Plinio Corrêa de Oliveira
Ao celebrarmos o advento da paz, não nos esqueçamos da lição que encerra esta guerra
Legionário, 13 de maio de 1945 |
|
O "Legionário" passa em revista os principais acontecimentos relacionados com a grande hecatombe Depois de todo o caminho de horror e de sangue percorrido pela humanidade nestes seis anos de guerra, o "Legionário" convida os seus leitores a lançar um olhar para trás, a fim de apreciar, em visão panorâmica, os principais fatos relacionados com o grande conflito. Ainda é muito cedo para se fazer uma história desses acontecimentos, mas pela sua simples enumeração, em linguagem resumida, através dos comentários feitos em torno deles por esta Folha, terão os nossos leitores um ponto de partida para formar juízo sobre toda essa longa série de crimes e de infâmias. Numa época em que o bom senso, a lógica e a coerência parecem estar em votação baixíssima não faltará quem ironize esse nosso intuito de analisar fatos que muitas vezes primaram pelo despistamento e pela incongruência. Os leitores do "Legionário", a quem em particular nos dirigimos, são, porém, bastante perspicazes e lúcidos para perceber a vantagem e conveniência dessa recapitulação, agora que o drama chega ao seu clímax. Será este também um meio de mostrar toda a nossa linha de conduta no tumultuar desses acontecimentos. E muitos fatos que se afiguram simples e naturais em sua apreciação, à distância, Deus sabe o que de resistência a pressões externas, a prudência, senso das realidades e sua filosofia, no momento em que se registraram, nos custou. * * * Estamos no ano de 1935. E o mundo começava a viver uma atmosfera de guerra e de vapores de guerra. A paz de luto... Prevendo o desencadear da guerra, assim se expressa o "Legionário" pela sua "Nota Internacional" de 27 de outubro de 1935, quando Mussolini já se havia lançado sobre a quase indefesa Abissínia: "Mussolini, segundo o seu pensamento já então expresso, lança suas hostes contra uma presa mais fraca. A Inglaterra luta, não se conforma, para final ouvir no seu Parlamento o reconhecimento da inutilidade das sanções econômicas, a impossibilidade de sanções militares, e, finalmente, que a única solução do problema era o rearmamento. Hitler e Mussolini já procuram se manter armados até os dentes, com absoluto desprezo pelos princípios discutidos nas Conferencias de Desarmamento, mas agora estas recebem o golpe de misericórdia da própria Inglaterra, que por elas se batia energicamente. Estão definitivamente mortas". E continua a citada "Nota": "Em junho do ano passado, nosso antecessor, observando a Conferencia do Desarmamento, escrevia: "Estes ilustres senhores estadistas parecem mais atores de comédias; mas a comédia neste momento é tragédia, é chiste que se conta em câmara ardente, velando o cadáver da paz..." O "Legionário" contra o "Quisling" belga Já em 7 de junho de 1936, denunciava o "Legionário" as atividade de Leon Degrelle, dizendo ser o movimento rexista "uma excitação a atitudes radicais, violentas, perturbadoras da vida do país". E mais ainda: "A repulsa dos católicos belgas ao movimento rexista, pelas razões acima, e seu apoio ao Partido Católico divergem de maneira chocante das críticas que no Brasil se fizeram aos católicos, porque eles ficaram com a Liga Eleitoral". A agressão nipônica à China Batalhando sempre pela causa de Deus, que é a causa da Justiça, o "Legionário" desde os primórdios da luta do Japão contra a China foi contrário ao expansionismo do país dos samurais. E, assim, em nossa "Nota Internacional" de 1º de agosto de 1937, nos manifestávamos do seguinte modo com relação ao início da guerra no Extremo Oriente: "Temos a China em fogo. Os repetidos incidentes entre as forças chinesas e japonesas acabaram alastrando-se. O Japão entra em uma aventura de que espera promissores resultados. A China é arrastada à guerra em defesa de seu território, de sua integridade". E finalizando: "A China paga a culpa de ser uma nação fraca e mal armada, num século de luzes em que o primeiro lugar cabe à força". Pelo armamento do Brasil contra o perigo nazista Quando muita gente achava ridícula a simples referência à possibilidade de uma invasão nazista em plagas americanas, o "Legionário" saia a campo para frisar a necessidade de nos armarmos contra esse perigo. Um desses apelos foi feito em nossa "Nota Internacional" de 15 de agosto de 1937, quando do incidente criado pelo caso do arrendamento de "destroyers" norte-americanos pela nossa Marinha. As mais fortes objeções surgiram na Argentina e na Alemanha. E assim nos expressamos: "A Alemanha irritou-se por ver no projeto uma preparação contra os seus excessos expansionistas. Na realidade, eles existem, e nós precisamos combatê-los mais energicamente. Não porém, unicamente com forças armadas e sim evitando a intromissão de delegados alemães oficiosos senão oficiais, na vida das colônias aqui domiciliadas, e das associações formadas em sua maioria por brasileiros, filhos de alemães". E mais adiante: "Devemos, e é uma necessidade urgente, criar uma esquadra nossa, que, sem pretensões e grandes posições, possa condignamente representar-nos como força defensiva, que é o único objetivo que visamos." O nazismo, irmão gêmeo do bolchevismo A 29 de agosto de 1937, abria o "Legionário" suas colunas para se ocupar, com destaque, de uma conferência, "que abalara a Alemanha", sobre Nietzsche, e as heresias modernas, pronunciada em Viena pelo conhecido homem de letras Mons. Hudal. Mostrava então ser o nazismo irmão gêmeo do bolchevismo, nascido da mesma fonte ideológica. Como desfecho do nazismo, previa Mons. Hudal a bolchevização da Alemanha, a exemplo do que já havia acontecido com a Rússia. Foi na Rússia, aliás, que a filosofia anti-cristã de Nietzsche encontrou os primeiros leitores, propagadores e admiradores, para depois, há cerca de vinte anos, ensinar-se e vulgarizar-se em outras nações da Europa. O nazismo ficaria na história da nobre nação germânica "apenas como um triste episódio". A mesma tese, pela colunas do "Legionário", era defendida por Frei Pedro Sinzig, OFM, a 12 e setembro de 1937, ao dizer: "Que virá depois de Hitler? O comunismo? Não, este já existe, vestido de pardo, e ostentando como emblema uma cruz torta na guerra contra a cruz de Cristo". E o "Legionário" de 30 de janeiro de 1938, ao se referir ao quinto aniversário da entrega do governo alemão a Hitler, dizia: "Não há, portanto, paz e felicidade para os alemães sob o regime nazista. Na política internacional o nazismo à semelhança do comunismo, do qual tanto se aproxima, tem sido um dos elementos que mais perturbações tem trazido à paz universal. E não é por seu anticomunismo que ele se recomenda mesmo porque não se combate um erro com erros análogos". A Áustria abandonada Nas vésperas de se dar o nefando "Anschluss", mostrou