pelo governo proletário da Rússia comunista.

Isto faz lembrar necessariamente certos milionários sibaritas, que professam os esquerdismos mais radicais, como o sr. Leon Blum, por exemplo. Era costume pensar que isto não passava ou de oportunismo, ou de snobismo. Mas agora este requinte soviético vem demonstrar que pode não ser uma coisa nem outra. A verdade é que os últimos acontecimentos têm demonstrado, mesmo entre nós, que pode haver – e na realidade existe - um entendimento muito profundo entre o supercapitalismo e o comunismo. Os extremos se tocam, principalmente quando são falsos extremos.

Porém, a Ordem de Suvurov tem uma significação ainda mais substancial. Todos sabem que vivemos uma época de simplificações, em que, a pretexto de sinceridade, nos vamos despojando de todos os adornos, de todas as fórmulas, de todas as praxes, de todo os símbolos. Bastam os sentimentos e as convicções íntimas, afirma-se. Mas, o fato é que, reduzidos a esta absoluta intimidade, os sentimentos e as convicções morrem. Porque a realidade completa da substância humana inclui necessariamente um corpo material e, por isso, tudo no homem, para ser completo, abrange expressões corpóreas. O pensamento quer a palavra, o sentimento pede o gesto, a emoção busca a fisionomia, a convicção exige o símbolo. E quanto maior plenitude tiverem os pensamentos, os sentimentos, as emoções, as convicções, tanto mais nobres serão as palavras, os gestos, as fisionomias, os símbolos.

Pois bem. Até agora o mundo civilizado tem vivido da simbólica do cristianismo, dos estilos de vida que a Igreja fez nascer na conduta individual e social. Contra eles se levantaram o protestantismo, a Revolução Francesa e o espírito moderno, de que o comunismo soviético era o expoente máximo, com sua afirmação dos valores supremos da ferramenta, do macacão e da camaradagem.

Daquela simbólica e daqueles estilos, quase nada mais resta, está gasto e esvaziado, pela apostasia montante. Agora, urge reconstruir. E a URSS toma a iniciativa da criação dos novos símbolos da nova humanidade. Outros símbolos, outras fórmulas, outras praxes virão. Mas a verdadeira Igreja não será a sua inspiradora.


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