Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

Fim de guerra

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 11 de fevereiro de 1945  Bookmark and Share

Felizmente, o esboroamento do poderio nazista é um fato cada vez mais incontestável. O sucesso continua a coroar os esforços anglo-americanos na Itália e no front ocidental, e, no front oriental, as coisas correm do pior modo possível para o Sr. Adolf Hitler. De um momento para outro, pode-se esperar um "krach" geral na resistência alemã. Se tal fato não se der, o curso inevitável das coisas transformará, dentro em breve, em simples operações de "limpeza" este vitorioso fim de guerra.

Tudo isto, evidentemente, é para nós causa de grande júbilo. Em primeiro lugar, porque à Igreja e a Pátria se beneficiam em larga medida, com o acontecimento. O LEGIONÁRIO teve de lutar longamente, contra toda sorte de incompreensões, para demonstrar que os interesses mais fundamentais do Brasil e da Igreja nos impeliam a uma luta decidida contra o nazismo. Hoje, este ponto não sofre mais dúvidas. Só temos que lucrar com o esboroamento nazista. Libertamo-nos do inimigo n.º 1. E – nisto vai o segundo motivo de nosso júbilo – as tropas brasileiras concorrem eficazmente para esta vitória, que será nossa não só por nossa interferência diplomática no conflito, pelo concurso de nosso potencial econômico, mas ainda pelo contributo do sangue brasileiro. Neste declínio de guerra, pensamos, pois, muito comovidos, na brava FEB, nos seus abnegados capelães, nos valentes Congregados Marianos que ela conta em suas fileiras, e mais especialmente em nosso prezado redator Clovis Garcia, para o qual ficamos augurando daqui todo o sucesso, no seu valente "jeep" a que ele deu o nome de LEGIONÁRIO.

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É preciso que estejamos com os olhos abertos para o presente. O esforço de guerra deve consumir, no momento, todas as nossas energias. Não há mal, porém, em que prevejamos algo do futuro, e que, especialmente, consideremos os principais problemas da Igreja no "post-guerra".

É necessário essa previsão. Até não há muito tempo, os católicos brasileiros acompanhavam a ação da Igreja no mundo, com o olhar de filhos amorosos, que se interessam por tudo quanto se refere à sua Mãe, mas que sabem infelizmente pouco poder fazer por ela. No dia de amanhã, tal não se dará. O Brasil emerge desta guerra como uma potência cheia de vigor, aureolada pelo prestígio de sua força presente, e, sobretudo de seu futuro que se pronuncia cada vez mais brilhante e mais próximo. O isolacionismo morreu. É indiscutível que temos, na América e no Mundo, um grande papel a representar, e que as distâncias que nos separam da Europa e dos EUA, já não constituem impecilho para que desenvolvamos no mundo um grande papel. Podemos, pois, fazer muito pela dilatação da Santa Igreja na esfera dos problemas internacionais. Não percamos de vista esta grande verdade.

Até o completo extermínio do nazismo, nossa preocupação essencial deve ser a vitória. Estamos a dois passos dela. Devemos, por nossas orações sobretudo, pelo concurso de nossas melhores energias, trabalhar por que ela seja a melhor possível. É preciso que não se perca o preço que a vitória custou.

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Isto posto, é bem evidente, que devemos compreender e apoiar todos os planos tendentes a um completo extermínio, não só do poderio nazista, mas de tudo quanto no território germânico, representa ou constitui a raiz do nazismo. O nazismo não deve ser apenas destruído em suas muralhas. Ele deve ser exterminado de modo tão completo, que no solo e no espírito germânico não perdure em estado larvar. E, para isto, é absolutamente necessário que não se dê desde logo o nazismo como um "fato consumado". É preciso que se façam relatórios meticulosos de todas as atrocidades nazistas, relatórios documentados e fidedignos, que expliquem ao mundo inteiro o que eram as verdadeiras antecâmaras do inferno, a que a linguagem burocrática do III Reich deu o nome de "campo de concentração". É preciso que se ponham a nu todos os processos pelos quais o nazismo chegou ao poder, o suborno, a espionagem, a intimidação, a violência clara e brutal. É preciso que se estudem, se expliquem ao povo, se apontem ao perpétuo horror das gerações vindouras os processos pelos quais o nazismo se manteve no poder: a propaganda oficial, mentirosa e desabusada, a opressão satânica de todos os direitos naturais do homem, a insegurança e a espionagem penetrando até nos lares, e disseminando o terror em toda a vida social. É preciso que se saiba até que ponto chegou a idolatria do charlatão Hitler, e quais os absurdos a que se entregou o neopaganismo do Sr. Rosenberg. É preciso que o capítulo dolorosíssimo e capital, das perseguições religiosas, seja posto a nu com todos os pormenores, e que a política de anestesia, de depauperamento e da divisão das forças católicas, que antecedeu a perseguição, seja evidenciada para perpétua lembrança deste grande crime. É preciso que os desbaratos de dinheiro público se conheçam até os últimos detalhes. Só assim, o nazismo será verdadeiramente exterminado. Ou sua história se escreverá logo, trazendo vivas todas as marcas da realidade, ou dentro de algum tempo desaparecerão as vítimas, as provas, os documentos, e tudo ficará envolto em um véu de imprecisão e de dúvida, que deixará aberto o caminho a uma nova restauração nazista.

Sem dúvida, a punição dos culpados capitais se impõe. Mas ela de pouco valerá, se esses homens aparecem à opinião pública, sempre versátil, como vítimas desarmadas. É preciso que essa punição se dê em uma atmosfera saturada da segurança do que o nazismo foi.

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Tudo isto deve ser feito. Mas feito ao par de uma campanha anticomunista bem organizada, que prove que o Ocidente não é obrigado a escolher entre o nazismo e o comunismo, e que pode caminhar entre estes escolhos sem naufragar de encontro a qualquer deles.

O LEGIONÁRIO lutou longamente contra o preconceito de que todo anti-nazista podia e devia ser legitimamente tachado de comunista. Hoje, afirmamos a verdade simétrica com esta: há uma exploração miserável, nessa afirmação de que todo o anticomunista é fascista. E, para isto, não há melhor prova do que o próprio LEGIONÁRIO.

Quando nos tacharam de comunistas, respondemos com um riso. Se algum farsante nos taxasse hoje de fascista, responderíamos com uma gargalhada.

No momento a influência soviética tende a se tornar mais ativa do que nunca. Não cremos no "adoucissement" do comunismo, nem na extinção da III Internacional. Não cremos na "politique de la main tendue". É preciso que o comunismo seja combatido com energia implacável. Sua expansão pela Europa será uma catástrofe que repercutirá na América. Precisamos prever esse perigo, e nos entrincheirarmos desde logo contra ele.

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E, por isto mesmo, desejamos com um ardor veementíssimo, a urgente queda do nazismo. Quanto mais os nazistas deixarem invadir seu solo pelos russos, tanto maior será a influência soviética depois da guerra. Quanto mais depressa cair a Alemanha, tanto mais rapidamente se deterá o avanço russo. E como seria bom que isso se desse imediatamente. Ficaríamos livres do nazismo... 1ª. Máxima e estupenda vantagem. O comunismo ficaria detido às margem do Oder e do Danúbio, sem ter chegado a conquistar a Áustria e a Hungria. Na Áustria e na Hungria Horty et caterva cairiam imediatamente. E a Áustria e a Hungria seriam poderosos pontos de apoio para a política dos Aliados anticomunistas – Inglaterra e EUA – na Europa central.

Quem sabe se a Providência encaminhará assim os acontecimentos?


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