o "Legionário" a situação crítica a que estava reduzida a católica Áustria, desamparada em seus esforços no sentido de afastar o perigo nazista que a ameaçava. Assim nos referimos em nossa "Nota Internacional" de 27 de fevereiro de 1938: "O abandono da Áustria pelas nações democráticas, e a benevolência com a que a Itália permitia a prossecução da política nazista no antigo império, levada por outros interesses que dependem do apoio de Hitler, levaram o chanceler Schuschnigg a entrar em entendimento direto com o Reich". E mais adiante: "É verdade que as garantias nazistas nada valem. O axioma comunista que julga moral o que for favorável ao proletário tem completa aplicação no nazismo, segundo o anuário do partido, pelo que não se pode ter a menor confiança na honestidade hitleriana". "Mas Schuschnigg continua disposto – é o que afirmou no Reichstag – a não consentir na nazificação do país". O jogo "nazismo versus comunismo" E nos "7 Dias em Revista" de 6 de março de 1938, justamente uma semana antes do golpe nazista que impôs o "Anschluss" denunciávamos a seguinte manobra tão nossa conhecida de golpes "direitistas" para salvar o povo do perigo "esquerdista": "Tiveram plena confirmação nossas previsões a respeito do verdadeiro móvel que levou o Sr. Hitler a exigir a soltura dos comunistas austríacos. Muito hipocritamente, os nazistas austríacos e seus correligionários alemães andam, agora, a bradar contra a propaganda comunista na Áustria, afirmando que até na Frente Patriótica (isto é, no partido nitidamente católico que apoia o Sr. Schuschnigg), os comunistas conseguiram criar células de propaganda. Daí a conseqüência tirada pelos nazistas, que já prenunciamos em nosso último número: só o nazismo salvará a Áustria do comunismo. Se chamamos a atenção dos leitores para esta comédia, fazêmo-lo com o único fito de demonstrar que o nazismo se serve do comunismo como mero pretexto para obter a simpatia do elemento anticomunista, mas que, na realidade, ele não tem a menor intenção de combater o comunismo a fundo." Comprova-se a hipocrisia E nos "7 Dias em Revista" do próprio dia do "Anschluss", antes que aqui chegasse a notícia: "É interessante notar que os nazistas são constantemente derrotados e repelidos pela Áustria, e pretendem que os católicos não têm forças nem meios para combater os comunistas. Ora, se a Frente Patriótica católica, de que é chefe o Sr. Schuschnigg, não tem forças para combater o comunismo, e o nazismo não tem forças para vencer nem sequer a Frente Patriótica, fica arqui-provado que o nazismo nunca conseguiria vencer o comunismo na Áustria, e que se os nazistas fossem sinceros, deveriam aliar-se ao Sr. Schuschnigg para combater o comunismo. Em lugar disto, depois do "acordo" de Berschtesgarden os comunistas são soltos e os nazistas atacam o Sr. Schuschnigg. E nessa trama sinistra teve papel relevante o Judas von Papen, embaixador de Hitler em Viena e alma danada do golpe que culminou no "Anschluss". "A conjuração dos Césares e do Sinédrio" O dramático desaparecimento do mapa europeu da Áustria católica, esmagada com criminosa brutalidade pelo tacão da bota nazista a 13 de março de 1938, tornou oportuno um retrospecto político feito pelo "Legionário" de 20 de março daquele mesmo ano. Mais do que qualquer argumentação serviu esse retrospecto para provar a solidariedade com que os Césares totalitários e os sinédrios liberais trabalhavam para crucificar mais uma vez o Salvador, representado pela Santa Igreja. Salientamos apenas alguns tópicos: "XIV - O que faz a Inglaterra? Enquanto as tropas alemãs se preparam para invadir a Áustria, enquanto Schuschnigg apela para toda a Europa contra a prepotência de que sua Pátria está sendo vítima, o Sr. Von Ribbentrop, Ministro do Exterior do Reich, oferece em Londres uma grande recepção, a qual comparecem 600 personalidades da "elite inglesa". "Delenda est Britania..." Como se vê, já a esta altura denunciava o "Legionário" ao mundo o que mais tarde seria conhecido como o espírito de Munique, simbolizado pelo guarda-chuva do Sr. Chamberlain. Mais ainda: "A França, a gloriosa primogênita da Igreja, dileta entre todas e valente como nenhuma, está vitalmente interessada na manutenção da independência austríaca, porém não pode intervir. É que os comunistas se incumbiram de provocar uma crise ministerial na França, exatamente no momento em que isto facilitará a ação de seu pseudo-adversário, o Sr. Hitler. É em grande parte aos comunistas franceses que colaboraram cordialmente com o Sr. Hitler, que este deve seu sucesso. "Quanto a Mussolini, em cujas mãos está a direção de um dos mais nobres e católicos povos da terra... nem é bom falar. Um telegrama benevolente e generoso do Füehrer o recompensa: "Mussolini, não me esquecerei de vosso gesto". "Deus também não se esquecerá... e a hora dele chegará." E nos "7 Dias em Revista" de 27 de março de 1938: "Causou-nos amarga decepção o telegrama publicado na quinta-feira p.p. em que o Gal. Franco felicita o Sr. Hitler pelo seu crime em relação à Áustria. Então será para que a Espanha apoie a paganização da Áustria que os católicos derramaram seu sangue heroicamente nas trincheiras da Pátria de Santo Inácio? Será possível que o General Franco venha a escamotear em benefício de Hitler a vitória dos católicos contra a hidra comunista?" Sobretudo dedicou o "Legionário" mais de uma "Nota Internacional" sobre o perigo de um conflito entre os Estados Unidos e o Japão, assinalando a política expansionista deste último. Apoiou o "Legionário" a política de Roosevelt no sentido de romper o isolacionismo yankee e dizia: "A política de isolamento dos yankees resultou em seu pragmatismo: - não precisavam da Europa, por isso desinteressavam-se de sua sorte, já que os princípios de Wilson havia sido devolvidos intactos". Desde que o novo Continente - e principalmente nós da América do Sul - despertarmos a cobiça hitleriana, Roosevelt assumiu outra posição, francamente contrária àquelas pretensões. Em todas as suas atitudes, e até nas determinações referentes aos exercícios de sua esquadra, transparece a intenção de se opor pela força a qualquer tentativa que possa implicar em uma base de operações para um futuro inimigo na América do Sul. E como a solução das atuais dependências européias poderá ser decisiva neste sentido, não será de admirar que as democracias européias contem com o apoio ianque, graças às Republicas sul-americanas, no conflito que ameaça o Velho Continente". O "Legionário" e a questão dos Sudetos A 19 de junho de 1938 denunciava o "Legionário" "a ofensiva nazista" que se organizava sob comando único. Depois da Áustria, previa a anexação da Checoslováquia e da Polônia. Referindo-se a Conrado Henlein como "a principal figura de uma questão que ameaça incendiar o mundo (a dos sudetos), dizia o "Legionário" de 19 