Plinio Corrêa de Oliveira

 

Comentando...
 
A divisão da Índia

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 15 de abril de 1945, N. 662, pag. 2

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Dois peritos econômicos acabam de propor a divisão da Índia, passando as populações islâmicas a constituir uma entidade política à parte. E este projeto, se não é oficial, tem, pelo menos, um forte sabor oficioso. Portanto, não será de estranhar se a ideia conseguir fazer caminho.

Todo o mundo sabe que lutas terríveis têm surgido entre os bramanes na Índia. A questão muçulmana é mesmo uma questão crítica, um fermento de desordens em contínua atividade, naquela importante porção do Império britânico. Constitui, mesmo um fenômeno até certo ponto estranho, porque o Oriente havia chegado a um estado de equilíbrio; só ultimamente é que surgiu este acirramento espantoso da questão muçulmana, com a efervescência de paixões que a está caracterizando. À vista disso, parece razoável o plano de divisão da Índia, tanto mais que o referido plano não intenta levar a cabo uma separação absoluta, mas prevê o estabelecimento de um regime federativo.

Entretanto, devemos considerar o assunto dentro de uma perspectiva mais ampla. A inquietação muçulmana na Índia não é um fato isolado. Se o isolarmos, teremos renunciado com isto à possibilidade de compreendê-lo em sua autêntica realidade, em seu verdadeiro significado. Precisamos não perder de vista que não são só os muçulmanos da Índia que estão em revolta, mas é todo o mundo islâmico que está em agitação. E esta agitação tem um objetivo perfeitamente definido e declarado: é um movimento pan-árabe, tendente a reconstruir o grande império muçulmano. E este movimento já encontrou a proteção e o incentivo oficiais do governo egípcio, o qual parece pretender levantar a bandeira, que Constantinopla deixou cair.

Diante disso, que viria a ser o novo estado indo-muçulmano, que agora se projeta criar? Evidentemente, apenas uma parcela do grande império. Mesmo porque, sendo os muçulmanos uma acentuada minoria na Índia, não teria este estado outro meio de sobreviver. Mas, apoiado na grande força pan-árabe, seria uma ponta de lança. Seriam os sudetos da Índia.

A verdade é que o atual movimento pan-árabe, que vem sendo favorecido em todos os lugares por tantas forças não-árabes, pode vir a representar um sério perigo para a civilização cristã.

Não é à toa que o Apostolado da Oração teve em vista os muçulmanos em várias de suas intenções missionárias para o corrente ano. A Igreja, sempre alerta, já viu o perigo, e, contra ele lança as armas pacíficas e invencíveis da oração, na qual pede a conversão desses povos. Haverá meio mais eficaz de atingir o mal pela raiz?


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