Plinio Corrêa de Oliveira
Comentando...
Legionário, 4 de junho de 1944, N. 617, pag. 2 |
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Durante o mês de maio chegou-nos uma carta, em que se nos pedem esclarecimentos acerca do Compromisso dos membros da Juventude Feminina Católica, que termina com as seguintes expressões: “Atendei, ó Mãe, à minha súplica e livrai-me de todo pecado, Amém”. Diz o missivista que certo seu amigo ateu vem procurando convencê-lo de que os católicos, ao contrário do que afirmam, adoram Nossa Senhora, dando-lhe o culto só devido a Deus. Aquelas expressões finais vieram embaraça-lo nas discussões que sustenta, obrigando-o a explica-las por uma “reservatio mentalis” (restrição mental), pela qual todos os católicos entenderiam implicitamente que, na realidade, só há UM que livra dos pecados. O que não deixou certamente de coloca-lo em posição fraca em face do ateu (que, seja dito entre parêntesis, mais parece protestante), e o levou a escrever-nos. Ora, a questão é extremamente simples. Quando um doente atacado de grave enfermidade consegue restabelecer-se, diz-se que o médico livrou-o da morte. Porém, mais do que o médico, agiu o remédio; e mais do que o remédio, a natureza; e muito mais do que tudo, Deus. Mas não deixa de ser verdade, sem ser “in reservatione mentali”, que o médico livrou-o da morte, embora em grau ínfimo. Do mesmo modo, quando um réu é absolvido, diz-se que seu advogado livrou-o da pena. Em realidade, é o juiz que o absolve, e portanto só o juiz pode livrar alguém da pena. Contudo, quem poderia achar errada ou impropria a afirmação de que o advogado livrou o réu da pena? Vê-se, imediatamente, que se trata de dois modos distintos de livrar da pena, um principal, exercido pelo juiz; outro ministerial, exercido pelo advogado. E isto já nos aproxima consideravelmente da solução do problema, posto que Nossa Senhora é chamada, na Salve Rainha, “advogada nossa”. Mas vamos mais longe, porém. Quando um amigo consegue afastar alguém da senda do vício, pode-se dizer que livrou-o do vício, o que é um modo de livrá-lo do pecado. É verdade que este amigo foi apenas instrumento da misericórdia de Deus; mas é verdade que o instrumento também realiza, de certa forma, a obra produzida pelo agente principal. É assim que todo mundo concorda em que a conversão de Santo Agostinho foi devida às orações de Santa Mônica, o que evidentemente quer dizer que Santa Mônica livrou Santo Agostinho do pecado e do inferno. Mas ainda há mais. Não é apenas em relação aos pecados futuros que se pode ser livre pelo ministério dos homens, mas também em relação aos pecados passados. Isto é, há homens com o poder de perdoar os pecados: os Padres. É fato que eles perdoam em nome de Deus, mas o poder de perdoar os pecados está neles, é deles, embora por outorga divina. Por isso, pode-se dizer perfeitamente que o Padre livra dos pecados passados, que o Padre perdoa, embora o perdão dos pecados seja, antes de mais nada, obra de Deus. Obra de Deus, contudo, que se efetua pelo ministério do Padre, ministro insubstituível e essencial do Sacramento da Penitência. Isto posto, livrar dos pecados presentes, passados ou futuros, é o efeito da graça de Deus. Ora, uma das verdades mais consoladores de nossa Fé está na mediação universal de Nossa Senhora. Isto quer dizer que nenhuma graça vem até nós que não tenha passado pelas mãos de Maria Santíssima. Esta é a economia estabelecida por Deus para a nossa santificação. Isto quer dizer também que Jesus Cristo não recusa à Sua Mãe nenhuma das graças que Ela Lhe pede. Esta situação privilegiada de Nossa Senhora é a consequência da íntima relação que Ela tem nos mistérios de nossa salvação. Assim sendo, nada mais natural que recorramos a Ela, pedindo-Lhe que nos livre de todo pecado, pois que Ela tem nas mãos os recursos divinos para isso. Ela é a nossa advogada infalível junto a Deus. Se depois disto ainda houver quem ache idolatria esse modo de invocar a Mãe de Deus, ache. Neste mundo há gente para achar tudo. Os corações endurecidos e obcecados se agarram sempre aos mais miseráveis sofismas para sustentarem a sua má vontade. Porém... Porém... |