de junho de 1938: "Supõe-se que ele procura remédios, parece, porém, procurar pretextos. É o mesmo método peculiar a Berlim. Quer se chame Seyes Inquart, na Áustria, Codreanu na Rumânia ou Henlein na Checoslováquia, serve-se sempre de demagogos e agitadores, "agentes provocadores" de agitações na massa com o fito de permitir a Hitler a sua ação "pacificadora" e "civilizadora". Henlein... quer enfim, dentro do estado parlamentar e democrático checo, criar um poder totalitário e ditatorial!" A Cruz Gamada "Cristã" Dos "7 Dias em Revista" de 26 de junho de 1938: "Na imprensa fascista houve quem se preocupasse com a descoberta na Igreja do Convento dos Menores Franciscanos, em Amalfi, de vários quadros religiosos contendo a cruz gamada. Esses quadros datam do tempo de São Francisco. Esse fato constitui pretexto para atacar o Sumo Pontífice, afirmando que a cruz gamada é cristã, ao contrário do que disse Sua Santidade quando da visita do Sr. Hitler. Parece que voltamos novamente ao apogeu da propaganda anti-clerical e maçônica do século XIX, quando os adversários do Catolicismo diziam as maiores sandices e inverdades para atacar a Igreja". Genealogia de Monstros Do artigo de fundo de 26 de junho de 1938: "Se muita gente compreendesse isto, veria o nazismo com outros olhos. Tenho um número apreciável de amigos que vêem a política contemporânea sob o único prisma da gênese judaico-maçônica do comunismo pelo liberalismo, e deste pelo protestantismo. Esta genealogia é legítima. Seu grande erro, porém, consiste em considerar o liberalismo como filho único da reforma. É abreviar por demais esta genealogia de monstros. O protestantismo produziu na Alemanha um processo evolutivo de idéias filosóficas e fatos político-sociais, que, paralelamente ao liberalismo e em aparente antagonismo com este, gerou com uma lógica de ferro (verdadeira se não fossem erradas suas premissas) o nazismo. Por isto, é preciso que se compreenda que o furor anti-religioso do nazismo não é um episódio transitório e fugaz da vida contemporânea, uma explosão de imbecilidade ocorrida subitamente nas fileiras anticomunistas alemãs, um delírio que passará mais cedo ou mais tarde sem ter deixado maiores vestígios. O nazismo é resultado de uma evolução profunda, sua política anti-religiosa faz parte integrante de seu pensamento, e, como pensamento é tão visceralmente anti-religioso que eu não teria espanto maior com a conversão da maçonaria em associação de piedade, do que a transformação do Partido Nazista em baluarte das idéias católicas na Europa Ocidental". O "Legionário" partidário da cooperação da América Latina com os Estados Unidos na defesa contra o nazismo Quando era ainda enorme a onda isolacionista dos que não queriam ver o perigo de uma agressão nazista ao Continente Americano, o "LEGIONÁRIO", embora reconhecendo certos males na influência norte-americana, assim se expressava em artigo de fundo de 8 de maio de 1938 sobre a necessidade de uma ampla cooperação da América Latina com os EUA para preservar o Continente contra a infecção nazista. "Entretanto, a Religião fica acima de tudo. Por isto, somos de opinião que a cooperação da América Latina com os EUA na tarefa de preservação do Continente contra a infecção nazista é do maior alcance. O nazismo pode ser equiparado do ponto de vista internacional, quase ao comunismo. E ainda assim este "quase" é muito problemático. Isto posto, claro está que a cooperação de todos os povos contra este malfeitor internacional pode e deve ser estabelecido por todos os povos do Continente. Nisto, e só nisto, se cifra a nossa cooperação. Temos um inimigo comum: juntos, marcharemos contra ele". E já nesta época pugnava o "LEGIONÁRIO" contra o isolacionismo norte-americano, de que era representante típico o aviador Charles Lindberg. O México comunista ajuda a Alemanha nazista Dos "7 Dias em Revista" de 17 de julho de 1938: "O governo mexicano vendeu à Alemanha 10 milhões de dólares de petróleo, sendo intermediária da transação a firma americana Davis. O pagamento será efetuado em marcos compensados, o que obrigará o México também a comprar mercadorias alemãs. Inicia-se, deste modo, um intenso intercâmbio comercial entre o México comunista e a Alemanha hitlerista, por intermédio da América democrática. O Sr. Hitler, que afirma ser o nacional-socialismo a única barreira contra o comunismo, auxilia, pois, o México a sair do grave impasse em que se achava com a expropriação das companhias petrolíferas, e prova ter relações tão cordiais com o governo mexicano que até o apoia contra as exigências de Roosevelt. Note-se que a firma intermediária chama-se "Davis". O Sr. Hitler que vê em qualquer nome do Antigo Testamento um índice de "judaicidade" não vê ou não quer ver isto? Por que?" Ataques anônimos ao "Legionário" Depois de mencionar a denúncia feita pelo Santo Padre Pio XI da "religião do racismo", que só podia "semear ódio, guerra e perseguição", diz o "Legionário" de 31 de julho de 1938, em seus "7 Dias em Revista": "Já que se fala em nacionalismo, digamos uma palavra sobre um fato que, de há muito, estava a exigir explicação peremptória. De algum tempo a esta parte, temos recebido numerosas cartas... anônimas, contendo censuras desabridas e grosseiras pela atitude que mantemos em relação ao assunto. O que tínhamos a dizer é simples: a. É uma exploração vulgar afirmar-se que, fazendo críticas a certos erros do fascismo, fazemos obra de propaganda anti-italiana. Se assim fosse, o maior inimigo da Itália teria sido o Santo Padre Pio XI que mandou publicar no mundo inteiro a Encíclica "Non abiamo bisogno". b. Como católicos, interessa-nos o que se passa no mundo inteiro, inclusive na Itália, e a apreciação dos fatos ocorridos em outros países é um dever jornalístico de que inúmeros jornais fascistas usam e abusam. c. Um autor de carta anônimo não merece ser atendido nem ouvido por nós. Não nos interessam críticas audaciosas feitas através do paravento covarde do anonimato". Os pontos nos “is” O "Legionário" timbrou sempre em não identificar a Alemanha com o Partido político que a infelicitava. Esta a razão do seguinte tópico dos "7 Dias em Revista", de 28 de agosto de 1938: "O chanceler Hitler convidou diversos embaixadores para assistirem ao Congresso do Partido Nazista, a realizar-se em Nurenberg. Entre os embaixadores que aceitaram o convite, causou estranheza que estivesse o embaixador brasileiro, pois, o Brasil, país essencialmente católico, não poderia de nenhum modo estar representado no Congresso de um Partido perseguidor da Igreja Católica". Onde surge o guarda-chuva de Chamberlain Estamos em setembro de 1938. Chegava em seu ponto agudo a crise criada pela questão dos sudetos. Surge no "Times" um artigo apontado pelo "Legionário" como "um balão de ensaio, sugerindo a cessão à Alemanha do terreno habitado