Plinio Corrêa de Oliveira

 

Comentando...
 
Antitotalitarismo substancial

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 28 de maio de 1944, N. 616, pag. 2

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Telegrama de Washington conta-nos que o sr. Bernard Baruch, principal conselheiro econômico do Governo norte-americano, personalidade que, nestas duas últimas grandes conflagrações, assumiu, uma quase ditadura econômica nos Estados Unidos, a fim de promover a completa mobilização de todos os recursos em vista da guerra, anunciou há poucos dias o seu plano de readaptação dos órgãos governamentais norte-americanos, no período de transição que se abrirá com a paz. Deste plano, salientamos os seguintes pontos de importância transcendental:

“1) Que seja apresentada ao Congresso uma moção visando reduzir os impostos ao nível de antes da guerra, assim que termine o conflito; 2) que o governo se retire dos negócios no fim da guerra, cancelando rapidamente todos os contratos de guerra e ordenando a distribuição das enormes reservas de mercadorias que tem à sua disposição”.

Já temos salientado que o maior paradoxo para as Democracias, na presente guerra, consiste em que, para poderem enfrentar vantajosamente os países totalitários, eram obrigados a adotar, na sua organização interna, estruturas estreitamente análogas às do totalitarismo. Foi certamente isto que levou o sr. Hitler a proclamar, em um de seus últimos discursos de desespero, que se a Alemanha podia perder militarmente esta guerra, sempre triunfaria politicamente, contudo. E, por acaso, não haveria mesmo por aí quem acalentasse a esperança de que, pela continuada submissão a regimes para-totalitários, exigidos pelas circunstâncias, as Democracias ainda acabassem por nazificar-se?

O plano anunciado pelo sr. Bernard Baruch veio, porém, desvanecer semelhantes veleidades. Como se sabe, o que caracteriza propriamente o estado totalitário é a absorção de todas as forças sociais, que deixam de ser imanentes na sociedade, e passam para o controle exclusivo da administração pública, que assume um aspecto de entidade demiúrgica, superior e estranha à coletividade, determinando-lhe a existência e modalidade. Ora, tal coisa seria simplesmente impossível sem a prévia absorção das forças econômicas.

Por isso mesmo, os estados totalitários são, antes de mais nada, estados que, ou exercem diretamente uma larga atividade econômica, ou tutelam de tal forma a economia privada que esta já não merece tal nome.

O plano do sr. Bernard Baruch vem precisamente entregar à coletividade norte-americana as forças econômicas, que a guerra obrigou o governo a assumir imediatamente. Deste modo, não teremos na paz futura o prolongamento da economia de guerra, que alguns preconizavam. E isto é substancial para acabar, de uma vez, com os totalitarismos.


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