Plinio Corrêa de Oliveira

 

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O totalitarismo socialista

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 3 de junho de 1945, N. 670, pag. 2

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Nada mais interessante que a polêmica política surgida entre os srs. Churchill e Attlee, a respeito do socialismo. É preciso reconhecer que o Primeiro Ministro inglês fez uma incisiva crítica dos princípios do socialismo, com uma concisão e clareza extraordinários. Transcrevemo-la em nossa edição de hoje.

Aludindo ao estado de emergência de um socialismo radical, que a Inglaterra foi obrigada a pôr em prática para enfrentar os embates da guerra e quo só se justificava em face desta situação excepcional, o sr. Churchill declarou: “Vejam como, mesmo hoje, os pregoeiros socialistas consideram os controles de toda a espécie como se fossem acepipes deliciosos, e não imposições de tempo de guerra”.

Nossos leitores devem estar lembrados de que, por várias vezes, manifestamos nossa inquietação de que um regime legítimo apenas durante a fase crítica da conflagração, fosse prorrogado sob diversos pretextos, até tornar-se o regime normal, quando os povos se tivessem habituado a suportá-lo. Vemos agora que nossos temores não eram infundados. Precisamente na Inglaterra estão os que pretendiam aproveitar-se da guerra como um meio para obter o que, de outra forma, jamais obteriam: um socialismo radical, um Estado que seria “um arqui-empregador, um arqui-planejador, um arqui-administrador e governante, e um arqui-patrão autoritário”.

E o sr. Churchill prossegue na sua crítica contundente: “Como poderiam os cidadãos comuns resistirem a esta máquina formidável que, quando estivesse no poder, prescreveria para todos onde deveriam trabalhar, onde deveriam ir, e o que deveriam dizer, quais as opiniões que poderiam e até que limites poderiam expressá-las, onde as suas pessoas deveriam buscar as rações do Estado, que educação receberiam seus filhos para moldar suas opiniões sobre a liberdade e a conduta humana no futuro?”

Estas coisas não são novidades para nós. Mas é interessante que o sr. Churchill fere o ponto em que sempre insistimos, isto é, que os nazismos e esquerdismos vermelhos convergem para um único objetivo: o estatismo absoluto, o totalitarismo. Devem recordar os nossos leitores de que sempre foi pelos mesmos motivos que repudiamos o comunismo e o nazismo. A este, e seus assemelhados, chegamos mesmo a chamar de “pseudo-direitas”, adotando uma feliz expressão do Revmo. Pe. Garrigou-Lagrange. Sempre acusamos os nazismos de terem mesma substância comunista, sendo apenas de fachada a sua oposição ao comunismo. Agora, o sr. Churchill inverte o argumento, e acusa os socialistas de terem princípios nazistas na sua substância, de modo que a sua oposição aos nazifascismos é meramente de superfície.

O Estado Socialista – diz muito bem o chefe conservador – não poderia permitir a oposição que hoje se agita livremente na Inglaterra”. – “Irei ainda mais longe: declaro-vos do fundo do meu coração que nenhum sistema socialista pode ser estabelecido sem uma polícia política”. – “Nenhum governo socialista, dirigindo toda a vida e a indústria de um país, poderia permitir expressões livres, duras ou violentas, de descontentamento público. Ele cairia de novo em alguma forma de Gestapo, embora isso, em certos casos, pudesse ser razoavelmente humano”.

Em seu discurso, o sr. Churchill soube salientar muito bem que a liberdade humana está intimamente relacionada com certas condições materiais. Não sendo o homem puro espírito, pelo contrário, estando a sua alma ligada vitalmente a um corpo material, se não se permitir ao homem a livre disposição de certos bens materiais, a liberdade será um mito. Será livre um homem que não possa dispor da sua casa, de seu campo, do seu trabalho, do seu salário, do seu corpo, do seu destino neste mundo? Se isto estiver subordinado ao planejamento do Estado, ele será um escravo, embora possua um espírito livre.

O sr. Churchill foi, portanto, muito perspicaz, quando afirmou que um Estado “arqui-patrão, arqui-planejador, arqui-administrador” não pode dispensar uma Gestapo, com o subsequente controle da opinião pública. Uma coisa, porém, o sr. Churchill não viu: é que semelhante Estado também não pode dispensar uma mística. O Estado Socialista tende, por natureza, a ser um Estado-Igreja e a tornar-se, assim, um concorrente da verdadeira Igreja. É a mística que põe em andamento a imensa engrenagem do Estado socialista, o que, sem ela, emperraria. Se o sr. Churchill também tivesse observado isto, o seu discurso estaria muito próximo das declarações pontifícias sobre o totalitarismo.

Quanto à refutação apresentada pelo sr. Attlee, é inteiramente inconsistente, e não atinge nenhum dos pontos essenciais do discurso do sr. Churchill, limitando-se a abordar questões secundárias.


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