Plinio Corrêa de Oliveira
Comentando...
Legionário, 13 de agosto de 1944, N. 627, pag. 2 |
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Prossegue o Revmo. Pe. Valentim Armas, C.M.F., em sua benemérita campanha de divulgação da devoção ao Imaculado Coração de Maria. Ainda agora, acaba de ser editado, por sua iniciativa, um esplendido opúsculo a respeito das célebres aparições de Nossa Senhora aos três pastorzinhos de Fatima, durante o ano de 1917. Neste trabalho se encontra uma exposição compendiada, clara e precisa do essencial sobre aqueles fatos sobrenaturais, de modo que o leitor pode ter brevemente uma ideia acertada acerca dos acontecimentos. É leitura utilíssima e altamente edificante, na exposição positiva e singela dos milagres estupendos da Cova da Iria. Os fatos são de tal modo eloquentes, que o opúsculo em questão se limita a narrá-los com toda a objetividade, intercalando apenas, com grande senso de oportunidade, uma ou outra breve reflexão prática. Ao terminar a leitura de tão interessante trabalho, fica-se pasmo da dureza de coração a que chegou a humanidade. Afinal de contas, estas manifestações ocorreram ainda ontem, no ano de 1917, na plena maré do século XX, num país integrado na civilização moderna e dominado pelas ideias materialistas. E, no entanto, nesta moldura nitidamente contemporânea, surgem acontecimentos como só se julgariam possíveis na Idade Média, para mostrar aos homens que o espírito da Idade Média não era um espírito temporário e caduco, mera expressão de uma mentalidade coletiva em dado momento da evolução histórica, mas era um espírito perene, uma realidade sempre viva e presente, apesar do repúdio dos homens que o quiseram abafar sob o lixo de suas misérias e de suas loucuras e de suas mentiras, porque este espírito é o Espírito de Deus, que não pode deixar de dar testemunho da verdade. E, contudo, em plena era do telégrafo, do rádio, da fotografia, do avião, em que não há fraude que não seja logo espalhada por todo o mundo, em que não há crime cometido no último rincão que não seja imediatamente propagado em todas as minúcias mais repelentes, em que não há vaidade, escândalo ou miséria que não sejam atirados ainda palpitantes à voracidade de todas as curiosidades, é nesta mesma era que a voz misericordiosa do Céu é abafada quanto possível, isolada no silêncio, perdendo-se no vazio, abandonada, esquecida. Esta voz vinha anunciar aos homens os caminhos da paz, em meio das angustias da primeira grande guerra, mas anunciou também os caminhos da cólera divina, se a humanidade não se convertesse. Estes caminhos se desenrolam ante nossos olhos, há já cinco longos anos (referindo-se ao início da II Guerra Mundial, n.d.c.), tais como foram preditos em Fatima. O mistério da iniquidade está em plena levedura, ramificando-se e multiplicando-se a perder de vista, mergulhando suas raízes de amargura até onde menos se poderia supor. Até quando prosseguirá esta gestação monstruosa de males? Nossa Senhora tem o segredo e a chave dos tempos futuros. Aconteça o que acontecer, Ela terá a última palavra, a palavra da justiça e a palavra da misericórdia de Deus. |