pelos sudetos". Diz a nossa "Nota Internacional" de 11 de setembro de 1938: "Se, agora, ainda no caso checo, a Inglaterra e a França se acordarem, junto com os tchecos estarão se entregando de mãos amarradas aos caprichos do "Füehrer" alemão. A paz desonrosa não é, em absoluto, origem de prosperidade e felicidade para qualquer nação. É a lição da história, e é o que na pouco civilizada China está sendo ensinado às "gloriosas" potências européias". E, no artigo de fundo de 25 de setembro de 1938, após o célebre vôo do premier inglês Chamberlain: "Quanto à atitude do Sr. Chamberlain, pareceu-nos simpática enquanto teve o aspecto de uma tentativa suprema de salvaguardar a paz. Hoje, ela aparece como um revoltante gesto de fraqueza, ao qual infelizmente o Sr. Daladier se associou. Para a França, essa fraqueza foi muito mais grave, porque a França tinha tratados sagrados com os tchecos". Trapos de papel E em nossa "Nota Internacional" do mesmo número: "As manifestações realizadas em todo o mundo dão bem idéia da justa indignação provocada pela vergonhosa capitulação ante a ameaça alemã. O prestígio inglês, tão abalado depois da guerra italo-etíope, sofreu o mais rude golpe, e a peregrinação de Chamberlain à Alemanha é um dos episódios mais vergonhosos dessa decadência, não tanto da nação, mas da capacidade de seus políticos. Hitler tem, no momento, a maior glória já obtida por um chefe de Estado nas últimas décadas e dita sua vontade a toda Europa. Não se trata tanto de uma questão de força, pois ninguém garantiria com absoluta segurança sua vitória na guerra". E no fecho da nota: "E em ambos os casos (da Abissínia e da Checoslováquia), os aliados são traídos pela Inglaterra e pela França num desprezo absoluto pela palavra empenhada, o que faz de qualquer garantia internacional um trapo de papel, incapaz de deter a fúria diabólica com que o fanatismo nacional-socialista destroi os Estados vizinhos". O Vaticano deplora a anexação dos Sudetos Iniciada pelas tropas nazistas a ocupação do território dos sudetos a 1º de outubro, de acordo com as decisões do acordo de Munique, a 9 do mesmo mês publicava o "Legionário" o comentário do "Osservatore Romano" sobre o fato, deplorando a anexação dos sudetos e censurando certos católicos que colocaram o seu nacionalismo acima do amor de Deus: "Começou o "Osservatore Romano" por fazer uma extensa relação das ruínas religiosas acumuladas na Áustria pelo nazismo, e depois manifestou seu grave receio de que idênticas ruínas venham a criar-se também na região dos Sudetos, agora ameaçados de um futuro análogo aos dos infelizes católicos do Sarre e da Áustria. Em seguida, o órgão do Vaticano condenou severamente os católicos que foram favoráveis à anexação, mostrando que puseram seu nacionalismo acima do amor do Deus, pelo que serão responsáveis por todo o mal que a Igreja vier a sofrer, e cúmplices de todos os sacrilégios que vierem a se verificar". A conferência de Lima A 8(?) de dezembro instalou-se a Conferência Inter-Americana de Solidariedade Continental, em Lima, encerrando-se a 27. A 23 de dezembro comentava o "LEGIONÁRIO" em sua "Nota Internacional": "Se não chegou a fracassar a Conferência de Lima em seu ponto principal: a defesa solidaria das nações americanas, pois afinal convergiram os esforços em torno do projeto argentino, é indiscutível que as pretensões dos EUA ficaram reduzidas a quase nada. O pior não é o resultado em si, mas sim o predomínio da política externa da Argentina, que a princípio parecia modificada, do mesmo antigo ponto de vista que tem sido o pomo de discórdia das reuniões pan-americanas, e que revelam da parte dela um visível desejo de conservar uma porta aberta para as negociações e entendimentos mais estreitos com as nações que constituem o maior perigo atualmente para as Repúblicas irmãs sul-americanas. Por influência talvez da corrente imigratória muito grande, a Argentina é um ponto suspeito na América, como base de infiltração nazificante no continente. E contra esse perigo todas as precauções são poucas". E em nosso número de 22 de janeiro de 1939: "Os EUA continuam a se preparar ativamente para estar em condições de se constituir o sustentáculo da América contra possíveis incursões totalitárias. Depois de assinalar o silêncio da Conferência de Lima sobre o perigo comunista que também já ameaçava a América, dando o exemplo do México e do Chile, termina a nota: "O ideal seria, naturalmente, podermos nos defender por nós mesmos dos perigos que os extremistas, claros ou disfarçados, representam. Mas, no momento é indispensável a aliança ianque contra o perigo maior e mais próximo. Aceitemo-la com alegria até, mas não com ingenuidade. E somente nos limitemos em que for necessário". A morte de Pio XI Em meio a esse confuso panorama internacional, morre o inolvidável Pontífice Pio XI, na madrugada do dia 10 de fevereiro de 1939. E assim nos expressávamos a 12 daquele mês: "Atualmente mantinha Pio XI uma posição única. Quando toda a tradição e força moral foi banida do mundo, e os chefes de governo valem pelo número de canhões que apoiam suas palavras; quando os reinos e impérios ruem por terra ou seus titulares se transformaram em títeres; quando a frase – quem foi rei sempre é majestade – já nada significa, porque os governantes são adventícios que sobem como um balão para depois desaparecerem sem deixar rastro de si; quando só a força vale, humanamente falando, só ele, sem poder humano e sem soldados, ousava enfrentar todos os inimigos e se impunha pela força moral de uma personalidade única, que a dignidade pontifícia fez resplandecer como um dos maiores Chefes que a Providência concedeu à Igreja em todos os séculos. O vácuo é a impressão que nos deu a notícia de sua morte". O "Legionário" reafirma a necessidade do combate aos totalitarismos Em nota intitulada "Definindo Atitudes", assim nos expressamos em 19 de janeiro de 1939, a respeito de um discurso proferido pelo então Ministro Osvaldo Aranha, em Washington, enquadrando a posição do Brasil em face das correntes que dominavam o mundo: "No conceito do Ministro Osvaldo Aranha, cuja entrevista à sua chegada aos Estados Unidos praticamente se choca em muitos pontos com sua oração, ao contrário do que disse na entrevista, é urgente o combate aos perigos que nos ameaçam. Para uma ação conjunta impõe-se que o governo de Washington não mais favoreça as frentes populares, de estilo mexicano e chileno, mas as combata com grande energia, pondo-as quase como idênticas em periculosidade ao nazismo e suas variantes, que constituem o problema máximo do momento, e aos quais tanto entre nós como nos EUA, se tem tratado, na prática, muito benignamente". Ascende ao trono pontifício o Santo Padre Pio XII Com jubilo universal, a 2 de março de 1939, é eleito Soberano Pontífice o Cardeal Eugenio