Plinio Corrêa de Oliveira
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Legionário, 1º. de outubro de 1944, N. 634, pag. 2 |
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Nós não somos contra o futebol em si, como não somos contra o esporte, contra os divertimentos, contra a ginástica, contra os progressos científicos e nem mesmo contra o sr. Maritain, tudo competentemente em si. Neste sentido, somos as criaturas mais brandas e cordatas que possam haver sobre a face da terra. Somos, isto sim – e isto se diz com o dedo em riste – contra os abusos! Esta declaração preliminar é necessária para acalmar os nervos dos prudentes, dos equilibrados, dos sensatos, gente excelente, que poderia morrer de apoplexia se fôssemos logo afirmando: Esta história de futebol está intolerável! Isto posto, convenhamos em que a mania do futebol já ultrapassou todos os limites e já se tornou um desvario. Ainda há pouco tempo, o “Estado de S. Paulo”, deixando a sua costumeira seriedade, saiu-se com uma crônica, em que se imaginava até o Céu contagiado pelo entusiasmo futebolístico. E, como é fácil conjeturar, não faltaram as irreverências blasfemas. Ainda se o cronista tivesse tido a intenção de combater o fanatismo dos torcedores, nem mesmo assim a ideia se justificaria, mas sempre haveria uma leve escusa. Mas utilizar-se de coisas sagradas para por mais lenha na fogueira da mística do futebol, é atitude absolutamente reprovável. Entretanto, o fato é inegável e patente: o futebol alcançou, em nossos dias, foro de cidade. Não é mais apenas o entretenimento ingênuo das camadas populares e dos adolescentes, mas um acontecimento central, de primeira grandeza, a cuja volta gravitam interesses de toda a espécie. Intelectuais, políticos, homens de negócio, personalidades representativas, como que a uma palavra de ordem, se voltaram para o futebol, dedicando-lhe o melhor de seus esforços. Assim, este esporte atingiu a categoria de fato nacional. Da mesma forma, o povo, em seus diversos agrupamentos, põe no futebol o seu máximo interesse: nada pode ter maior repercussão na alma popular do que a perspectiva de um grande jogo. O interesse que antes se orientava para a política, para os problemas sociais ou econômicos, refluiu quase exclusivamente para o futebol. A verdade é que o povo já não se interessa por esses problemas, e recebe quase indiferentemente as soluções que se lhe apresentem: o homem, o profissional, o cidadão se apagaram no “torcedor”. É preciso reconhece-lo: o fenômeno é grave, é mesmo alarmante. Na Roma da decadência, a plebe clamava por pão e circo. Hoje, o povo só está querendo o futebol. |