Plinio Corrêa de Oliveira

 

Comentando...
 
O mito da classe

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 18 de março de 1945, N. 658, pag. 2

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Em artigo de crítica literária, publicado na semana passada, na “Folha da Manhã”, o sr. Luiz Washington atira uma porção de insultos aos Jesuítas, aos colégios jesuítas, à burguesia e à mentalidade e à formação burguesas, que ele engloba tudo na mesma realidade ominosa e detestável.

Para o articulista, a burguesia se caracteriza por um certo narcisismo antropocêntrico, em que cada um se fecha nas suas complicações psicológicas, apertando nós cegos de desequilíbrios mentais, numa introversão mórbida em que se remexem podridões e taras. Invés de arejar-se internamente, pela fusão na coletividade, o burguês cava porões na personalidade, pelo contínuo voltejar sobre si mesmo. E esta deformação provém dos Jesuítas: “A alma dos seus meninos, educados em colégios de jesuítas, é esgarçada e diabolicamente cristã, isto é, que vê na carne o pecado, e, por isso, são tentados”. Quer dizer que não seriam tentados se fossem espontâneos. Mas, porque se observam e se comprimem, “tudo é ‘misticismo’ e tudo é ‘moralidade’ no fundo de cada um”. E este “cada um” abrange todos os católicos. Todos nós seríamos antros de imundícies, e o que o sr. L. Washington diz da figura do Padre-Mestre não pode ser transcrito.

Ora, tudo isto não passa de falta de senso das realidades concretas. É muito fácil fazer declamações, mas é muito mais difícil ter um contato direto com as realidades humanas. O fato é que a imoralidade tomou conta da sociedade, de alto a baixo. Aqueles que, por dever de ofício, lidam diariamente com as mais baixas camadas da população procurando resolver os seus problemas, encontram-se precisamente diante do quadro traçado pelo sr. L. Washington. A exuberância com que proliferam as mais vergonhosas paixões e as perversões mais repugnantes nas classes de nível inferior é um fenômeno simplesmente alarmante. É evidente que é preciso reconhecer que, para isto, militam vários e poderosos fatores, e que a má organização da sociedade atual é grandemente responsável; não se deve deblaterar, mas trabalhar com toda a boa vontade a fim de melhorar esta situação. Contudo, não se pode negar que estas camadas da população jamais ouviram falar em colégios de Jesuítas, nem sabem o que seja um Padre-Mestre. E, se aí não há complicações psicológicas, é porque se pode observar um processo de embotamento da personalidade, aliás muito semelhante no que se nota nas classes mais elevadas.

Vejamos a realidade como é. Não há nada mais fora de moda hoje em dia do que as “complicações interiores”. A atonia moral generalizou-se e tomou conta de tudo. Só mesmo os que se apegam, por preconceitos ideológicos, ao mito da classe eleita, do proletariado messiânico, poderão não ver os fatos concretos. Deixemo-los com seus devaneios. Sejamos realistas, e reconheçamos que toda a sociedade está enferma, gravemente enferma, e precisa ser socorrida pelos elementos ainda sadios.


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