Plinio Corrêa de Oliveira

 

Comentando...
 
A incolumidade de Roma

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 11 de junho de 1944, N. 618, pag. 2

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Felizmente para o mundo civilizado, Roma permaneceu incólume, em meio aos perigos que a ameaçavam. Ao contrário do que muitos temiam, e com razão, a Cidade Eterna não foi transformada numa nova Stalingrado. As orações, que se elevaram ao Céu, foram ouvidas. Hoje, a Santa Sé acha-se em segurança, depois da conquista das forças aliadas, que afastaram para longe os bárbaros do século XX.

Entretanto, não devemos dar graças a Deus apenas pela segurança do Sumo Pontífice e dos altos órgãos da administração eclesiástica, cujo funcionamento regular está agora garantido. É verdade que isto está acima de tudo, pois, a Santa Sé constitui o eixo de toda a vida cristã no mundo. Porém, a própria cidade de Roma, apesar de despojada de sua prerrogativa de Capital Pontifícia, que era o seu mais alto título, continua a ser, a despeito de tudo, a célula mater da civilização cristã. Nem é pelo fato das forças anticristãs haverem conseguido lançar mão dela temporariamente, que ela perdeu este caráter.

Qualquer pessoa que tenha um pouco de discernimento compreenderá prontamente que desprestigio formidável representaria para o Cristianismo em geral, e para a Igreja em particular, a transformação de Roma em campo de batalha, com a inevitável consequência de seu aniquilamento, dadas as condições da guerra moderna. E, como o que há de melhor no patrimônio da humanidade é o que se chama a civilização cristã, oriunda da Igreja Católica, compreende-se perfeitamente a expressão forte de Pio XII, acusando de matricídio quem quer que levantasse a sua mão contra Roma.

Evidentemente, o que o Papa defendeu com o seu prestígio não foram os aspetos urbanísticos e materiais da cidade, nem as ruínas da capital dos Césares, nem muito menos às odiosas reminiscências de um passado pagão. Só um espírito muito rasteiro poderia pensar tal coisa.

O que o Papa cobriu com sua sombra protetora foi o significado espiritual ímpar de Roma, foi a nova Jerusalém do Rei Imortal, alicerçada no sangue dos primeiros cristãos, relíquia santa de muitos mártires. E, se este significado transcendente está ligado, está inviscerado a certas coisas materiais, vai, contudo, muito além delas. E só uma inteligência embrutecida poderia confundir o zelo por este significado a algum culto às pedras.

Quanto a querer ver na alocução consistorial, em que o Sumo Pontífice ressalvou os direitos de Roma, qualquer simpatia com o fascismo ou o nazismo, como além de tudo o fez o comentarista internacional da “Folha da Manhã”, é uma coisa que nem merece ser comentada, pois nada mais exprime do que obcecação. Aliás, os acontecimentos posteriores demonstraram que a palavra do Papa foi entendida de modo muito diverso pelos responsáveis.


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