Plinio Corrêa de Oliveira
Comentando...
Legionário, 8 de abril de 1945, N. 661, pag. 2 |
|
Levantou-se, no Rio, uma acusação muito grave contra a Central: a de ser uma das principais responsáveis pelo aumento do custo de vida, por causa da grande majoração de suas tarifas. O diretor da estrada [ferroviária]defendeu-se alegando que não havia proporção entre o aumento dos preços e a majoração das tarifas. E, para demonstrar a sua asserção, exibiu quadros estatísticos em que se vê que a alta dos preços foi bem mais vertiginosa que a das tarifas. De tudo isto dá-nos conta o comentador econômico da “Folha da Manhã”. Mesmo que a Central não seja a maior responsável pela carestia, há, porém, uma coisa bastante estranha. Verifica-se que as mais fortes majorações tarifarias incidiram precisamente sobre gêneros de maior consumo popular. Assim, de acordo com as tabelas publicadas pela direção da estrada, vê-se que o frete do arroz teve um aumento de 85,7%; o da batata, 166,6%; o da farinha de mandioca, 60%; o do feijão preto, 85,7%; o da dúzia de ovos, 83,3%; e os do sal grosso, do sal moído e do tomate, 116,6%. Os outros artigos tiveram aumentos de 50% para baixo, portanto, bem menores e ainda entre estes a banha está em primeiro lugar, com 52%. Dos gêneros de consumo popular, só o açúcar teve majoração moderada: 38,4%. Ora, sendo a Central do Brasil propriedade do Governo Federal, deveria dar o exemplo no que se refere ao combate à alta da vida, nesta ocasião de angústias para o povo. É uma questão de princípio. E, sendo o preço uma resultante de vários fatores, parece que o Estado deveria começar o combate à carestia pelos fatores, que estão imediatamente no seu poder. No caso particular da Central, alega-se que a estrada, além de precisar cobrir suas despesas ordinárias de custeio, está realizando grandes reformas. Contudo, há, no Brasil, outras estradas de ferro em idênticas circunstâncias, e que nem por isso cobram as tarifas da Central. A Sorocabana, por exemplo, está em fase de grandes obras, e, no entanto, as suas tarifas são inferiores. Tudo indica que, se houvesse maior racionalização na organização da Central, de modo a cortar despesas inúteis, e, aproveitando melhor as efetivadas, não seriam necessários aqueles aumentos astronômicos, a incidir precisamente sobre gêneros de primeira necessidade. Não seria mau que a Central enviasse comissões estudar a organização de outras empresas mais eficientes. Principalmente, o que é mais importante no momento é ter mão de ferro sobre a alta da vida, coibindo-lhe todas as causas, a fim de evitar que os agentes da desordem venham encontrar um ambiente de fermentações, adequado à realização de seus criminosos intuitos. |