Plinio Corrêa de Oliveira

 

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A tática do embaixador

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 18 de fevereiro de 1945, N. 654, pag. 2

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O LEGIONÁRIO publica em outro local um extenso relato da N. C. de Washington das atividades do embaixador da Rússia no México, sr. Constantine Oumansky, recentemente falecido num acidente de aviação. Não pode haver leitura mais instrutiva. Vê-se, em primeiro lugar, que o sr. Oumansky rompeu decididamente com os velhos métodos diplomáticos da U.R.S.S. que consistiam em intervir abertamente nos demais países, a favor dos movimentos   esquerdistas. Esta intervenção declarada, este comunismo franco, se haviam revelado completamente contraproducentes, a ponto de terem criado incidentes graves, mesmo com governos esquerdistas como os do México.

O sr. Oumansky mudou de bordo. Nada mais de bolchevismos despudorados próprios a suscitar o temor dos burgueses e a despertar a reação das forças conservadoras. Nada de jogo franco. O novo embaixador agiu como um perfeito diplomata, fino, hábil, culto e - quem o diria? - como um consumado “gentleman”. Em pouco tempo o sr. Oumansky se tornou a primeira figura da vida social mexicana, e a embaixada soviética passou a ser, paradoxalmente, o pivô do grã-finismo da Cidade do México. Além disso, o sr. Oumansky se punha à testa das mais simpáticas iniciativas no campo da beneficência. Tudo isto foi largamente divulgado e glosado por uma propaganda bem organizada, de modo que o cartaz do sr. Oumansky se tomou logo algo de colossal. Isto lhe abriu as portas dos meios conservadores.

Mas não foi só. O sr. Oumansky começou a aparentar inclinações religiosas. Viam-no em atitude muito correta nas solenidades religiosas a que devia comparecer por obrigação do cargo. E, em certa ocasião, observaram mesmo que ele se persignava. A imprensa proclamou estes fatos em todos os tons: “O embaixador Oumansky foi à Igreja tal”; “O embaixador Oumansky persignou-se”; e lá vinham os grandes clichês do embaixador rezando, persignando-se etc. Mais ainda. O sr. Oumansky começou a queixar-se de que a sua situação de representante soviético impedisse a sua aproximação com o Clero. Prontamente, então, arranjaram-lhe uma entrevista com o Revmo. Pe. Pierre Charles. O embaixador lançava habilmente a isca da conversão. E, sob esta cortina de fumaça, as tramas comunistas iam avassalando a América Latina.

Entretanto, a manobra do embaixador soviético não lhe era própria, mas vinha do alto. Quem já não ouviu falar que Stalin está se “aproximando”, e que a sua atitude para com a Religião mudou radicalmente nestes últimos tempos? Aliás, o recente episódio do Pe. Orlemansky é extremamente ilustrativo.

É preciso, portanto, que os católicos não se deixem embair na sua boa-fé. Mais do que nunca, lembremo-nos de que estamos como ovelhas no meio de lobos, e, por isso precisamos ter cuidado com os homens, munindo-nos da sabedoria da serpente, segundo a expressa recomendação evangélica. Quando virmos muita propaganda em torno das boas disposições de alguém, desconfiemos, não nos aconteça estarmos caindo na mesma armadilha montada pelo sr. Ourmansky. Principalmente, não aconteça que, tendo sabido resistir galhardamente à violência, sejamos vencidos pela lisonja.


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