Plinio Corrêa de Oliveira

 

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Vício triunfante

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 6 de maio de 1945, N. 665, pag. 2

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Um nosso leitor nos escreve, desabafando os seus sentimentos de católico diante da onda de corrupção que tudo avassala. É a imoralidade mais repugnante que se imiscui nas coisas mais corriqueiras da vida quotidiana, e já nem mais respeita, o recesso dos lares. A mais vergonhosa obsessão sexual vai escravizando os espíritos, de modo que já existe um sem número de pessoas que não podem ver nada a não ser através do prisma de uma obscenidade revoltante. As paixões carnais imprimem a sua marca em quase todas as atividades. E, explorando este pendor, que vai se tornando rapidamente o norte de vida moderna, a propaganda comercial lisonjeia a concupiscência do público, a fim de chamar a atenção e ser mais eficiente. E o nosso leitor juntou à sua missiva uma porção de recortes de jornais e de revistas, em que tudo isto aparece com uma triste evidência.

Infelizmente, é a verdade. E este processo de putrefação é tão generalizado e universal, é tão pujante e espontâneo, que mesmo as pessoas honestas, embora conservando-se incontaminadas, contudo vão se se habituando ao mau cheiro, ou então cruzam os braços, com aquela resignação desesperada que se tem diante das catástrofes irremediáveis. Basta citar o concubinato, que vai sendo recebido com foros de casamento mesmo em famílias de costumes austeros. É inútil fechar os olhos; a deliquescência dos costumes, o desabamento da moralidade individual e pública, o cinismo sob pretexto de sinceridade são um fato. Onde iremos parar? Já existem indícios de um completo colapso da vergonha e da decência, que se anuncia através de vícios nojentos e degradantes, que se alastram dia a dia, e o que é mais grave, provocam cada dia menor repulsa.

O que é pior, no entanto, é que existe toda uma teoria arquitetada para justificar racionalmente esta abominação. Neste sentido, há uma copiosa literatura, que cresce continuamente. Corremos mesmo o risco de sermos taxados de reacionários por estarmos protestando contra esta decadência sem nome, como se a democracia fosse sinônimo de porcaria e o povo nada mais fosse do que uma besta indecente. Entretanto, há os que assim pensam, e cremos não ser necessário indicá-los.

Esta total perversão já foi, porém, devidamente caracterizada pelo Apóstolo: “Porque, tendo conhecido a Deus não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças, mas desvaneceram-se nos seus pensamentos e obscureceu-se o seu coração insensato; porque, dizendo ser sábios, tornaram-se estultos. Pelo que Deus os abandonou aos desejos de seu coração, à imundície; de modo que desonraram os seus corpos em si mesmos, eles, que trocaram a verdade de Deus pela mentira que adoraram e serviram a criatura de preferência ao Criador, que é bendito por todos os séculos. Amem. Por isso Deus entregou-os a paixões de ignomínia. E como não procuraram conhecer a Deus, Deus abandonou-os a um sentimento depravado, para que fizessem o que não convém, cheios de toda a iniquidade, de malícia, de fornicação, de avareza, de maldade, cheios de inveja, de homicídio, de contendas, de engano, de malignidade, mexeriqueiros, detratores, inimigos de Deus, injuriadores, soberbos, altivos, inventores de maldades, desobedientes aos pais, insensatos, sem lealdade, sem benevolência, sem lei, sem misericórdia (Rom. 1, 21 ss.).


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