Plinio Corrêa de Oliveira

 

Comentando...
 
O milagre

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 30 de julho de 1944, N. 625, pag. 2

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Local onde se deu o atentado no qual deveria ter morrido Hitler, a 20 de julho de 1944

O último discurso do sr. Goebbels, a respeito do atentado em que deveria ter morto o sr. Hitler, está cheio de afirmações da mais alta significação. Segundo as declarações do prócer nazista, a incolumidade do “fuehrer” foi obra exclusiva do sobrenatural, em outros termos, foi um autêntico milagre. Não deixa de ser interessante ouvir-se a descrição do ministro do Reich:

“O assassino conseguiu acesso à sala de operações onde o “führer” estava conferenciando, com o pretexto de prestar uma informação. Levava o explosivo numa pasta de documentos que pousou no solo e colocou violentamente aos pés do “führer”. O coronel-general Korton, que estava em pé, logo atrás do “führer” ficou gravemente ferido e faleceu posteriormente. Todos os outros presentes à conferência foram, devido à força da explosão, lançados através das janelas e seus uniformes ficaram reduzidos a tiras. Somente um lugar da sala ficou imune à explosão: o ponto exato em que se encontrava o “führer”. Sua mesa foi lançada violentamente para o outro lado da sala, mas o ”führer” não sofreu lesões, afora uma ligeira contusão, queimaduras e alguns ferimentos no rosto”. E o sr. Goebbels afirmou categoricamente: “se a salvação de Hitler não foi um milagre, não existem milagres”.

Não cremos que o sr. Goebbels tenha exagerado, a fim de realçar o nimbo sobrenatural do sr. Hitler. Conforme tudo indica, as coisas se passaram mesmo assim. Mas, então, estamos em face de um prodígio? Parece que sim. Apenas, é preciso considerar que há prodígios e prodígios.

A Santa Escritura nos conta que Aarão, para demonstrar a sua missão divina, e a de seu irmão Moisés, atirou diante do Faraó o seu bordão, que imediatamente se transformou em serpente; e depois a tomou de novo, e ela imediatamente voltou a ser bordão. Isto foi evidentemente um prodigio. Mas a Santa Escritura também nos conta que os magos do Faraó, por meio de suas incantações, conseguiram realizar precisamente a mesma coisa. E isto, não se pode negar, tambem foi um prodígio, não inferior ao executado pelo poder divino. E a concorrência entre os prodígios de Aarão e os dos magos, não ficou aí, mas proseguiu durante algum tempo, conseguindo fazer estes, por suas artes mágicas, o mesmo que aquele fazia, por obra de Deus. Portanto, de acordo com o testemunho do texto bíblico, nem todos os prodígios vêm de Deus.

Ora, todos sabem que o nazismo é essencialmente místico. Todos os chefes hitleristas e o próprio sr. Hitler mais do que todos, têm sempre insistido na tecla do sobrenatural. O discurso do sr. Goebbels, a que nos referimos, está inteiramente penetrado de repercussões do Além. Se o sr. Hitler não perdeu a vida, é porque o “Todo-Poderoso” quis revelar que desígnio de sua “Providência” é fazer a Alemanha ganhar a guerra, porque a Alemanha é o instrumento do “Todo-Poderoso”, e assim por diante. Enfim, as palavras do sr. Goebbels lembram, em sentido contrário, os comentários piedosos dos hagiógrafos acerca dos prodígios da vida dos Santos. O nazismo não é ateu e tão pouco é anti-religioso, pois ele próprio é uma religião. Por outro lado, o nazismo é visceralmente anti-cristão. De que natureza é, pois, a mística nazista?

Por tudo isto se vê a intenção do nazismo de se erigir em Igreja, contra a Igreja de Jesus Cristo. Ora, onde há uma anti-Igreja, deve também haver algum Anticristo. E diz o Apocalipse que o Anticristo, quando vier, fará prodígios tão grandes que persuadiriam os próprios justos. Não é de estranhar, portanto, que, com um pequeno anticristo aconteçam prodígios. Mas não nos esqueçamos de que Deus permite que sucedam prodígios não saídos de sua mão a fim de que a vitória do bem seja mais profunda. É o que se chama virar o feitiço contra o feiticeiro.


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