Pacelli, "alter ego" de Pio XI, para lhe continuar a maravilhosa e fecundíssima ação. "Aos católicos capazes de sentir com a Igreja, dizíamos, a escolha do Cardeal Pacelli - Pio XII -, vem encorajá-los em suas lutas, confortá-los em suas tristezas e recompensá-los em sua obediência, como um auxílio à sua Fé, pois a escolha do conclave significa, de uma maneira sensível, a maior glória do pontificado de Pio XI, eis que é a ratificação pelo Espírito Santo de toda a orientação de seu governo, pela escolha de seu colaborador primordial para continuar na luta em que se empenha a fim de evitar os escolhos que dificultam o caminho da Barca de São Pedro em sua gloriosa trajetória." As tropas alemãs ocupam a Boêmia e a Morávia Novo e espetacular golpe nazista vem surpreender o mundo a 15 de março de 1939 com a ocupação da Boêmia e da Morávia e sua incorporação ao Reich. E assim se expressava o "Legionário" a 19 de março: "Na França e na Inglaterra a perplexidade é imensa. Daladier, cuja conferência com Ribbentrop foi cercada de grande espalhafato, como o início de uma era de concórdia, agora nada ousou dizer. Apenas Chamberlain teve a coragem de reconhecer que fora enganado redondamente por Hitler. Mas não desistiu de sua política, em que prosseguirá, certo de obter êxito final. Provavelmente quando nada restar no mundo para ser devorado pelo Reich..." O "Legionário" dá antecipadamente as razões da resistência da Polônia e da derrocada francesa A 2 de abril de 1939, assim explicava o "LEGIONÁRIO", de modo prévio, as razões da heróica resistência polonesa, que se verificaria meses após, e no desbarato das tropas francesas, como resultado, respectivamente de preparação psicológica do povo, e ausência desta: "No quadro geral da debilidade democrática, acovardada ante o avanço totalitário na Europa, a Polônia levantou-se para sustar a marcha do Reich. À preparação material une-se a espiritual, e o país encara corajosamente a possibilidade da guerra. Ao mesmo tempo, após a reação da opinião pública na Inglaterra e na França, Chamberlain fez um discurso enérgico, mas evasivo, e Daladier, em sua oração de quarta-feira, afirmou que a França nada cederá em seu território. O discurso de Daladier foi categórico, e garantiu estar a França preparada para todas as eventualidades. É possível que assim seja materialmente. Espiritualmente, não. Pelo menos não por obra do Governo. Por mais categórica e positiva que tenha sido a oração de Daladier, faltou-lhe o essencial: alma. Tudo o que disse nada valerá se a perspectiva da guerra amedrontar os franceses. O próprio povo obrigá-lo-ia a ceder. Contra isso, na Polônia, apela-se para a coragem do povo. As aclamações são entusiastas, heróicas. Já se fala na última gota do sangue polonês. O que há de semelhante na oração de Daladier? Onde uma palavra sobre a heroicidade da França, onde uma palavra lembrando as grandes figuras das epopéias francesas, ou um apelo, um estímulo à coragem do povo? Neste sentido nada tem o discurso, e é um dos pontos mais fracos, capaz de inutilizar todas as suas afirmações". A invasão da Albânia Na Sexta-feira da Paixão do ano de 1939 Mussolini realizou o que foi então classificado pelo "Legionário" como uma profanação horrenda: o mundo assistiu, estarrecido, à invasão da Albânia pelas tropas fascistas. Como explicá-la? Por que violentava o "Duce", por essa forma, o sentimento religioso do próprio povo italiano? A essa pergunta, assim respondia o "Legionário" a 9 de abril de 1939: "É que, depois de afrontar o Papa, plantando a cruz gamada em Roma, Hitler imaginou mais esse insulto a Deus, no seu ódio satânico. E encontrou em Mussolini a obediência que esperava. O "Duce", depois das conquistas da Alemanha, com diminuição da Itália, sentiu o desprestígio do fascismo crescer, e por isso, não ousando marchar para a Córsega, como ameaçava, preferiu engodar o entusiasmo popular pela conquista da Albânia. Recebido o "placet" de Chamberlain, cujos jornais já declararam não ser caso de guerra para a Inglaterra, Mussolini teve ordem de Hitler para atacar numa Sexta-feira Santa. E no dia do Sangue de Cristo, dia respeitado por todos os povos cristãos, qual novo Judas, o "Duce" trai um povo amigo, e derrama o seu sangue, para ganhar os trinta dinheiros do prestígio político que por outros meios não soube conservar". E a 16 de abril dizíamos: "Que a Polônia, Rumânia e Grécia procurem livrar-se de seus inimigos e peçam a Deus que as livre dos amigos do estofo de Chamberlain, a fim de não terem o destino da Checoslováquia e da Albânia". De novo em cena o guarda-chuva lendário A esta altura Hitler preparava o bote contra a Polônia, depois de haver, a 27 de abril, denunciado o acordo naval teuto-britânico. E assim comentávamos estes fatos a 14 de maio de 1939: "A Inglaterra prossegue na sua política de apaziguamento e confiança. Como um morcego, Chamberlain pica e sopra ao mesmo tempo. Quando pica - como em seu último discurso - é para sossegar os ingleses indignados com Hitler. Mas para que este não se zangue, reafirma logo sua confiança na palavra de Hitler, cujo alto valor moral, entre outros, o pacto de Munique provou sobejamente... E depois da denúncia do pacto naval pelo Reich, Chamberlain espera assinar outro, ficando tudo em um mar de rosas. Tão grande exemplo deu Chamberlain, que parece fazer escola. E o seu grande discípulo é, segundo tudo faz crer, a Rússia. Ao mesmo tempo Litvinoff é afastado do Comissariado dos Negócios Exteriores, e a Inglaterra recusa a aliança militar proposta pelos sovietes. Nada liga a Rússia contra os Estados totalitários, e da parte deste, apenas o Japão é realmente anti-soviético. Mas como o Japão não quer entrar em alianças militares que interessem exclusivamente a política ocidental, e assim se torna um aliado desinteressante para o Reich, é provável que este prefira a Rússia. Assim, depois da Espanha, Áustria, Sudetos, Morávia, Boêmia, Eslováquia, Hungria, Albânia e talvez em breve a Iugoslávia, as "democracias" terão contra elas também a Rússia, para coroamento de desígnios imperscrutáveis da política de Chamberlain "contra" os Estados totalitários..." O pacto nazi-soviético Com a criação do caso de Dantzig, ficou patente o plano nazista de invasão da Polônia. Para levar adiante este desígnio, bem previu o "Legionário" que não repugnaria a Hitler uma aliança com Stalin. O "Legionário", entre outros fatos, já havia citado diversos favores feitos pela Alemanha nazista à Rússia, inclusive um crédito de 300 milhões de marcos, pagáveis em cinco anos. Aliás, como dissemos em nosso comentário sobre o pacto Molotoff-Ribbentrop, a 27 de agosto de 1939, toda a orientação política desta Folha girou sempre em torno da convicção central e fundamental de que entre o nazismo e o comunismo a aparente oposição se resolvia, em última análise, em uma mal