Plinio Corrêa de Oliveira

 

O discurso de Churchill

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 4 de junho de 1944, N. 617

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O curso da guerra vai justificando inteiramente as afirmações que fizemos não há muito. O Sr. Adolf Hitler, cada vez menos senhor da vitória, continua senhor de a dar a quem quiser. Vencer, não o conseguirá mais. Resta-lhe desenvolver de tal maneira as operações, que em última análise, lhe caiba decidir quem será de fato o vencedor.

Ele ainda tem forças suficientes ou para conter os russos na frente oriental, ou para retardar a invasão dos aliados na frente ocidental. Contra os dois perigos não poderá resistir. Se ele retardar a invasão dos Aliados, a vitória favorecerá mais os russos. Se desviar suas tropas do Ocidente e as atirar contra os russos, favorecerá mais os aliados. Com efeito, o melhor quinhão da vitória caberá a quem se cobrir de maiores louros no campo de batalha, a quem, sobretudo, ocupar maior espaço territorial. Ninguém poderá forçar os russos abandonar as zonas que tiveram invadido. Ninguém lhes dará zonas que não tiverem conquistado. Em última análise, a Rússia terá o que agora conseguir. Depois, será tarde.

O Sr. Adolf Hitler sabe disso. E o que faz esse "cruzado", esse "campeão anticomunista", esse "defensor da civilização europeia e cristã contra a barbárie Mongólica"? Mobiliza na frente ocidental tantos recursos, que até agora a invasão não foi possível. E lentamente vai cedendo o terreno aos russos. Ser-lhe-ia fácil atirar contra os russos algumas das divisões que tem mobilizadas no ocidente, e defender-se assim contra um adversário cada vez mais próximo, cada vez mais insolente, cujas vitórias cada vez mais o desprestigiam aos olhos de seus amigos e de seus inimigos. Ele aceita o risco, sofre a humilhação, sujeita-se a tudo; mas não quer um desembarque aliado no Continente europeu.

A Frente italiana, ele a defende palmo a palmo com uma pertinácia sem precedentes. E, para conservar alguns quilômetros na Itália, entrega províncias inteiras na Europa Oriental. Não vê ele que, com isto, dá a alma da vitória aos russos? Evidentemente. Mas se ele vê isto, e faz isto, ele quer isto. Logo, Hitler prefere que vençam os russos a que vençam os aliados.

Como sempre sustentamos, os nazistas e comunistas são irmãos gêmeos que estão brigando. Inimigos um do outro são-no ainda mais dos estranhos, que tenham a insolência de se meter em suas brigas. E, por isto, o nazismo está cometendo a suprema traição de entregar a Europa lentamente aos bolchevistas. Hitler não pode lançar o mundo inteiro no nazismo, isto é, no comunismo pardo? Lança-o então no comunismo, isto é o nazismo vermelho.

E o mais curioso é que, a esta altura dos acontecimentos, o Sr. Stalin parece não ter muita pressa de derrotar a Alemanha. Em lugar de prosseguir no seu "putch" contra o Reich, atira suas divisões sobre os Balcãs. A Alemanha satisfeita deixa-o estrangular os seus pequenos aliados. A proximidade das tropas russas da fronteira germânica seria provavelmente o sinal de uma formidável insurreição contra o Sr. Hitler. Mas o "camarada" Stalin não tem pressa de que isto aconteça. É que se ele derrubar agora o Sr. Hitler, não poderá ocupar depois a Hungria e os Balcãs. Mas se ocupar os Balcãs e a Hungria agora, poderá não libertar mais esses países depois da guerra. E, por isto, num tácito acordo, Stalin deixa prolongar-se a agonia de Hitler.

Hitler imobiliza no Ocidente a segunda frente que os aliados querem abrir, e deixa Stalin ir tomando conta da Europa Oriental e Central. Os dois totalitarismos, brigando, ainda colaboram. Se colaborassem em regime de paz já seria extraordinário. Mas que continuem a colaborar até em regime de guerra, nada prova mais que no fundo eles são irmãos, e que ambos estão muito conscientes desta realidade. Só irmãos que se querem muito, podem continuar a se prestar esses bons serviços, mesmo em plena briga.

Mais uma vez, a tese do "LEGIONÁRIO" se confirma, o comunismo e o nazismo são irmãos siameses.

Evidentemente, para a civilização cristã, o contrário é o que conviria. Seria excelente que os aliados invadissem o continente, que o Sr. Hitler se entregasse logo, que a massa da opinião pública reconhecesse que as vitórias russas são no fundo conquistadas pela imobilização de inúmeras divisões germânicas no Ocidente e que o exército russo luta inteiro contra um toco de exército teutônico, que assim o prestigio bolchevista diminuísse. Os escombros do nazismo se dissolveriam. O comunismo ficaria relativamente contido nos limites territoriais ainda possíveis. E a civilização cristã poderia cuidar, tranquila, de preparar o extermínio do bolchevismo da face da terra.

Nada disto está sucedendo. Nosso "inimigo n. 1", o nazismo moribundo, constitui o comunismo, que é nosso "inimigo n. 2", seu herdeiro universal. Os comunistas conquistam todo o seu poder à custa de um ato de simpatia quase póstumo do Sr. Adolf Hitler. E, em última análise, o perigo comunista assoma agora nos horizontes políticos como um verdadeiro espantalho.

Espantalho sim, e espantalho tanto mais perigoso quanto só pode ser discernido pelos argutos. Certa política procura alcançar, até entre os católicos (terribile dictum), simpatia para o regime de Moscou. É uma raça de católicos invertebrados - de católicos sem espírito católico portanto, que precisam sempre apoiar-se nos poderosos do dia. Pensam que a Igreja é uma trepadeira à procura de uma árvore a qual se agarrar para subir. Não compreendem que a Igreja é, pelo contrário, a coluna do Céu e a rainha do mundo, e que Ela não precisa de apoio de seus adversários.

Ontem, esses invertebrados namoriscavam com o totalitarismo, e por meio de toda uma técnica de subtilezas e de bizantinismos arranjavam pretexto para pactuar com ele. Hoje, pelo contrário, com a mesma técnica, procuram arranjar meios de pactuar com o comunismo. Ventoinhas sem constância nem espírito de Fé, precisam lembrar-se de que o Santo Padre Pio XI condenou a "politique de la main tendue" [política da mão estendida], e que, portanto, entre comunistas e católicos não há acordo possível. Ontem ainda, eles estavam aterrorizados com o perigo comunista e apregoavam uma entrega ao nazismo, com armas e bagagens. Hoje, tem terror do nazismo já esmagado e apregoam uma reconciliação com o comunismo.

Se Deus quiser, a política do LEGIONÁRIO continuará sempre a mesma: confiar na Igreja, e em Deus, fazendo pactos só com Deus, seus Anjos e seus Santos, desprezando, pois, inteiramente, todos os sofismas que o levariam a macular a pureza imaculada da doutrina católica.


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