disfarçada solidariedade". "As direitas, comumente chamadas tais, não eram, em última análise, senão pseudo-direitas que ocultavam um conteúdo doutrinário profundamente esquerdista". Desencadeia-se a guerra com a invasão da Polônia Toda essa série de crimes e fraquezas culmina na invasão da Polônia a 1º de setembro de 1939. E o "Legionário" comenta em sua "Nota Internacional" de 3 de setembro: "Em vão se esperou que as negociações entabuladas entre a Inglaterra e o Reich, a mediação de países neutros, a relutância da Itália, conseguissem evitar a guerra. Insuflado pelo apoio de Moscou, com a assinatura do pacto teuto-russo, e sua ratificação quinta-feira, o füehrer lançou-se à aventura. Apesar das notícias do início das hostilidades, a França e a Inglaterra confirmaram as garantias dadas à Polônia. Por outro lado, Hitler dispensou o apoio militar da Itália. O retalhamento da Polônia E continuamos na mesma nota: "Tudo leva a crer que a guerra foi resolvida não por um simples pacto de não-agressão, mas por um acordo secreto entre a Rússia e o Reich, do que deva resultar provavelmente o retalhamento da Polônia. Assim, parecem definir-se as posições como sempre se apresentaram aos que souberam ver: a estreita proximidade ideológica entre o nazismo e o comunismo, traduzida em uma aliança militar positiva contra a civilização e a paz. É a guerra, que se inicia, com todo o seu hediondo cortejo de morte, de miséria e de sofrimentos, para tentar impor à Europa um senhor que é a antítese da civilização católica, e o produto de uma série secular de erros, concretizando o erro contra a Verdade". A França e a Inglaterra declaram guerra à Alemanha Nesse mesmo dia 3 de setembro, a França e a Inglaterra anunciam o estado de guerra com a Alemanha. E dizíamos a 10 de setembro: "A Rússia soviética, após trair as democracias, deu mostras evidentes de um acordo muito íntimo com o Reich, para afinal declarar-se neutra. Qual o seu objetivo? Julgam alguns observadores que Stalin estava certo de que, com sua defecção, a França e a Inglaterra não ousariam declarar a guerra. E se [só] estava disposta à traição, pelo preço de parte da Polônia, não se abalança à guerra. Outros, mais certos da aliança teuto-russa, julgam que Hitler reserva o apoio russo, como o italiano, para o momento de fazer pressão pela paz desonrosa à França e à Inglaterra. A Rússia invade a Polônia Após esperar que as forças polonesas estivessem violentamente empenhadas na luta contra o invasor alemão, os sovietes atiraram-se, a 17 de setembro, com toda a rapidez pelo sul da Polônia, interceptando aos nazistas a fronteira romena e o caminho da Ucrânia, certos de que, empenhado o Reich na guerra ocidental, teria que concordar com os limites impostos de fato ao seu avanço. Santo Padre e "a Polônia que não quer morrer" O Santo Padre Pio XII dirige comovedoras palavras aos católicos poloneses em sua desgraça, das quais em subtítulo o "Legionário" frisou as seguintes: "Não vos pedimos que enxugueis vossas lágrimas. Jesus Cristo que chorou pela morte de Lázaro, vos retribuirá algum dia estas lágrimas que derramais por vossos mortos e pela Polônia, que não quer morrer". A 27 de setembro, atacada pela frente pelas hordas nazistas e apunhalada pelas costas pelos sicários de Stalin, a Polônia mártir rende-se incondicionalmente. Em dezembro de 1939 frisa o "Legionário" "a repulsa que o ataque russo à Finlândia despertou, por sua brutalidade e covardia, dada a diferença de potencial das duas nações". O enigma da linha Maginot A 31 de dezembro de 1939 dedicava o "Legionário" uma longa análise ao fato estranho da guerra na frente ocidental. Pareceria que os Aliados, Inglaterra e França, não queriam atacar os nazistas, esperando pelo contrário, que a iniciativa do ataque coubesse à Alemanha... depois de haver liquidado a frente oriental na Polônia... Caso estranho de dois países que declaram guerra a um agressor, e se põem na defensiva... A reação inglesa Cansados do espírito de Munique resolvem os ingleses aposentar o guarda-chuva do Sr. Chamberlain. Hitler sente a ferroada, como se pode ver no seguinte tópico do "Legionário" de 3 de março de 1940: "Outro estranho fato é o último discurso de Hitler: aí acidentalmente aparece o nome de Chamberlain. A Daladier e aos políticos franceses não há uma referencia sequer. Mas Churchill, Duff Cooper, Eden e "sobre todos eles, flutuando, o espírito do judeu Hore Belisha", soa objeto dos ataques do füehrer. Chega a dizer que é feliz com o ódio de Churchill, e se julgaria um canalha se eles o elogiassem. Tudo porque esses homens, aos quais apenas um ocupa posição de destaque, mais corajosos ou mais honestos que outros, denunciaram claramente seus crimes e levantaram a opinião pública inglesa antes que fosse muito tarde para salvar o país do abismo a que o conduziam". A 9 de abril os nazistas invadem a Dinamarca e a Noruega. A 10 de maio cai o gabinete Chamberlain e Churchill torna-se primeiro ministro. A invasão da Bélgica, Holanda e Luxemburgo condenada pelo Santo Padre Pio XII Nessa mesma ocasião Hitler invade a Bélgica, a Holanda e o Luxemburgo, com a brutalidade e o desrespeito pelas populações que lhe eram próprios. Mostramos, em nosso número de 19 de maio, como o Santo Padre Pio XII condenou essas agressões nazistas, por meio de telegramas enviados aos respectivos soberanos. Sua Majestade, o Rei Leopoldo III, da Bélgica, telegrafara ao Santo Padre pedindo apoio moral "para a causa por que nos batemos com invencível decisão". A este pedido de apoio, Sua Santidade respondeu nos seguintes termos: "No momento em que, pela segunda vez e contra sua vontade e seu direito, o povo belga vê seu território exposto à crueldade da guerra, enviamos a Vossa Majestade e a toda a nação amada a segurança e paternal afeição, rogando a Deus Todo Poderoso que esta dura prova termine pelo pleno restabelecimento da liberdade e independência da Bélgica. A Vossa Majestade e ao seu povo concedemos de todo coração a nossa benção apostólica". O Santo Padre também se dirigiu a Sua Majestade, a Rainha Guilhermina, com as seguintes expressões: "Recebi com viva emoção a notícia de que os esforços de V. M. para a manutenção da paz não conseguiram preservar esse nobre país e que, contrariamente à sua vontade e ao direito, foi a Holanda transformada em teatro da guerra. Suplico a Deus – árbitro supremo do destino das nações – que abrevie pelo Seu todo poderoso socorro o restabelecimento da justiça e da liberdade". E a Sua Alteza a Princesa Carlota de Luxemburgo: "No momento doloroso em que o povo de Luxemburgo, apesar de seus anseios de paz, se encontra envolvido na guerra, sentimo-nos ainda mais próximos de seu coração e imploramos à nossa padroeira celeste o auxílio e proteção necessários, para que esse povo possa viver em liberdade e sã independência. Concedemos a V. A. Real e aos seus fiéis súditos nossa benção apostólica". Como se pode ver, a condenação não podia ser mais explícita, mostrando claramente como Hitler feria os princípios do direito e da justiça ao massacrar esses países sem nem sequer aviso prévio. Quislings na Europa e nas Américas Neste mesmo número, referindo-nos à neutralidade americana, dizíamos: "É uma só a traição verifica[da] na Noruega, como a dos nazistas holandeses e belgas, a ponto da Inglaterra, alarmada, resolver reunir os alemães e austríacos em campos de concentração. Essa mesma quinta coluna existe larga e profundamente espalhada por todas as Américas, e ao sentir o terreno falso em que pisam, é que os norte-americanos estão se decidindo, afinal, a abrir os olhos, e ver o abismo para onde caminhavam com a vista vendada por uma sutil propaganda e um pragmatismo estúpido." Dunquerque e a invasão da França Após a invasão dos Países Baixos, começa a derrocada da França. E antes mesmo da retirada de Dunquerque, o "Legionário" já fazia referencia à traição de que estava sendo vítima a França da parte de seus próprios filhos. Eis o comentário que publicávamos a 26 de maio: "No fracasso da resistência à invasão, os generais e seus estados maiores presos, as pontes não destruídas, os fortes tomados sem luta e outros contratempos idênticos que se verificaram na Holanda, na Bélgica e na França foram tão numerosos, que só os ingênuos crêem numa casualidade. É uma quinta coluna ou sexta coluna, que age em todos os pontos, não com pára-quedistas e turistas armados, mas pela traição, pela morte oportuna dos oficiais encarregados de determinadas missões e outros golpes". Petain e a capitulação da França Naquela hora grave da invasão da França, o "LEGIONÁRIO" enfrentando resolutamente os amigos da política dos panos quentes, verberou o procedimento de Petain, ao fazer a "capitulação incondicional do bravo país de Santa Joana d'Arc". Dele dissentimos desde o primeiro momento, quando muitos ainda diziam pateticamente: "Que lhe restava fazer?" Eis como nos externávamos sobre o assunto em 23 de junho de 1940: "Devemos dizer francamente que não apreciamos a conduta do Marechal Petain". Éramos pela resistência francesa: "Petain não previu isto? Não sabia Petain que enquanto a França conservasse apenas umas nesgas de terra junto ao litoral inglês, estaria prestando a causa comum um inestimável apoio?" E não estávamos sozinhos nesta apreciação: "Desta vez pelo menos, ninguém nos chame de inimigo da França. Não estamos contra ela. A mesma série de reflexões é feita pela fina flor dos franceses e especialmente pelo bravo general De Gaulle, que, de Londres, irradiou para o mundo seu heróico brado de descontentamento com o Governo Petain." E naquele momento de predomínio nazista, confiávamos na reação dos franceses, contra o derrotismo dos que confundiam o bravo povo gaulês contra os traidores que o governavam: "Vencida a França pela defecção de seu governo, na luta material, só nos resta esperar ardentemente que ela tenha fé bastante para suportar o combate espiritual, e vencê-lo porque então, apesar de todos os tacões nazistas que procuram espezinhá-la, ela ressurgirá, mais cedo ou mais tarde, com toda a glória, dos sofrimentos e martírios a que foi sujeita" ("Legionário" de 30 de junho de 1940). A nazificação dos Bálcãs e a "Internacional das pseudo-direitas" Hungria, Rumania, e Checoslováquia passam para a órbita do Eixo. A Itália inicia o envio de tropas à Albânia a fim de atacar a Grécia. E comenta o "Legionário" nos "7 Dias em Revista" de 20 de outubro de 1940: "O "Legionário" tem insistido reiteradas vezes sobre a existência de uma Internacional das pseudo-direitas, tão viva, tão eficaz e tão rigidamente coordenada, em todos os Continentes, quanto a IIIª Internacional, hoje, quase defunta. Seyss-Inquart, Degrelle, Serrano Suner, Quisling, Mussert, são outras provas vivas desta verdade. Está no rol destes tristes personagens o chefe pseudo-direitista romeno, Sr. Hória Sima, que, a despeito de furibundamente nacionalista, foi esperar na fronteira de sua Pátria, para lhe prestar homenagem, os militares "técnicos" nazistas, sobre cujos reais objetivos o Sr. Hória Sima é o primeiro a não ter a menor ilusão". A reeleição de Roosevelt Em seu número de 10 de novembro de 1940, mostra o "Legionário" a reeleição de Roosevelt como "um fracasso nos Estados Unidas das esperanças na diplomacia nazista", simpática à política isolacionista dos republicanos, pois já a esta altura era clara a conduta de Roosevelt de "apoio ao regime democrático inglês, contra as ditaduras totalitárias que o combatem". "Cruzada" nazista contra o comunismo Apesar do pacto nazi-soviético, que facilitou a Hitler a invasão da Polônia e da França, nunca repugnara ao "Legionário" um novo recrudescimento do "slogan" da "luta contra o comunismo" com que Hitler procurava sempre fortalecer sua frente interna e externa. Eis o que dizíamos a 29 de dezembro de 1940, meses antes do ataque nazista à Rússia: "O "Legionário" já teve ocasião de dizer insistentemente, em mais de um de seus números, que a hostilidade fictícia do nazismo contra o comunismo amainada oficialmente ("oficialmente", sim e só "oficialmente" pois que no terreno concreto nunca houve luta e nada havia a amainar) por interesses políticos de momento poderia de um instante para outro readquirir novo vigor sendo muito do feitio do ditador nazista dar um golpe rijo no comunismo, apresentar-se assim à humanidade como um novo Constantino, e, prestigiado pelos louros desta vitória "cristã", empreender mais resolutamente do que nunca a guerra ao Catolicismo. Auxílio norte-americano aos aliados Sempre favorável à resistência aliada contra o Eixo, aplaudiu o "Legionário" a aprovação final da lei de auxílio às democracias, pelo Congresso Norte-americano, contra a opinião de que isto eqüivaleria a lançar o continente americano no conflito. E dizíamos a 16 de março de 1941: "Esta aprovação, apesar da corrente isolacionista, por larga maioria, significa uma visão do futuro, e das conseqüências do atual conflito". Não víamos perigo imediato de um ataque totalitário à América, "mas com o correr do tempo, dizíamos, esse conflito surgirá fatalmente entre a Europa dominada pelo totalitarismo e a democracia americana, se esta quiser manter a sua neutralidade e os seus ideais". E concluíamos: "Por todos esses motivos pode-se estar seguro de que, salvo uma provocação ou um ataque direto, os Estados Unidos por sua livre vontade não entrarão em guerra, não tendo pois a menor procedência a campanha isolacionista quando insinua ser essa a intenção do governo de Washington". O Papa não é neutro Contra o conceito de neutralidade a todo custo, com sacrifício dos princípios da justiça e do direito, transcrevia o "Legionário" de 23 de março, o seguinte telegrama da Cidade do Vaticano: "O Papa não é neutro" - declara o editorial. O Santo Padre não pode deixar de tomar partido. É também na luta, que desempenha as funções de guardião do patrimônio da Revelação e da Redenção, do qual todos nós fazemos parte e que lhe foi confiado. Quanto mais forem entrelaçadas a justiça, a caridade, a fraternidade e o valor da vida adquirida ou criada, tanto mais estarão comprometidas a luz e a orientação das consciências e, em definitivo, a existência ou não-existência da própria consciência humana, e o Papa estará na luta. Ele combate com coragem pelo bem, pelo justo e pela verdade, quanto mais evidentes forem as infrações cometidas. Eis a sentença que ele profere como uma condenação". O bombardeio de Londres Não podia passar sem um protesto o bombardeio da população civil inglesa e, entre outras notas, assim nos referíamos a essa selvajeria a 25 de maio de 1941: "Na sua sanha destruidora contra a população civil de Londres, na esperança de abater a indômita coragem com que o povo inglês obriga o seu governo sustentar a luta contra a ameaça totalitária, os aviões nazistas prosseguem o bombardeio sistemático dos bairros residenciais londrinos, sem nenhum objetivo militar". A agressão nazista à Rússia Mais de uma vez previmos a agressão nazista à Rússia, a despeito da íntima colaboração de Hitler e Stalin, após o pacto Ribbentrop-Molotoff. Eis como nos referíamos ao assunto na véspera da "inesperada" violação nazista da fronteira soviética: "Sem embargo do que esta Folha já afirmou quanto à plausibilidade de um breve entrechoque nazi-comunista, é interessante mostrar que as relações entre aqueles dois regimes totalitários continuam perfeitamente cordiais" (22.6.1941 "7 Dias em Revista"). Por essa ocasião, Hess fracassava na sua tentativa de minar a resistência britânica, caindo seu avião no realejo da "luta contra o comunismo". E o "Legionário" a 29 de junho dedicava um extenso editorial "À margem do ‘conflito’ teuto-russo", frisando a necessidade de exterminar da face da terra tanto o totalitarismo pardo quanto o vermelho. E em nosso número de 6 de julho de 1941, mais uma vez fazíamos um exaustivo confronto das "relações entre o nazismo e o comunismo". "V" da Vitória e guarda-chuva partido Sempre coerente em sua firme determinação de combater o totalitarismo, assim se expressava o "Legionário" a 27 de julho contra os que procuravam entravar a resistência britânica à blitz aérea, terrestre e marítima do Reich: "E enquanto na Inglaterra o partido do guarda-chuva não for destruído, não há erros e lacunas que não se possa temer. A letra "V" está tornando o símbolo da vitória inglesa. Mas quão mais expressivo seria se esse símbolo fosse um guarda-chuva partido!" Vichy e a Indochina francesa Petain, com seu governo de Vichy, cruzou os braços diante da ocupação da Indochina pelos nipônicos, ele que se opôs tão energicamente à desocupação de Dakar por De Gaulle. E dizíamos a 27 de julho de 1941: "A ocupação deste país (a Indochina) pelos nipônicos, anunciada para esta semana, constituiria um golpe terrível para a segurança dos Aliados no Extremo Oriente, afetando diretamente Singapura e as Índias Holandesas - estas capazes de fornecer todo o petróleo de que o Japão necessita em caso de guerra. Com estes fatos as vantagens obtidas pelo "eixo" durante a semana foram enormes. Desnecessário é ressaltar a atitude de Vichy, disposto a todas as resistências contra os aliados da França, e todas as concessões aos países do eixo". Nossas previsões seriam confirmadas após Pearl-Harbour com a queda de Singapura e a conquista das Índias Holandesas pelos nipônicos. O ataque nipônico de Pearl-Harbour Com o ataque traiçoeiro às bases americanas e inglesas, realizado pelos nipônicos a 7 de dezembro de 1941, a guerra tornou-se mundial. Dizia o "Legionário" a 14 de dezembro de 1941: "Toda a América acompanha os Estados Unidos, enquanto as demais nações do Eixo apoiam os japoneses, e as declarações de guerra sucedem-se rapidamente". E a 1º de fevereiro de 1942: "Recomendamos ao exame atento dos nossos leitores, o resultado oficial do inquérito do governo norte-americano sobre o ataque nipônico a Pearl-Harbour. Mais do que qualquer comentário, as conclusões deste inquérito põem a nu todo o mistério de iniquidade que o LEGIONÁRIO sempre apontou na quinta-coluna. Com efeito, como negar que tenha havido traição e, por outro lado, qual o dinheiro suficiente para indenizar os traidores por todos os prejuízos que necessariamente lhes advirão da traição?" O Brasil rompe relações com o Eixo A 28 de janeiro de 1942 o Brasil rompe relações com o Eixo, sendo esse rompimento anunciado pelo Ministro das Relações Exteriores do Brasil na Sessão Plenária de encerramento da Conferência Inter-americana dos Chanceleres. Vem a série de fatos que todos conhecem e que culminaram com a entrada do Brasil na guerra. E escrevíamos, então, contra os que criticavam a nossa atitude perante o perigo totalitário: "Hoje, que bate às nossas portas esse perigo, ameaçando superar em gravidade todos os problemas religiosos do País, pelo risco iminentíssimo em que põe a Fé, é o caso de perguntarmos a muitos míopes, que nos chamavam visionários, simplesmente porque víamos mais longe do que eles, se não tínhamos razão". O Brasil declara guerra à Itália e à Alemanha A 22 de agosto de 1942, o Brasil declara guerra à Itália e à Alemanha. Abstemo-nos de recordar os acontecimentos que se desenrolaram de então para cá, pois se acham na memória de todos. Cumpre-nos apenas ressaltar como nessa campanha contra o perigo nazista nunca deixamos de verberar, com todas as nossas energias, o perigo do comunismo. E são de 23 de agosto de 1942, portanto do dia seguinte à declaração de guerra do Brasil às potências do Eixo, este nosso tópico dos "7 Dias em Revista": "Nós que combatemos com todas as veras da alma o nazismo, devemos combater também, energicamente, intransigentemente, inflexivelmente, violentamente o comunismo. Entre o comunismo e o nazismo não se trata, para nós católicos, de escolher". Os torpedeadores da vitória E, nesse mesmo sentido, dedicamos, de então para cá, mais de um estudo de certas tendências registradas no seio dos países aliados, de torcer a vitória a favor do comunismo ou do socialismo, o que corresponderia a um verdadeiro torpedeamento de todo o esforço feito para assegurar o êxito das armas que combatiam o nazismo e fascismo, que, no fundo, conforme tese clássica do "Legionário", não possam de mero disfarce desse mesmo comunismo ou socialismo. Aqui estamos, portanto, a postos para, uma vez liquidado o monstro totalitário da direita, terçar armas para o extermínio da hidra totalitária da esquerda. Para tanto confiamos no auxílio do Redentor do Mundo e de Sua Mãe Puríssima, Aquela que, sozinha, esmagou a cabeça da serpente infernal. |